Os parceiros do IPAM têm nome e sobrenome

28 de maio de 2025 | IPAM 30 anos, Notícias

maio 28, 2025 | IPAM 30 anos, Notícias

Maria Garcia*

Conservar a Amazônia e o Cerrado vai muito além de preservar a vegetação nativa. Esses espaços abrigam pessoas que, por décadas ou até séculos, dependem dos recursos naturais para sua subsistência e a de outros.

Desde o início, o IPAM entende que conservar o meio ambiente também significa construir, com quem vive nesses territórios, alternativas sustentáveis que reforçam a capacidade da natureza em gerar valor econômico, em vez de representar uma ameaça.

Conheça duas histórias de agricultores familiares que, em parceria com o IPAM, transformaram sua relação com a produção agrícola.

 

O fogo sumiu – assim como a incerteza

 

“Vai chegar uma hora que não vamos poder nem mais queimar o lixo no quintal”, disse um dos vizinhos para a agricultora familiar Felisbela Costa, em um assentamento no município de Pacajá (PA). A prática de usar o fogo para limpar o pasto é comum na região, uma ferramenta passada por gerações de produtores rurais.

Quando pesquisadores do IPAM informaram à comunidade que abandonar a técnica tradicional era condição necessária para aderir ao PAS (Projeto de Assentamentos Sustentáveis na Amazônia), em 2014, a desconfiança dos moradores locais deu lugar à resistência em adotar a medida.

Mudanças de ares exigem, no entanto, mudanças de atitude. Em décadas passadas, queimar pequenas áreas de roçado na Amazônia poderia não causar danos em grande escala. A floresta, ainda úmida e menos impactada pelas mudanças climáticas, sabia absorver o calor e conter o fogo.

Com a vegetação cada vez mais seca, qualquer brasa que escape para áreas de floresta agora pode se transformar em incêndio devido à baixa umidade, ao vento, ao desmatamento e às consequências da degradação, o que facilita para as chamas se espalharem.

Felisbela e outros agricultores familiares pagaram para ver diante do desafio de aumentar a produção sem desmatar ou utilizar o fogo. Ela já tinha deixado a queima para limpar a área e queria contar com o apoio para recuperar as APPs (Área de Preservação Permanente) que estavam há muito tempo desmatadas em seu lote. O mapeamento, seguido da entrega de insumos para o restauro, foi o início de uma relação de dedicação e estima entre a agricultora e o IPAM, que perdura até os dias atuais.

Dois anos depois, durante o Projeto Negócios Familiares Sustentáveis (2016), o IPAM deu suporte à ideia dela e de outros produtores em construir uma feira livre em que eles poderiam escoar a produção. Enquanto o instituto ajudou na compra de tendas, mesas e equipamentos, Felisbela se encarregou de mapear entre os colegas os produtos que seriam ofertados para a cidade de Pacajá.

A parceria de longa data entre Felisbela e o IPAM foi acompanhada de resultados para fortalecer a agricultura familiar na região: a fundação e certificação da Cooperativa de Produtores Familiares Rurais de Pacajá, na qual Felisbela foi presidente por dois mandatos; a aquisição de equipamentos para a produção agrícola na cooperativa, que envolveu computadores, fogão, geladeira e caminhonete; a distribuição no município de uma agroindústria de polpa de fruta e de uma casa de farinha; programas educativos, envolvendo ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) e cursos de negócios e manipulação de alimentos, entre outras ações.

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No lote onde vive, Felisbela e seus dois filhos aproveitam a área totalmente produtiva a partir da implementação de um sistema agroflorestal no lugar onde, antes, havia desmatamento. Ela garante que essa nova zona de floresta fortalece a diversidade da sua produção: hoje ela consegue colher ao menos 13 tipos de frutas para fazer polpa, por exemplo.

O novo formato agrícola contribuiu não apenas para o meio ambiente, mas também para o bolso dos agricultores, segundo a produtora rural. “Tinha agricultores que pediam cesta básica para a prefeitura. Hoje, eles estão produzindo e se sustentando sozinhos. Antes eu sequer tinha uma moto. Agora, eu tenho uma moto e um carro só com o dinheiro da feira livre que construímos juntos”, relembra.

A agricultora conta que leva o nome do IPAM para onde puder, pois só trouxe benefícios para o município. “O IPAM trabalhou em Pacajá e na região como um todo. Nos abraçou como uma família e só nos trouxe coisas boas. Enxergamos agora pessoas mais ambientalmente conscientes, vendo que não precisam mais queimar ou desmatar para produzir. Os beneficiários estão multiplicando essa nova forma de fazer”, comenta Felisbela, que considera os próprios pesquisadores como seus amigos, bem-vindos a qualquer dia em sua residência.

O PAS contribuiu para um aumento de 135% na renda bruta de 2 mil famílias, como a de Felisbela. Saiba mais sobre a atuação do IPAM na produção sustentável.

 

 

Uma esperança doce feito polpa de fruta

 

 

O agricultor familiar Genivaldo Fernandes começa a rotina às 6h em um lote na zona rural do município de Novo Repartimento, no Estado do Pará. Sua principal função é esperar a orientação da terra para traçar seus próximos passos.

Um dia é a recuperação da cerca; o outro, preparar as mudas para o cultivo. Necessidades e caprichos da terra são prontamente atendidos por Genivaldo, que leva, como um sacerdócio, o cuidado do solo onde há mais de 50 anos cultiva frutas como acerola, goiaba, graviola, abacaxi e maracujá.

Ser devoto à terra, no entanto, é uma aposta na vida. Muitos dos seus vizinhos já partiram ao enfrentar estiagens mais duradouras e a falta de oferta econômica para suas colheitas. Outros se dedicaram à conversão de pastagem e à venda de gado. Contudo, Genivaldo se vale da fé que tem na venda de suas polpas de fruta para garantir a renda. “Muitos têm deixado a terra por falta de opção. Eu não tenho outra opção fora daqui, então eu fico”, relata o produtor.

A fé se ancora também no selo de produção artesanal vegetal que, conquistado a partir de esforços com apoio do IPAM e parceiros em 2023, atesta a seu empreendimento boas práticas de manuseio e fabricação.

O agricultor passou a disputar licitações e garantir que municípios e governos comprassem sua produção para destinar a programas de merenda escolar como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), por exemplo.

Beneficiários de projeto recebendo agroindústria de polpa de frutas, no Pará. Foto: Maria Garcia/IPAM

A parceria de Genivaldo com o IPAM também rendeu uma agroindústria de polpas de frutas equipada com um freezer e uma despolpadeira industrial. Ele passou a produzir mais e, com o selo, não dependia mais de outras pessoas para ter quem absorvesse sua produção. A estrutura beneficia, além dele, mais quatro famílias da região.

Se em cada polpa embalada pela agroindústria usada por Genivaldo se concentra o doce das frutas, também vem ao paladar o investimento em uma agricultura sustentável.

“No plantio, o poder econômico é pequeno e demora um pouco para dar resultado. Mas com projetos assim, a gente vai se animando e vendo que é possível sobreviver na zona rural. A partir da agroindústria, a gente também começa a enxergar uma renda a mais”, anima-se o agricultor.

Ao menos 19 agroindústrias como a de Genivaldo foram entregues em 12 municípios do Pará. Em cada localidade, o IPAM apoiou a elaboração de planos municipais para o desenvolvimento rural sustentável, em conjunto com as comunidades.

 

Foto de capa: Thiago Forest/IPAM

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