Por Lucas Guaraldo*
Mapa desenvolvido por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com o apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos aponta que áreas críticas para a proteção da biodiversidade na Amazônia Legal ainda estão fora de Unidades de Conservação, deixando-as vulneráveis ao desmatamento ilegal. Os ecossistemas identificados concentram grande quantidade de espécies de fauna e flora, mas não contam com legislação ambiental específica para sua proteção.
O objetivo do mapa produzido é auxiliar na proteção dessas áreas, assim como servir de base para a criação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável e criação de unidades de conservação que incluam esses hotspots de biodiversidade. Além disso, espera-se chamar a atenção para a importância de conectar áreas preservadas, garantindo um ambiente estável e equilibrado para a fauna e a flora.
“Esse mapa mostra áreas que têm um grande potencial de criação de unidades de conservação e áreas que têm extrema relevância para a conservação porque possuem uma alta biodiversidade. Apresentamos esse mapa pra mostrar a importância que essas áreas têm, embora elas ainda não estejam protegidas. Boa parte dessas áreas está ameaçada pelo desmatamento e pela expansão da infraestrutura, então é crucial que a fiscalização nessas áreas seja rigorosa”, alerta João Paulo Ribeiro, pesquisador do IPAM e autor do mapa.
Mesmo fora da proteção tradicional dos parques e estações ecológicas, a preservação desses locais é fundamental para garantir a conectividade entre áreas de mata nativa. Áreas de reserva legal, por exemplo, preservam a biodiversidade dentro de propriedades privadas e têm papel fundamental na criação de mosaicos de preservação, unindo áreas de vegetação nativa em diferentes propriedades.
“De acordo com o Código Florestal, propriedades rurais na Amazônia devem preservar 80% da sua área. Isso é um ativo tremendo que devemos olhar de perto. Temos que visualizar essas áreas privadas como uma forma de criar corredores de preservação, mesmo que seja necessário recuperar áreas. A implementação do Código Florestal deve ser vista como aliada à proteção da biodiversidade e precisa fazer parte de qualquer estratégia de proteção na Amazônia e no Cerrado”, destacou André Guimarães, diretor executivo do IPAM.
O mapa também destaca a diversidade biológica em formações não-florestais na Amazônia, como os lavrados de Rondônia, que muitas vezes são preteridos nos esforços de preservação. Segundo dados da rede MapBiomas, mais de 4% da Amazônia é composta por vegetações não-florestais, totalizando 18,5 milhões de hectares.
Os mapas foram apresentados para representantes das embaixadas dos Países Baixos, França, Noruega e Espanha, assim como servidores do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e Ministério da Ciência e Tecnologia e ambientalistas. O evento foi realizado na residência oficial do embaixador dos Países Baixos, em Brasília.
Lentidão na demarcação
De acordo com dados coletados pela newsletter Um Grau e Meio, produzida pelo IPAM, a criação de unidades de conservação na Amazônia aumentou 3,7% nos últimos 5 anos e já cobre 28,4% do bioma. A destinação é fundamental para a proteção do bioma, visto que 50% do desmatamento da Amazônia brasileira ocorre em terras públicas.
No Cerrado a demarcação encontra mais desafios: um aumento de apenas 0,7% nas Unidades de Conservação nos últimos cinco anos. Ao todo, metade do Cerrado já se encontra antropizado – alterado pelo uso humano para a criação de pastagens e lavouras, por exemplo – e 8% desse remanescente se encontra dentro de parques, estações e outras unidades de conservação. Em 2023, essas áreas concentram apenas 2,5% do desmatamento do bioma, cerca de 26,5 mil hectares, segundo dados do SAD Cerrado.
Jornalista do IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*