Hidrelétricas podem aumentar desmatamento para 3,2 milhões de hectares no Tapajós

5 de dezembro de 2015 | COP 21, Notícias

dez 5, 2015 | COP 21, Notícias

Um estudo conduzido pelo IPAM mostra que, se as hidrelétricas previstas pelo governo federal para a bacia do rio Tapajós forem construídas, o desmatamento no coração da Amazônia pode crescer até 25%, atingindo 3,2 milhões de hectares acumulados nesta região.

Até 2013, a bacia do Tapajós já havia perdido 19% de sua floresta, o que equivale a mais de 15,6 milhões de hectares. Entre os cenários que o IPAM rodou para estimar o impacto da construção das dez hidrelétricas na bacia previstas no Plano Decenal de Energia 2014, a área derrubada pode atingir 2,7 milhões de hectares, no melhor cenário, e 3,2 milhões de hectares, no pior cenário até 2030.

Caso as UCs da região não existissem, o desmatamento acumulado poderia chegar a 4,6 milhões de hectares, no pior cenário, até 2030. A diferença entre os cenários revela o papel das áreas protegidas, incluindo terras indígenas, como um colchão de proteção das florestas.

“Algumas dessas hidrelétricas são planejadas em áreas altamente vulneráveis ao desmatamento, sem destinação e ainda cobertas por floresta”, afirma Ane Alencar, diretora adjunta do IPAM e autora do estudo. “Essas são áreas propensas à invasão e à grilagem. Ou seja, as hidrelétricas serviriam de gatilho para o desmatamento.”

Nesta semana, o jornal “O Estado de S.Paulo” denunciou a existência de uma minuta de medida provisória que autorizaria o avanço de hidrelétricas em terras indígenas, em troca de uma compensação financeira. Em Paris, uma cópia dessa minuta foi entregue pelo cacique Raoni ao presidente da França, François Hollande, enquanto o país recebe a 21ª Conferência do Clima (COP 21). Uma parte das hidrelétricas previstas pode afetar diretamente os territórios indígenas do sudoeste do Pará e do norte do Mato Grosso.

“Essa compensação nunca chega. E esse nem é o maior problema: o impacto que essas hidrelétricas causam não tem dinheiro que pague”, afirma Francinara Soares, representante da COIAB na COP21.

A construção de uma hidrelétrica na Amazônia não pode ser dissociada de seus efeitos à floresta e à população local. Há abertura de novas estradas e um crescimento populacional repentino associado à obra, que costuma provocar especulação imobiliária e aumento do preço de bens e serviços. Neste estudo, os autores consideraram que 20% dessas pessoas devam permanecer no local, em atividades que levam à conversão do solo.

Além disso, a existência das hidrelétricas pode pressionar áreas protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas, levando a sua redução ou mudança de grau de proteção, o que aumentaria o efeito negativo sobre a floresta. “Podemos observar esses impactos já na usina do Teles Pires, que começou a ser construída”, diz Alencar.

Os planos do governo brasileiro para a bacia do rio Tapajós incluem usinas no Mato Grosso e Pará, entre as quais sete megahidrelétricas, cada uma com capacidade para gerar mais de mil megawatts. O PDE só traz dez hidrelétricas, mas há planos de outras 32 usinas para a região, com potencial somado de geração de 28 mil MW.

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