EUA fora do Acordo de Paris eleva responsabilidade do Brasil na COP30

20 de janeiro de 2025 | Opinião

jan 20, 2025 | Opinião

Os EUA estarão fora do Acordo de Paris pela segunda vez, em medida anunciada pela Casa Branca nesta segunda-feira, 20. A data marca a cerimônia de posse do presidente eleito Donald Trump e o retrocesso na política climática do país, em contraste com medidas impulsionadas pelo IRA (Inflation Reduction Act), no governo de Joe Biden.

André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), avalia que a retirada dos EUA é “uma péssima notícia para o clima” e reforça a necessidade de ambição dos demais países para reduzir as emissões independentemente da participação norte-americana na meta climática global.

“Tem uma diferença entre o que está acontecendo agora, em 2025, e o que foi em 2017. Naquele ano, quando Donald Trump fez a retirada dos EUA do Acordo de Paris, empresas e Estados subnacionais se uniram na iniciativa ‘We are all in’, ou seja, ‘nós continuamos dentro [do Acordo de Paris]. Boa parte da sociedade norte-americana levantou a bandeira de que continuaria no Acordo de Paris, à revelia da decisão do governo federal na época. Mas a gente não viu esse movimento agora, pelo contrário: há setores, como o financeiro, anunciando que vão baixar a barra das medidas de compliance com as questões climáticas dos seus investimentos”.

“Estamos diante de um agravamento dos impactos das mudanças climáticas, com aumento de temperatura e eventos extremos amplificados. A desidratação dos EUA em relação às metas climáticas é uma péssima notícia para o clima, para uma agenda já em atraso e com pouca ambição. E no momento em que deveríamos aumentar essa ambição, cerca de 20% a 25% das emissões do planeta Terra, vindas dos EUA, saem da mesa de discussão”.

Os EUA são os maiores emissores históricos de gases do efeito estufa, responsáveis por cerca de 20% a 25% do dióxido de carbono liberado na atmosfera desde 1950 – emissão associada com um aquecimento de 0,2°C na temperatura global.

“Por outro lado, temos que ter esperança. E essa esperança deve se traduzir em muito trabalho. A responsabilidade de trabalhar 100% das emissões recai sobre os demais países, sobre a Europa, China, outros dois grandes emissores junto aos EUA, também países em desenvolvimento, com o Brasil à frente”.

“A boa notícia, no caso do Brasil, é que nossa agenda de combate às mudanças climáticas está relacionada com a redução do desmatamento, e conseguimos diminuir, no ano passado, o desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Em meio a este ambiente de incertezas, o Brasil desponta como uma liderança que está conseguindo, de fato, reduzir as suas emissões. Isso traz para nós a esperança que o Brasil entre com autoridade na COP30 e convoque os países que não aderiram a esse movimento de Trump a seguirem e aumentarem suas ambições para alcançarmos os nossos objetivos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas o mais rápido possível”.

O Acordo de Paris foi assinado por 196 países e completa dez anos em 2025 tendo os EUA como único país a se ausentar do compromisso. A saída ocorre após o ano mais quente já registrado na história, com temperaturas 1,6°C acima da média pré-industrial.

Foto de capa: Incêndios em Los Angeles, no Estado norte-americano da Califórnia, em janeiro de 2025 (Foto: Kit Karzen/Alamy Stock Photo)



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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