Por Mariana Abuchain*
Pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), junto a 32 autores e instituições acadêmicas e de pesquisa do Norte, Sudeste e Nordeste, se uniram para elencar desafios para uma bioeconomia inclusiva na Amazônia. O estudo teve como resultado o livro Bioeconomia para quem? Bases para um Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, que será lançado, nesta quarta-feira (19/06), no Auditório Capacit da UFPA (Universidade Federal do Pará), em Belém.
O artigo “Bioeconomia Amazônica e Cidadania”, produzido por Olivia Zerbini, Patrícia Pinho e Ariane Rodrigues, pesquisadoras do IPAM, e pelo pesquisador sênior, Paulo Moutinho, aprofunda os pilares da bioeconomia na Amazônia propostos pelo IPAM – infraestrutura, governança, inovação, acesso à tecnologia e colaboração coletiva, entre outros – e destrincha a perspectiva da cidadania amazônica, onde destacam quatro pontos chave para uma bioeconomia justa, equitativa e sustentável: desmatamento zero; inclusão e participação dos povos originários e seus saberes; diversificação dos modos de produção; e repartição equitativa dos benefícios gerados pela bioeconomia.
Cidadania, conhecimento e tecnologia
Olivia Zerbini destaca a relevância de relacionar bioeconomia e cidadania. “Isso foi crucial para identificar o potencial de ambas, quando uma série de condições se unem para consolidar um modelo mais sustentável social, ambiental e economicamente para a região.”
A participação do IPAM no livro mostra a possibilidade de uma economia com floresta viva, através da ciência com o protagonismo dos povos indígenas, comunidades tradicionais, representantes da agricultura familiar e todos aqueles que vivem, fazem e implementam a bioeconomia na Amazônia.
De acordo com a pesquisadora, o grande destaque é entender como a bioeconomia e a cidadania na região se retroalimentam e podem se fortalecer à medida que se desenvolvem. “O enfoque foi a repartição equitativa de benefícios, pois, apesar de ter legislação e ser algo difundido, é difícil colocar em prática. Um dos gargalos da bioeconomia é justamente agregar valor aos produtos garantindo que os primeiros elos das cadeias, os negócios comunitários, consigam aumentar a renda.”
Para entender melhor, os pesquisadores utilizam como exemplo emblemático a produção do açaí. “A gente percebeu que o produtor de açaí da Amazônia hoje consegue aumentar sua renda, mas ainda é muito discrepante. As pessoas pagam preços altíssimos por açaí fora do Brasil e agora até no próprio Brasil, mas isso não reflete como deveria no bolso do produtor. Precisamos de uma estrutura e um arcabouço institucional para equilibrar mais essa situação”, explica Olivia.
O ponto de discussão do estudo é como essa bioeconomia pode se fortalecer na região através da cidadania amazônica e como a cidadania amazônica pode contribuir no desenvolvimento dessa bioeconomia, sobretudo através de um processo de construção coletiva que una os saberes tradicionais aos saberes convencionais, otimize as técnicas produtivas, garanta a sustentabilidade dos processos e afirme o protagonismo dos negócios comunitários da região. “É preciso fortalecer a governança e o debate nos territórios”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão de Sara Leal