Por Sara R. Leal*
A dissertação “O aplicativo Alerta Clima Indígena: digitalização das Terras Indígenas à luz da Ecologia da Comunicação” venceu o Prêmio Compós de Teses e Dissertações Eduardo Peñuela 2022, iniciativa promovida pela Compós (Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação) e que busca incentivar a qualidade e a visibilidade da produção científica no campo da comunicação.
A tese de mestrado foi apresentada pela estudante Clarissa da Silva Rayol ao Programa de Pós-graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia da UFPA (Universidade Federal do Pará), com orientação da professora Dra. Luciana Miranda Costa.
Criado em 2017, o ACI (Alerta Clima Indígena) é um aplicativo de celular gratuito desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com o CIR (Conselho Indígena de Roraima), a Cocalitia (Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Arariboia) e o Instituto Raoni. Seu objetivo é ampliar a difusão de informações sobre incêndios, desmatamento, chuvas e temperatura nas TIs (terras indígenas) da Amazônia brasileira.
Disponível para iOS e para Android, a ferramenta possibilita que os usuários que vivem nessas áreas criem seus próprios alertas para proteger e monitorar seus territórios contra ameaças iminentes. Também é possível mapear os usos tradicionais colocados em prática na TI, como roça, pesca, caça e coleta, facilitando a gestão territorial.
As informações podem ser incluídas no aplicativo por meio de fotos, textos e áudios, sem necessidade de internet, com indicação da localização exata do ponto onde foi coletado o dado. Apenas o usuário que salvou o alerta poderá ter acesso a ele e nenhuma informação sigilosa é divulgada, respeitando a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados)
Na dissertação, Rayol analisou, no âmbito da ecologia da comunicação, a digitalização das TIs experienciada pela ferramenta. “No percurso investigativo, apresentamos a descrição das organizações indígenas parceiras do aplicativo e a construção colaborativa das oficinas enquanto espaços de interlocução. Em seguida, imergimos nas arquiteturas interativas digitais da ferramenta para depois verificar os processos autônomos vivenciados pelo povo Mẽbêngôkre Mẽtyktire (Kayapó), sob a ótica de dois entrevistados residentes da Terra Indígena Capoto/Jarina localizada no Estado de Mato Grosso”, explica a estudante em sua tese.
*Jornalista e analista de Comunicação no IPAM.