Agricultura Familiar no Marajó avança em rastreabilidade de bovídeos

4 de agosto de 2025 | Notícias

ago 4, 2025 | Notícias

Suellen Nunes*

Com o objetivo de fortalecer a pecuária sustentável no Pará, nos dias 30 e 31 de julho foi realizado, no município de Salvaterra, na Ilha do Marajó (PA), o evento “Pecuária Sustentável e Treinamento Prático em Operador/a da Rastreabilidade”.

A formação teve como foco o Programa Pecuária Sustentável do Pará e o SRBIPA (Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará), apresentado por técnicos da Adepará, da SEAF (Secretaria de Estado de Agricultura Familiar) e do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). O objetivo foi ampliar a compreensão sobre o sistema oficial de rastreabilidade, os critérios de cadastramento e o papel estratégico da rastreabilidade para a valorização da produção familiar.

“Eventos como esses são fundamentais não só para engajar os criadores de gado, mas também para profissionalizar os operadores da rastreabilidade, que terão um papel decisivo na consolidação do Programa de Pecuária Sustentável no Pará. O IPAM segue comprometido com esse processo, contribuindo com nossa experiência e apoiando na expansão do conhecimento sobre o programa para criadores de bovinos e bubalinos em todo o estado”, explicou Edivan Carvalho, Coordenador do IPAM no Pará.

A atividade foi promovida pela Adepará (Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará) e pela SEAF, com apoio do projeto “Justiça Climática: florestas públicas destinadas, direitos protegidos e pecuária sustentável”, uma iniciativa do IPAM em parceria com outras instituições.

O secretário de Estado da Agricultura Familiar, Cássio Pereira, destacou a rastreabilidade como um instrumento essencial para a sustentabilidade na cadeia da pecuária: “Temos criar oportunidades para fortalecer práticas sustentáveis nesta cadeia. É uma tarefa desafiadora, pois temos 144 mil criadores(as) no estado – e esse número pode aumentar com a atualização cadastral em andamento. No Pará, cerca de 50% a 60% dos criadores(as) de bovídeos são agricultores e agricultoras familiares, e é essencial envolvê-los nas ações do programa”, afirmou.

No dia 30, o evento foi iniciado com palestras técnicas, incluindo a participação de uma médica veterinária da Adepará e, na sequência, John Robert, da GRCA (Gerência de Rastreabilidade e Cadastro Agropecuário), que detalhou as etapas de cadastramento no SRBIPA e os benefícios esperados da inclusão da agricultura familiar na base de dados estadual.

“A criação de búfalos no Marajó é um modo de vida herdado há gerações. Mas, sem organização, o prejuízo fica com o produtor. A rastreabilidade vem para mudar isso: transforma o saber do campo em dado oficial, dá visibilidade, combate o roubo e ajuda a profissionalizar uma atividade essencial para a cultura e a economia da região”, afirmou Olivar Valente, gerente regional em exercício da Adepará em Soure.

No dia 31, a programação seguiu com uma atividade prática realizada no sítio Taperebá, propriedade do agricultor Joelcio Fernandes, situada na comunidade de Cachoeirinha, em Salvaterra (PA). Ali, a criação é feita com dedicação e cuidado, refletida até nos nomes dados às búfalas: Espanha, Barcelona, Quero Ver, Mansinha, Amorosa, Baratinha, Pantera, Aparecida e Boneca.

Mais do que números, os animais fazem parte da rotina e da vida do produtor, reforçando a dimensão afetiva e cultural da pecuária no Marajó. No local, 35 agricultores e agricultoras participaram do treinamento e foram certificados pela Adepará como operadores habilitados para cadastrar rebanhos no sistema de rastreabilidade estadual.

“No começo, era o boi que criava o fazendeiro, não o fazendeiro que criava o boi. Mas hoje eu vejo diferente: a gente precisa cuidar, dar comida certa, conhecer o capim, pensar na saúde do animal. Isso muda tudo. Com apoio do Senar e da Embrapa, eu aprendi que dá pra produzir melhor e respeitar o que o búfalo precisa, e isso começa pela terra, pela água e pelo manejo consciente. A rastreabilidade chegou pra somar. Eu já colocava brinco no gado, mas agora vai ter registro, número, histórico, tudo certinho. Isso dá valor pro nosso produto, mostra que o leite, a carne, o queijo marajoara têm qualidade e têm origem. É segurança pra quem compra e reconhecimento pelo nosso trabalho aqui no campo”, contou o agricultor.

A produção de leite e seus derivados têm papel central na economia familiar da região e integram a identidade sociocultural das comunidades locais. Nesse contexto, aproximar produtores e produtoras dos sistemas de controle e rastreabilidade é essencial para garantir a regularidade da produção e a inserção qualificada nos mercados que exigem origem e responsabilidade ambiental.

“Cresci vendo meus pais criando no modo tradicional, mas aprendi que dá pra fazer diferente, com mais respeito aos animais e ao meio ambiente. A rastreabilidade abriu meus olhos: não é só criar por criar, é entender o animal e produzir com consciência. Minha área é pequena, mas a vontade é grande. Planto, crio, reaproveito o que a terra dá e ensino isso pras minhas filhas. Quero produzir com orgulho e sem agredir o lugar de onde eu venho”, disse Luan Carlos Moraes Costa, jovem produtor rural de Cachoeira do Arari (PA).

Analista de Comunicação do IPAM*



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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