Reunidos em Brasília esta semana, cerca de 30 pesquisadores especialistas em cerrado de todo o Brasil debateram os ajustes necessários para a terceira coleção do MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil), iniciativa do Observatório do Clima em colaboração com 18 instituições, entre universidades, ONGs – entre elas o IPAM – e empresas de tecnologia.
Com expectativa de entrega no primeiro semestre de 2018, essa fase trará o mapeamento dos biomas brasileiros desde 1985, ampliando o levantamento já disponível, de 2000 a 2016, e dessa forma contando a história recente de ocupação do solo no Brasil. O cerrado, por sua extensão – é o segundo maior bioma do país – e complexidade – especialmente na alta sazonalidade que apresenta, com variações profundas na cobertura vegetal ao longo do ano –, é um dos mais desafiadores.
O workshop “Mapeamento e dinâmica do uso e cobertura da terra do bioma Cerrado – MapBiomas – Oportunidades e Desafios”, realizado na Universidade de Brasília, foi o primeiro encontro dessa magnitude a nível nacional, reunindo pesquisadores de campo e representantes das instituições envolvidas. Para Ane Alencar, diretora do IPAM e coordenadora do trabalho com cerrado no MapBiomas, é fundamental ter a visão de quem entende na prática a dinâmica da vegetação do bioma e saber como é possível incorporar esse conhecimento no mapeamento. “Essa troca de conhecimento e experiência é crucial para aperfeiçoar a coleção três do projeto”, afirma.
A paisagem do cerrado muda bastante entre as estações chuvosa e seca, e a compreensão desses dois períodos e o balanço entre eles é um dos maiores desafios na mesa dos pesquisadores. “Esse é um cuidado que estamos tendo e por isso chamamos as pessoas que entendem muito dessa dinâmica para ajudar a gente”, explica Alencar.
Só o olhar de quem está permanentemente no campo pode dar a dimensão precisa dos processos de degradação e regeneração, por exemplo, uma vez que as imagens de satélite não mostram essas variações tão claramente quanto no caso de um sistema florestal típico.
“Só no campo é possível identificar a entrada de invasores, as mudanças na composição, se espécies de áreas protegidas desapareceram e aí em diante. Enquanto o desmatamento converte, a degradação come pelas beiradas, uma forma muito insidiosa de perda de integridade ecológica”, explica a professora da UnB Mercedes Bustamante, especialista em ecologia de ecossistemas.
Ampliando horizontes
O debate iniciado no evento refina a metodologia aplicada até aqui e coloca em perspectiva detalhes que farão toda a diferença no desenho de políticas públicas, além de oferecer um horizonte novo para a pesquisa científica brasileira.
Para Bustamante, abarcar em uma única coleção um período de quatro décadas é um avanço considerável sobre a anterior, que oferecia recortes de tempo específicos, com lapsos entre uma base de dados disponível e outra. “O caminho é esse mesmo, ser bastante transparente e buscar o apoio da comunidade científica. O potencial dessa construção colaborativa é enorme”, afirma.
O coordenador de mapeamento e monitoramento da ONG The Nature Conservancy, Mario Barroso, uma das instituições parceiras no MapBiomas, também acredita que esse projeto vai mudar os paradigmas de mapeamento no Brasil e na América do Sul. “Estamos em um processo de aprendizado e essa reunião melhora a produção de mapas e das séries temporais com dados ainda mais confiáveis. A coleção três mudará a forma de se fazer mapeamento no Brasil.”
As duas primeiras coleções do MapBiomas estão disponíveis no site oficial do projeto.