Retrospectiva 2024: IPAM destaca principais dados e ações do ano

23 de dezembro de 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

dez 23, 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

Por Sara Leal*

Faltando poucos dias para acabar, 2024 é considerado o ano mais quente já registrado e o primeiro em que a temperatura ultrapassará 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Estudos divulgados pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) ajudam a entender esse desfecho.

Em 2024, o Instituto se aproximou ainda mais do Cerrado, bioma que abriga nascentes de oito das doze principais regiões hidrográficas brasileiras. O SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) apontou que 81% do desmatamento em 2023 se concentrou em cinco bacias hidrográficas.

A quinta edição do TransCerrado, jornada científica feita em bicicleta pelo IPAM, investigou a redução de 65% da disponibilidade de água no Rio do Peixe, em Goiás.

Dados publicados pelo RAD (Relatório Anual do Desmatamento) e produzidos por pesquisadores do Instituto mostraram que o desmatamento no Cerrado aumentou 68% em 2023 (superando, pela primeira vez, as perdas registradas na Amazônia), e que a supressão de vegetação em terras indígenas aumentou em 188% no mesmo ano.

A Amazônia brasileira segue sendo foco do Instituto. Apesar da redução no desmatamento, uma nota técnica de abril mostrou que há mais de 80 mil pontos de garimpo no bioma. O desmatamento no Cerrado também caiu no primeiro semestre de 2024, mas a seca e, por consequência, o aumento do fogo, castigou os biomas.

Outra nota técnica, assinada por pesquisadores do IPAM e da Rede MapBiomas, mostrou que a área queimada no Brasil entre janeiro e agosto de 2024 foi 116% maior do que a registrada em 2023. Em setembro deste ano, 5,5 milhões de hectares da Amazônia foram atingidos pelo fogo – um aumento de 196% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Estimativa feita pelo Instituto por meio do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) mostrou que os incêndios que queimaram 2,4 milhões de hectares na Amazônia entre junho e agosto de 2024 emitiram 31,5 milhões de toneladas de CO₂ equivalente. Ainda, um artigo publicado na revista científica Nature revelou a influência do tempo na atividade de incêndios após a mudança no uso da terra.

Como parte do DNA do IPAM, os dados serviram como base para identificar caminhos possíveis. Enquanto aos incêndios ocupavam as manchetes dos jornais, o Instituto lançou a campanha “Foco no Fogo”, desfazendo mitos e propondo soluções para a redução do fogo na Amazônia e no Cerrado. Foi também promovida uma imersão com a imprensa no Baixo Tapajós para explicar sobre fogo e degradação na Amazônia.

Outra imersão, desta vez na Estação de Pesquisa Tanguro – que completou 20 anos em 2024 -, levou jornalistas e produtores de conteúdo para uma visita científica voltada à apresentação de resultados de estudos sobre desmatamento, fogo, água e biodiversidade numa área de transição entre Amazônia e Cerrado.

A seca e as chamas intensificaram o aumento do desmatamento em florestas públicas não destinadas. Para subsidiar políticas públicas que protejam essas áreas, IPAM e Movimento Amazônia de Pé lançaram o Observatório das Florestas Públicas, que divulga dados sobre desmatamento, estoque de carbono e biodiversidade nas florestas públicas da região amazônica.

Em parceria com o Banco Mundial, o Instituto criou uma plataforma capaz de prever o risco de desmatamento e estimar as áreas futuramente desmatadas nos Estados da Amazônia Legal; com a ABRAMPA (Associação Brasileira de Membros do Ministério Público de Meio Ambiente), criou parâmetros que serão utilizados pelo poder Judiciário para quantificar a reparação do dano climático em ações por desmatamento ilegal.

Articulações com o Poder Legislativo, por meio da Virada Parlamentar Sustentável, impactaram 88 propostas no Congresso Nacional nas áreas de meio ambiente, ciência, educação e economia; parcerias com governos da Amazônia Legal, como Maranhão e Pará, contribuíram com os compromissos socioambientais dos Estados.

Na COP16 da Biodiversidade, o IPAM firmou parceria com o MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) para fortalecer a gestão de floresta públicas, além de se tornar membro do GLF (Global Landscapes Forum). Na COP29 do Clima, assinou um Memorando de Entendimento com o ADBI (Instituto do Banco de Desenvolvimento da Ásia) para impulsionar a ação climática no Sul Global.

Base do Instituto, a conexão com o chão continuou sendo norte para cada ação. Foram diversos os eventos, debates, capacitações e mutirões para apoiar a agricultura familiar, fundamental para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável. Ainda, foi lançado um aplicativo de ATER (Assistência Técnica Rural) para atender produtores em áreas de difícil acesso da Amazônia.

Pesquisadores do IPAM e parceiros elencaram desafios para uma bioeconomia inclusiva na Amazônia no livro “Bioeconomia para quem? Bases para um Desenvolvimento Sustentável na Amazônia”.

O CONSERV protegeu mais de 24 mil hectares de vegetação nativa, provando que é possível reduzir o desmatamento legal por meio de compensação financeira a médios e grandes produtores rurais que mantêm conservado o excedente de vegetação nativa. Além da remuneração, o projeto iniciou uma nova fase que prevê apoio às boas práticas no uso da terra e melhorias para aumento da produtividade.

Para fortalecer povos indígenas e sua histórica contribuição para o equilíbrio climático e para a proteção da sociobiodiversidade, o IPAM promoveu cursos sobre acesso a benefícios e técnicas de proteção territorial. O SOMAI, ferramenta de monitoramento indígena, completou dez anos de existência em 2024 com 761 alertas de crimes ambientais registrados em terras indígenas da Amazônia.

Documentário produzido pelo projeto Amazoniar, do IPAM, “O chamado do cacique: herança, terra e futuro” celebra a liderança indígena na defesa dos direitos humanos. A iniciativa também lançou uma animação que conta a jornada de uma comunidade amazônica para proteger seu território e preservar sua cultura em uma floresta pública ainda não destinada; além de um guia que reúne informações sobre como obter a Concessão de Direito Real de Uso.

Para fechar o ano, a 6ª edição do PROTEJA Talks reuniu em Manaus (AM) representantes de movimentos indígenas, do setor judiciário e pesquisadores para tratar dos desafios e soluções para a redução de crimes ambientais. O evento também foi palco do lançamento do documentário “Manaus Extrema”, produzido pelo IPAM, que retrata os impactos da seca do Rio Negro em 2023.

Tudo isso só foi possível graças à união de quem, como nós, acredita em um futuro em que a vida possa coexistir de maneira justa e equilibrada.

O IPAM agradece a todos os seus colaboradores e parceiros, fundamentais para os trabalhos desenvolvidos na Amazônia e no Cerrado. Os desafios ainda são muitos, mas, juntos, somos mais fortes e vamos mais longe.

Que 2025 traga um ambiente cada vez mais harmônico para encontrarmos soluções para os biomas, para as pessoas, para o clima e para o planeta.

 

*Coordenadora de Comunicação do IPAM, sara.pereira@ipam.org.br



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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