COP28: Ciência deve convergir as diferentes visões sobre conservação

10 de dezembro de 2023 | Notícias

dez 10, 2023 | Notícias

Por Sara R. Leal*

O painel “As Crônicas Amazônicas: Histórias de Conservação, Colaboração e Mudança contadas pelas partes interessadas”, realizado neste sábado (9) no Espaço Woodell da COP28, em Dubai, reuniu diversos atores da sociedade para trazerem seus olhares e experiências em busca de soluções para a crise ambiental e climática.

Em sua participação, Mauro O’de Almeida, Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, trouxe o prejuízo econômico do desmatamento. “Derrubar árvores ilegalmente não significa apenas perder a oportunidade de sequestrar carbono, mas perda de recurso fiscal. Há quem justifique o garimpo ilegal dizendo que ele cria oportunidades de renda: mentira. O lucro fica para um grupo pequeno, não beneficia a sociedade em geral”.

Liège Vergili Correia, diretora de Sustentabilidade JBS Brasil, afirmou que o setor privado tem entendido cada vez mais sobre como o desmatamento prejudica a produção e a imagem do Brasil para comércio de seus produtos. “Não se trata de ser a favor ou contra: não podemos mais desmatar no país. Para isso, é preciso criar mecanismo e fundos de investimento para preservar as áreas que vão além da lei”.

Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM e do Woodwell Climate Research Center, que moderou o painel, complementou. “Árvore não lê Código Florestal. Os malefícios vêm independente se ela cai legal ou ilegalmente”.

Marcilene Guajajara, coordenadora da Coapima (Coordenação das organizações e articulações dos povos indígenas do Maranhão) do Maranhão diz que o olhar dos povos indígenas para a árvore não é pela lente da economia, mas da vida. “Nós temos uma conexão real com a natureza, não só pensando nela como dinheiro. É preciso considerar as pessoas que vivem na floresta”, reforçou. Onesphore Mutshali, professor na universidade de Kinshasa, no Congo, trouxe a perspectiva dos povos e comunidades tradicionais da região que, segundo ele, possuem resistência com termos técnicos relacionados à agenda ambiental, como mercado de carbono, por não fazerem parte de sua cultura e vivência.

Diante de perspectivas diversas sobre o tema, Izabela Teixeira, Ph.D. em Planejamento Energético e ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil, afirmou que a ciência deve entrar na equação para convergir os diferentes olhares. “Os povos indígenas falam a partir da floresta, já os setores privado e público observam de dentro para fora. A meu ver, a ciência deve ter uma visão ampla e olhar de cima não só para constatar os problemas e fazer recomendações, mas como ator político que conecte os pontos de vista, respeitando os diversos conhecimentos, para construir uma convivência harmoniosa em prol da produção de vida. Não dá para enfrentar os processos disruptivos pelos quais já estamos passando de forma segmentada”.

 

*Coordenadora de comunicação do IPAM



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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