Jovens indígenas responsáveis pelas atividades de monitoramento nas terras indígenas (TIs) Baú e Menkragnoti participaram de um curso entre os dias 28/11 e 02/12 com pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Dhemerson Conciani, pesquisador na instituição e responsável pelo mapeamento de vegetação nativa do Cerrado no MapBiomas, e Ray Alves, pesquisador no núcleo indígena do IPAM, apresentaram as possibildiades de uso das plataformas MapBiomas e SOMAI (Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena), bem como do aplicativo ACI (Alerta Clima Indígena), para o monitoramento dos territórios.
A proposta do curso foi unir tecnologias ancestrais de conhecimento da terra com ferramentas de geotecnologia de última geração, com o objetivo de facilitar o cruzamento de dados colhidos em campo pelos indígenas com imagens de satélite e de fortalecer a vigilância e o monitoramento territorial do povo Mebengokre sobre o seu território. Também como resultado, a iniciativa espera contribuir para manter em pé as florestas nas TIs e no Pará. Ao todo, participaram 14 jovens das aldeias associadas ao Instituto Kabu.
“Os dados históricos permitem que os jovens tenham também uma referência visual do que aconteceu no território, reafirmando o que é transmitido oralmente pelos anciões”, disse Dhemerson Conciani, pesquisador no IPAM e no MapBiomas.
O SOMAI, desenvolvido pelo IPAM em parceria com organizações indígenas como a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), é uma plataforma virtual de acesso livre, que funciona como uma biblioteca de dados geográficos e científicos para que pessoas indígenas insiram, pesquisem e analisem informações sobre seus territórios. A nova versão do SOMAI foi lançada durante a COP27.
“As ferramentas vão ajudar no monitoramento porque tem coisas que nossos olhos não vêem,” comentou Akranhire Mekragnotire, da aldeia Kubenkokre, participante do curso. Ele ressaltou a importância da fiscalização remota: “É bom poder fazer sem depender de ninguém”.
Também desenvolvido pelo IPAM, em parceria com Conselho Indígena de Roraima, Instituto Raoni e COCALITIA, o ACI é um aplicativo gratuito para celular que possibilita que usuários que vivem em terras indígenas criem seus próprios alertas para proteger os territórios contra possíveis ameaças. No ACI é possível registrar alertas de atividades que violam o território, por exemplo, desmatamento, garimpo, queimadas, pesca e caça ilegal. Esses alertas criados no ACI registram coordenadas, fotos e áudios para agilizar a coleta e o compartilhamento das informações.
“Sabemos que o acesso à internet é limitado às aldeias, por isso o aplicativo foi planejado para funcionar offline. Os indígenas podem coletar todos os dados sem se preocupar com conexão. Além dos alertas, podem também registrar áreas de uso tradicional do seu povo, como locais sagrados, áreas de caça e coleta, trilhas e rotas de uso tradicional, e outras informações que considerem importantes, podendo contribuir para os esforços de etno-mapeamento e gestão territorial”, explicou Ray Alves, pesquisador no IPAM.
Assim que celulares ou tablets se conectam à internet, os dados coletados em campo são enviados automaticamente à plataforma SOMAI, juntando as informações coletadas pelo próprio povo Mebengokre com a base de dados da plataforma. No SOMAI, indígenas podem realizar a gestão dos dados coletados e gerar relatórios de forma rápida e automatizada, acelerando o processo de formalização de possíveis denúncias.
“Como as duas TIs estão em fase de realizar seus Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), o SOMAI será mais uma ferramenta para auxiliar no mapeamento das áreas de uso, incluindo as sagradas, dentro do planejamento do PGTA”, observou Luis Carlos Sampaio, técnico do Instituto Kabu, que organizou a oficina e que está envolvido no processo de elaboração dos PGTAs pelas aldeias.
Para o pesquisador Dhemerson Conciani, a combinação das ferramentas de geotecnologia com o trabalho de campo que os indígenas já realizam nas bases de monitoramento vai ampliar ainda mais a capacidade de detecção precoce de ilícitos nas TIs. Como o MapBiomas, que é uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia, que produz mapeamentos da cobertura e uso do solo do Brasil com dados a partir de 1985.
“Os indígenas já realizam trabalhos na proteção de florestas. O que buscamos com essa troca de experiências é facilitar a detecção e acelerar o processo de documentação e comunicação das atividades ilegais, para a fortalecer os territórios indígenas”, avaliou Conciani.
A oficina teve apoio financeiro do Funbio/Fundo Kayapó e contou com suporte do IPAM e do MapBiomas.