Karina Custódio*
Há 16 anos, Gabriela Savian dedica a maior parte das horas do seu dia ao esforço de apoiar as gestões governamentais a incidir para ampliarem a proteção da Amazônia. Desde 2013 ela faz isso através da atuação no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), onde hoje ocupa o cargo de diretora de Políticas Públicas.
Engenheira agrônoma, Savian alia sua bagagem acadêmica à experiência prática adquirida ao longo dos anos para contribuir no desenvolvimento e implementação de políticas públicas baseadas na ciência e voltadas ao desenvolvimento sustentável da região.
Um dos pilares de seu trabalho hoje é a continuação do legado do IPAM na construção do mecanismo financeiro de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) enquanto políticas estruturantes e de longo prazo para redução de emissões de GEEs (Gases de efeito estufa). Incidindo junto ao Legislativo brasileiro, a diretora colaborou em componentes da elaboração do SBCE (Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões), que pavimenta o caminho para obtenção de recursos para conservação por meio de venda de certificados de carbono.
Seu trabalho também promoveu apoio técnico e estratégico aos governos estaduais, como o do Pará, no arranjo de suas políticas climáticas de maneira mais robusta. Além de promover formações e diálogos com servidores e lideranças governamentais, a diretoria liderada por Savian garantiu a participação da sociedade civil na edificação do REDD+ Jurisdicional. Incluindo apoio no desenvolvimento do marco jurídico, na criação de instrumentos de monitoramento das reduções de emissões e no auxílio a realização de consultas públicas para definir a inclusão e a repartição de benefícios entre os atores locais.
Savian reforça que o trabalho do IPAM junto às políticas públicas é alicerçado na pesquisa: “No desenho da política pública, a gente precisa ter ciência para entender qual é o problema que a gente está enfrentando. Trazer isso em termos de dados e informações para que a política pública seja desenvolvida de maneira eficiente e voltada ao alcance de resultados estratégicos para a Amazônia. É isso que a gente se empenha em fazer no IPAM”.
A agenda do REDD+ na diretoria também inclui o desenvolvimento de estudos que guiam a implementação do mecanismo no Brasil, de forma articulada para que a proteção aos direitos de povos indígenas e de comunidades tradicionais esteja garantida nesse processo.
Políticas para a floresta
Savian cita como um dos principais resultados estratégicos do seu trabalho o apoio prestado ao Consórcio da Amazônia Legal, uma autarquia que reúne os nove Estados da região. O primeiro plano estratégico da iniciativa, por exemplo, teve o apoio técnico do IPAM.
Através do suporte ao longo dos anos a autarquia tem levado o debate de políticas climáticas regionais da Amazônia ao nível internacional. Desde 2019, com apoio do IPAM, o Consórcio esteve presente em uma COP (Conferência das Nações Unidas sobre Clima). O Instituto tem auxiliado o Consórcio na elaboração de estratégias para as COPs, garantindo sua presença e relevância no evento. Para a primeira COP que será realizada na Amazônia, em novembro, não é diferente: o Consórcio contou com a expertise do IPAM para definir seus temas prioritários.
Os desafios no caminho
Influenciar quem está no poder não é uma missão simples. Gabriela Savian faz isso tendo que conciliar a maternidade com reuniões e viagens pelo Brasil e pelo mundo. “Em muitos momentos eu estava acompanhando grandes discussões e, ao mesmo tempo, de olho no celular preocupada com o cuidado com o meu filho”, narra.
Quem guia seus planos para o futuro é o outro desafio: a continuidade das políticas conquistadas nos próximos anos.
“É uma missão trabalhar o processo de gestão de conhecimento de políticas públicas que possam ser absorvidas por uma governança fortalecida, seja ela qual for. Para que essas políticas possam ter continuidade na sua implementação ao longo do tempo. E não tenhamos retrocessos com possíveis mudanças no pós eleições de 2026”.
Analista de comunicação*