Cúpula dos Povos irá pautar justiça climática na COP30 em Belém

3 de novembro de 2025 | COP30, Notícias

nov 3, 2025 | COP30, Notícias

Por Bibiana Alcântara Garrido*

Na edição da quinzena, a newsletter Um Grau e Meio, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), entrevista Ivan Gonzalez. Ele é membro da comissão política da Cúpula dos Povos, formada por entidades brasileiras e internacionais. Gonzalez também é Coordenador Político da CSA (Confederação Sindical das Américas), organização sindical continental que representa as centrais de 21 países, desde a Argentina até os Estados Unidos.

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A próxima Cúpula dos Povos ocorre de 12 a 16 de novembro em Belém, durante a COP30, a conferência do clima das Nações Unidas. O movimento reúne mais de 1.200 entidades nacionais e internacionais em torno da pauta da justiça climática. Segundo a organização, é uma das mais importantes mobilizações dos últimos anos.

Confira o site da Cúpula dos Povos para ver a programação completa e o manifesto. E para ficar por dentro das atualizações, é só seguir o perfil da Cúpula no Instagram.

Para além das atividades que ocorrerão em salas, auditórios e tendas na UFPA (Universidade Federal do Pará), a Cúpula terá participação em eventos por toda a cidade e contará com representantes também nos espaços oficiais de negociação da COP30.

 

Ivan Gonzales, membro da comissão política da Cúpula dos Povos (Arquivo/Reprodução)

 

O movimento também tem uma reunião marcada com André Corrêa do Lago, presidente da COP30, no dia 16. Na ocasião, deve ser entregue uma declaração com demandas e soluções de trabalhadores e comunidades do mundo para a emergência do clima: “A Cúpula dos Povos é isso: a junção de todo o povo internacional para dizer que nós estamos aqui; temos respostas, demandas e queremos ser parte da solução”, diz Gonzalez.

Leia a entrevista completa.

O que é a Cúpula dos Povos?

Não é uma invenção nova. Sempre tem sido um instrumento, desde a autoconvocatória dos movimentos sociais, sindicais e populares, que constroem agendas frente a processos oficiais. Pode ser nas COPs, as conferências do clima, mas também em outros espaços. A anterior feita no Brasil foi a Cúpula dos Povos frente à Rio+20, onde juntamos 30 debates sobre a agenda ambiental, construímos uma contrapartida. Somos os povos frente à reunião oficial. Temos feito muitas Cúpulas em outros momentos

Essa, em particular, é a mais importante mobilização dos últimos anos. Porque as COPs anteriores foram feitas em países onde a democracia não funciona, tem repressões, criminalização dos sindicatos e movimentos sociais… por isso a importância da Cúpula em Belém. A COP30 está sendo feita num país democrático, que permite a mobilização social.

É nosso espaço para falar sobre o que estamos fazendo para enfrentar a crise climática, também medidas que os governos têm que tomar, para que não sejam os trabalhadores e comunidades a serem os que paguem pela crise, porque a crise não é gerada pelo povo, mas por atividades capitalistas.

A Cúpula é isso: a junção do povo internacional de todo mundo para dizer que nós estamos aqui, nós temos resposta, nós temos demandas e nós queremos ser parte da solução.

Quem está organizando a Cúpula?

Esta Cúpula em Belém tem mais de 1.200 entidades nacionais e internacionais fazendo parte. São sindicatos, comunidades afetadas, organizações camponesas, organizações ambientalistas, organizações feministas e de diversos tipos.

Somos organizações da América Latina e Caribe, Estados Unidos, Canadá, Europa, Ásia, África… é uma diversidade de setores e de regiões do mundo, de idiomas, de culturas, de atividades.  É uma junção da diversidade do que o planeta é, porque o mundo é essa realidade. Os sindicatos fazem parte, claro, mas múltiplas organizações de outros setores também, como povos originários e pescadores.

Qual a principal mensagem que a Cúpula quer passar?

A mensagem central é que tem que haver justiça climática. Que a crise climática não seja paga pelos povos, pelas pessoas, sobretudo, pelas pessoas mais pobres do mundo.

A responsabilidade é do Norte Global, é das economias ricas do planeta, é das empresas transnacionais. E nós, povos, estamos reivindicando que seja feita justiça. Essa justiça climática implica que a resposta para enfrentar a crise tem que ser com o povo. A principal tarefa dos Estados, dos governos, é que as consequências da crise climática não sejam pagas pelos que menos ocasionaram a crise.

Dentro disso, temos vários pontos, por exemplo, a transição justa é uma demanda, falando dos direitos dos trabalhadores, da saúde, da educação, tem que ser parte do enfrentamento à crise. Isso implica a participação dos trabalhadores na resposta da transição energética, da mudança na forma que se exploram os rios e a terra em determinadas atividades.

Também há a demanda da Cúpula dos Povos pelas dívidas que se ocasionam. Por exemplo, quem pagará uma forma de compensação para as comunidades que são afetadas pela exploração dos minérios? Pela exploração do petróleo? Essas comunidades têm que ser ressarcidas pelo impacto que causam atividades econômicas de exploração da natureza.

Outra demanda da Cúpula é que para enfrentar a crise climática tem que parar de investir em guerra. O que se está colocando em armamento, de supostas guerras, é uma quantidade exorbitante. Isso poderia ser investido em resolver o problema da crise climática em várias regiões do mundo. Uma das mensagens centrais da Cúpula será o compromisso com a paz e o fim das guerras e agressões do imperialismo contra os povos do mundo.

Também defendemos que as negociações para enfrentar a mudança do clima não podem ser, como estão sendo, capturada pelos principais poluidores.

Os principais decisores não são os Estados, os governos, menos ainda as populações. Quem está decidindo para onde vamos são as empresas, as grandes transnacionais do setores poluentes, como petroleiras, mineradoras, grandes empresas que ocupam a água doce do planeta. Essas grandes empresas estão influenciando as negociações do clima e decidindo até onde vai o compromisso.

Nós reivindicamos que as negociações do clima não podem ser capturadas por grandes empresas e têm que ser lideradas pelos Estados. E nessa disputa de que lidera, que os Estados do Sul Global, que somos quem está sofrendo a consequência do impacto da crise climática, tenham peso nas negociações. Não podem ser só os países do Norte a determinar o que tem que ser adotado, pois é uma relação totalmente desigual; eles são os principais poluidores e quem paga por isso são pessoas do Sul e pobres excluídos nos países do Norte.

A Cúpula pretende lançar algum documento durante a COP30?

Nós estamos organizando, há mais de um ano, os consensos possíveis dentro da nossa diversidade de realidades. Vamos ter plenárias, nos dias 13 e 14, sobre os seis eixos prioritários, nas quais se apresentarão os debates e o acúmulo da formulação, tanto de experiência de diagnóstico sobre a realidade da crise climática, como quais são as nossas alternativas. No dia 14, ao final da tarde, vamos adotar uma declaração da Cúpula, que vai ser nosso manifesto para nos posicionarmos frente às negociações.

Teremos o Dia de Ação Global, com convocatória para 15 de novembro nos mobilizar em Belém, mas também em outras regiões do mundo, para as pessoas conhecerem nossa pauta e fazer visíveis nossas lutas. E, no dia 16, o presidente da COP30 vai estar na Cúpula para receber a nossa declaração.

Também teremos intercâmbios nos próprios espaços onde a sociedade civil pode se pronunciar na COP. Vamos ter nossos porta-vozes, nossas atividades dentro do espaço da COP30, na zona azul e na zona verde, para colocar lá a nossa demanda.

No meio disso, temos estratégia de influência dos governos, para colocar nossa visão para os negociadores e atrair o diálogo com as delegações oficiais. A gente pretende também influenciar nas negociações oficiais, mas nosso foco principal é a Cúpula dos Povos.

Onde ocorrerão as atividades e principais discussões? O evento é aberto?

A gente está com muita demanda de participação e a estrutura não comporta a demanda. Semana que vem vamos liberar as informações no Instagram sobre como as pessoas poderão participar.

Vamos ter atividade em diferentes espaços da cidade, além da UFPA. Serão diferentes espaços que vão funcionar de maneira simultânea e vai ter o momento das plenárias em que juntamos as pessoas. Os dias 13 e 14 serão fechados, mas terão atividades públicas e atividades culturais, com atividades para crianças também. A programação já está sendo divulgada.

Além da programação entre os dias 12 a 16, até o final da COP vamos ter uma representação da Cúpula interagindo com as negociações oficiais.

Nossa ideia é que a Cúpula tenha um legado que não acabe em Belém, é um processo que continua ano que vem com agendas unitárias. Seguramente, até a COP31, vamos ter continuidade neste espaço. A nossa ideia não acaba em Belém e que o legado da Cúpula dos Povos tenha projeção no futuro.

 

*Jornalista do IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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