Por Sara Leal*
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Foi em Brasilândia, periferia da zona norte da cidade de São Paulo, que nasceu uma das mais conhecidas ativistas climáticas da atualidade. Com seus 28 anos, Amanda Costa é jovem embaixadora da ONU (Organização das Nações Unidas) e, em 2021, entrou para a lista #Under30 da revista Forbes.
Amanda cresceu em uma região marcada por enchentes, falta de saneamento e poucas áreas verdes, o que, comenta, moldou sua percepção de mundo e despertaria, mais tarde, seu ativismo socioambiental.
Ainda criança, ao viajar com os pais para Praia Grande (SP), caminhava pela areia junto à mãe carregando uma sacolinha onde colocavam os lixos que encontravam. “Mesmo sem saber o que era justiça climática ou ativismo ambiental, meu corpo já sentia que cuidar do planeta era urgente”, descreve Costa.
Chegou a ser atleta de vôlei na adolescência, mas, em 2017, seu destino tomou outro rumo: foi selecionada para uma bolsa da World YMCA (Young Men’s Christian Association) para participar da COP23 (Conferência das Partes sobre Clima) em Bonn, na Alemanha.
“Ao chegar lá, vivi um choque ao me ver cercada por homens brancos, engravatados, discutindo como a crise climática iria impactar as periferias. Falavam como se nós não tivéssemos voz, como se precisássemos que alguém nos explicasse o que é sentir na pele a ausência de políticas públicas, a violência e o racismo ambiental”, relembra ela.
A experiência, segundo ela, a fez compreender que o desafio não era só o clima, mas também quem ocupava os espaços de poder e quem era sistematicamente silenciado. Decidiu reagir a essa desigualdade, construindo um ativismo que partisse do território, articulasse saberes locais e buscasse justiça climática com protagonismo popular.
Em 2019 termina sua graduação em Relações Internacionais e, por meio de um edital da United People Globe Sustainability Leadership, cria o projeto Perifa Sustentável.
“Eu não me sentia representada pelos tomadores de decisão e, ao mesmo tempo, sentia uma grande dificuldade de comunicar a pauta climática na minha quebrada, com os meus familiares, com os meus amigos de igreja. Portanto, a ideia era criar uma ponte entre o global e o local, conectar o que estava acontecendo nos fóruns multilaterais de tomadas de decisão com os que são impactados pela crise climática nas periferias e comunidades”, explica a ativista.
Em 2021, o que antes era um projeto se torna o Instituto Perifa Sustentável. Hoje, a organização tem como missão a democratização da pauta climática nas periferias, comunidades e favelas por meio de três eixos principais: educação, comunicação e incidência política com foco em clima.
De lá para cá, Amanda já representou parte da juventude brasileira em quatro Conferências do Clima da ONU, nas quais desenvolveu habilidades como incidência política na agenda climática e educomunicação.
“Estamos em um momento da história onde não dá mais para a gente pensar em novas tecnologias e propor soluções que não estejam conectadas com um debate de desenvolvimento sustentável que diminua as desigualdades sociais. Esse é o futuro que acredito e busco construir todos os dias. Mas para que ele aconteça, a gente precisa que cada pessoa se encontre, se enxergue e se posicione como agente de transformação, uma pessoa que está colaborando para a criação desse futuro realmente sustentável”, finaliza.
*Coordenadora de Comunicação do IPAM, sara.pereira@ipam.org.br