IPAM deve criar soluções para chegarmos em 2050 com um planeta ainda habitável

19 de maio de 2025 | Notícias

maio 19, 2025 | Notícias

A edição da newsletter Um Grau e Meio desta semana inicia as comemorações pelos 30 anos do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

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Paulo Moutinho, cofundador e cientista sênior do Instituto, comenta em entrevista sobre os 30 anos do IPAM, o contexto ambiental brasileiro no período e o que está por vir.

 

O cientista sênior do IPAM, Paulo Moutinho (Foto: Rafael Coelho/IPAM)

 

Como nasce o IPAM?

O IPAM surgiu das experiências profundas de campo e com forte interação com as populações locais. As atividades eram baseadas no que, à época, chamavamos de “pesquisa participativa”. Ou seja, as investigações científicas contavam com envolvimento direto de pequenos produtores, populações indígenas e comunidades tradicionais na solução dos problemas ambientais e sociais que viviam.

Assim, o Instituto foi formalmente criado em 29 de maio de 1995, a partir da assinatura da carta de fundação em Belém. É, portanto, uma genuína instituição paraense, o que nos dá muito orgulho. Com a fundação, um grupo de pesquisadores foi reunido com a missão de colocar a ciência e a educação a serviço da conservação ambiental, com justiça social, proteção de direitos e prosperidade econômica. Esta missão prevalece até hoje inabalada.

Qual era o cenário ambiental na época e o que mudou?

Quando da criação do IPAM, o cenário era pautado por altas taxas de desmatamento, com a persistência de muitos conflitos sociais pela terra e por uma baixa consciência social do papel da Amazônia para um futuro climático minimamente equilibrado.

De lá para cá, houve muitos avanços. Uma grande área da região foi destinada a povos originários e comunidades tradicionais, o que garantiu uma conservação ambiental que hoje é considerada vital para o país e para o planeta. Aprendeu-se muito também. Por exemplo, tivemos sucesso em reduzir o desmatamento na Amazônia. De 2005 a 2012 vimos uma série de medidas que derrubaram as taxas de destruição florestal na região em 80%, quando simultaneamente se dobrava a produção de carne e grãos.

O IPAM e parceiros executaram inúmeras pesquisas e projetos demonstrativos que demonstraram que é possível acabar com a destruição da floresta sem comprometer, por exemplo, a produção de alimentos e mesmo de commodities. Mostrou que é possível avançar com a produção sem derrubar uma única árvore. Obviamente, nem tudo são flores.

Em momentos distintos, após 2012, o desmatamento e os conflitos sociais, com ameaças veladas aos direitos fundamentais das pessoas, voltaram à tona. E persistem nos dias de hoje, em especial envolvendo terras públicas.

O fato é, dada a emergência climática em curso, quando vamos usar todo nosso conhecimento acumulado, novamente, para extinguir de vez o desmatamento na região e os conflitos que geram? Certamente temos os elementos técnicos/científicos para tanto e também uma vontade social. O que precisamos é avançar em vontade política.

O que esperar do futuro do país no setor, diante da expectativa para a COP30?

O IPAM participa oficialmente das COPs do Clima desde 2000. Foi a primeira instituição amazônica a levar para dentro das negociações da ONU sobre clima as vozes de agricultores familiares, povos indígenas e extrativistas. Desde então, o Instituto promove e apoia, a cada COP, os representantes destes segmentos sociais.

Quanto à COP30, sempre foi um sonho ter uma edição da Conferência em solo brasileiro e amazônico. Algo que representa uma oportunidade enorme para demonstrar como os amazônidas, ao manter a proteção da densa floresta da região, fazem uma contribuição fundamental à “habitabilidade” da região, do país e do planeta. Não é pouca coisa.

Para se ter uma ideia, a Amazônia, como um todo, armazena o equivalente a uma década de emissões globais de carbono. Se destruída, a situação climática global será enormemente agravada.

Portanto, o que se espera do país nesta COP é um aumento substancial dos compromissos dos governos regionais e nacional pela proteção deste patrimônio e pelo fim da destruição florestal. Com respeito aos direitos de quem faz esta proteção e com mais oportunidades econômicas voltadas para a sustentabilidade, com justiça social.

É fundamental também que o Brasil assuma uma postura de vanguarda quanto aos combustíveis fósseis, em especial demonstrando que a prospecção de petróleo na Foz do Rio Amazonas é algo descabido frente ao crescente agravamento das mudanças climáticas.

De que forma o Instituto complementa a atuação da sociedade civil pelo clima?

Como já mencionado, o IPAM sempre esteve próximo da dinâmica e do contexto “de chão” das populações vivendo na Amazônia e, mais recentemente, no Cerrado. Como é um Instituto de ciência, esta proximidade permite que os resultados de inúmeras pesquisas que são desenvolvidas com parceiros tenham grande impacto na sociedade civil. Estas pesquisas são sempre compartilhadas com sociedade local e geral e também são publicadas nas principais revistas científicas do mundo, o que dá credibilidade acadêmica ao que produzimos.

São mais de 1000 publicações científicas assinadas pelo IPAM. A complementaridade se dá quando estes resultados são apropriados por setores da sociedade. Um bom exemplo é o caso das nossas pesquisas que demonstram o papel de “ar condicionado” das terras indígenas na região. Ao conservarem suas florestas, os povos indígenas provêem um serviço ambiental de reduzir a temperatura regional em até 5°C, além de produzirem umidade atmosférica que contribui para a formação de nuvens de chuva, estas tão importantes para o agronegócio.

O que significa chegar aos 30 anos em 2025? O que esperar dos próximos 30?

Para mim, que vivo este instituto desde o início, e do qual fui diretor por duas vezes, deixa-me eufórico. Não foi um caminho fácil. Grandes avanços em favor da região e de seu povo foram alcançados, mas muitas derrotas foram sofridas.

Busco acreditar que chegamos aos 30 anos conquistando e consolidando o respeito, não somente regional ou nacional, mas também internacional. Comprovamos, por inúmeras vezes, que uma ciência, exercida com credibilidade e legitimidade e que atente para os anseios das pessoas, é aquela que poderá contribuir no enfrentamento dos desafios globais que estão postos.

E mais, o IPAM cresceu e se renovou. Tornou-se jovem! A grande parte de seus colaboradores são jovens talentosos e que têm pela frente os próximos 30 anos. Pessoalmente, é isto que me deixa mais feliz. Sinto-me paz ao ver que o sonho de construir um instituto focado nas próximas gerações está sendo realizado dentro de seus quadros.



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Saiba mais em brasil.un.org/pt-br/sdgs.

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