O intercâmbio de informações e experiências para fortalecer a agricultura familiar na Amazônia é um desafio. Alcançar esse objetivo em um contexto de pandemia tornou-se um trabalho ainda mais complicado. Assim, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), com apoio do Instituto Humanize e em parceria com o Projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável, promove desde julho de 2020 a capacitação à distância dos agentes de Ater (Assistência Técnica e Extensão Rural) de 14 municípios do Pará, por meio do Programa CapGestão Amazônia.
De acordo com a coordenadora do projeto e pesquisadora do IPAM, Erika Pinto, a iniciativa tem o intuito de contribuir para a qualificação dos serviços de Ater, públicos ou privados, no estado. “A ênfase está no fortalecimento da gestão de empreendimentos da agricultura familiar, sejam cooperativas, associações, agroindústrias ou empreendimentos de base familiar individuais. O objetivo é tornar as cadeias produtivas mais robustas e ampliar a capacidade de acesso a mercados, gerando renda e melhorando a qualidade de vida das famílias envolvidas”, explica.
Virando o jogo
Devido às restrições impostas pelo novo coronavírus, foi preciso adaptar o projeto que, originalmente, ocorreria de maneira presencial, envolvendo 35 técnicos das secretarias municipais de agricultura e desenvolvimento rural, Ematers (Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural) e cooperativas, entre outras entidades do Pará.
Após levantamento de acesso à internet entre os técnicos selecionados para a capacitação de cada município envolvido, foram estabelecidos o melhor formato e as ferramentas para que os encontros virtuais fossem realizados.
“A adaptação do CapGestão para o universo on-line exigiu um grande esforço de toda a equipe, incluindo os facilitadores. Encaixar as ferramentas participativas em um formato virtual não é simples. Mas acredito que conseguimos chegar a um resultado que deu e está dando muito certo”, comemora a coordenadora do programa e consultora do IPAM, Cláudia de Souza.
Aluna do programa, Thayanne C. N. Lobato, do Departamento de Serviço de Inspeção Municipal da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Pacajá, se diz satisfeita com o novo formato oferecido. “O CapGestão abriu um leque de possibilidades e melhorias aos empreendimentos. Estou aprendendo e me aperfeiçoando cada dia mais.”
Atualmente, a capacitação conta com seis módulos: i) Facilitação de processos participativos; ii) Desenvolvimento organizacional; iii) Análise de cadeias de valor com enfoque em gênero; iv) Regularização sanitária; v) Diferenciação de mercados; e, o último, vi) Modelos de negócios verdes. Em dezembro de 2020, o curso chega à metade do conteúdo programado.
Além de aulas gravadas para aqueles que não podem acompanhar ao vivo, são realizadas rodas de conversas e encaminhados aos participantes formulários de avaliação e desempenho.
Vale destacar, ainda, a parceria do projeto estabelecida com a GIZ (Cooperação Técnica Alemã) para o uso da plataforma Capacitar para Desenvolver, que permite fácil acesso a locais remotos e abriga os cursos da Cooperação, junto ao Fundo Amazônia/BNDES.
O ano de grandes desafios trouxe também aperfeiçoamentos na página criada especialmente para o CapGestão no Facebook, chamada Aterbook, que traz fácil acesso a conteúdos bem divididos. Além disso, em junho deste ano, um site foi criado para acolher todos os materiais utilizados e criados pelo programa ao longo de sua execução. Clique aqui para conhecer.
Mesmo com todas as estratégias adotadas para o avanço do programa, a pesquisadora Erika Pinto afirma que o formato on-line é um desafio ainda difícil de ser superado por alguns técnicos de Ater. “O ambiente virtual exige uma mudança no nosso modo de aprender e trocar informações, cujo processo pode ser mais rápido para uns e mais lento para outros. Requer também, e principalmente, avanços consideráveis no tema da inclusão digital para que a internet de qualidade chegue a todas as regiões e viabilize novas formas de aprendizagem”, alerta.
Ganhando escala
Na edição anterior, em 2018, o CapGestão foi implementado em Rio Branco (AC), Macapá (AP), Belém (PA), Santarém (PA) e em Manaus (AM), por meio da iniciativa Mercados Verdes e Consumo Sustentável, da GIZ e Consórcio IPAM/Eco Consult, em parceria com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Em 2020, o programa começou a ser ampliado em 14 cidades paraenses: Anapu, Pacajá, Novo Repartimento, Itupiranga, Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Sapucaia, Rio Maria, Xinguara, Floresta do Araguaia, Conceição do Araguaia, São Félix do Xingu e Tucumã. Essa nova etapa é realizada no âmbito do projeto “Fortalecimento de capacidades locais para a gestão de empreendimentos e ampliação da comercialização de produtos da agricultura familiar”, com o apoio do Instituto Humanize.