Por Lays Ushirobira*
Uma análise de cenários possíveis para a Amazônia no contexto das eleições brasileiras de 2022, realizada pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), destaca que é fundamental priorizar políticas públicas pela conservação do bioma em planos de governo, para a recuperação e o desenvolvimento socioeconômico do Brasil e do mundo. A publicação faz parte do quarto ciclo do Amazoniar – iniciativa do instituto para promover um diálogo global sobre a Amazônia –, que apresentou as ambições de jovens que lideram a agenda socioambiental para o futuro da região. O texto reúne informações-chave para que todos possam compreender melhor o atual contexto amazônico e algumas das possíveis soluções para seu desenvolvimento sustentável.
“A Amazônia é fundamental para a manutenção do equilíbrio climático global e nós, brasileiros, temos a sorte de que a maior parte da floresta está em nosso território. Com isso, vem também a responsabilidade. Precisamos ser conscientes nas urnas para garantir que a Amazônia continue em pé, oferecendo serviços ambientais e ecológicos, e assegurar o modo de vida de seus povos e a manutenção de sua biodiversidade”, ressalta Olivia Zerbini, pesquisadora do IPAM e uma das autoras da publicação.
As eleições representam uma oportunidade de retomar e fortalecer políticas que protejam a floresta e os direitos de seus povos e comunidades. Com isso, o país poderia recuperar sua posição como referência mundial na área ambiental, assegurar a qualidade de vida de todos e atrair oportunidades econômicas e estratégicas compatíveis com a floresta em pé. Assim, a publicação faz uma análise de três dimensões – desmatamento, qualidade de vida e geopolítica –, trazendo dois cenários preditivos: o que poderia acontecer se o país mantiver o atual ritmo de destruição da Amazônia e se adotar possíveis soluções para a conservação do bioma.
“O Brasil já mostrou que o combate ao desmatamento na Amazônia aliado ao desenvolvimento socioeconômico é possível e eficaz. É essencial que cobremos dos candidatos planos de governo com propostas ambientais se quisermos reverter a crise climática e garantir um futuro mais ambientalmente sustentável, socialmente equitativo e economicamente próspero”, alerta Zerbini.
Veja um resumo dos pontos principais da publicação:
Sem a Amazônia não há futuro
A Amazônia é um enorme sumidouro de gases de efeito estufa (GEEs) e é essencial que este carbono não seja liberado na atmosfera – caso contrário, pode agravar a crise climática global. A destruição do bioma e a consequente liberação de GEEs contribuem para o aumento da temperatura global, do nível do mar e da incidência de secas e inundações extremas. As pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas são aquelas que vivem na intersecção de desigualdades, mas o desmonte da política ambiental no Brasil representa uma ameaça a todos: sem a Amazônia não haverá bem-estar humano nem segurança alimentar e energética.
Não apenas é preciso tomar medidas mais ambiciosas para avançar a proteção socioambiental, como também é essencial fazê-lo rapidamente. O IPCC (Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas) adverte que estamos chegando cada vez mais rápido ao chamado ponto de inflexão na Amazônia, fenômeno que pode levar à transformação de partes da floresta e já resulta na perda da biodiversidade e na liberação de grandes quantidades de carbono. Estudos também mostram que a Amazônia atualmente emite mais dióxido de carbono do que pode absorver.
Soluções possíveis
Entre as medidas recomendadas para avançar o desenvolvimento sustentável da região estão:
- Demarcação de terras indígenas (TIs) – As TIs desempenham um papel fundamental na manutenção da integridade dos ecossistemas e no combate às mudanças climáticas, funcionando como barreiras ao desmatamento na Amazônia. Em 2020, apenas 3% do desmatamento total foi registrado nessas áreas. Junto com as unidades de conservação, as TIs estocam cerca de 56% do carbono da Amazônia brasileira.
- Financiamento e incentivo às economias verdes – É importante acabar não apenas com o desmatamento ilegal, que representa 90% dos casos na Amazônia, como também o que é feito em âmbito legal. O novo Código Florestal brasileiro, em vigor desde 2012, dita que o montante de reserva legal que uma propriedade deve manter na Amazônia é de 20%. Ou seja, legalmente, ainda é possível desmatar 11.3 milhões de hectares na Amazônia Legal. Incentivos financeiros, o fomento da bioeconomia e do empreendedorismo de base florestal, e a construção de acordos multissetoriais e de uma governança ambiental estruturada são possíveis estratégias para combater o desmatamento legal e reduzir desigualdades.
- Investimento na transição para modelos produtivos e econômicos de baixo carbono – O desmatamento tem impactos sociais e econômicos negativos. Estudos comprovam que é mais vantajoso investir na conversão de áreas abertas sem remover mais vegetação nativa. A diversidade amazônica e a implementação de uma bioeconomia compatível com a floresta e adaptada às necessidades locais têm grande potencial de promover a geração de empregos, inclusão social e renda para a região.
Sobre o Amazoniar
O Amazoniar é uma iniciativa do IPAM para promover um diálogo global sobre a Amazônia e sua importância para as relações do Brasil com o mundo. No quarto ciclo, que ocorreu no mês de junho, o Amazoniar entrevistou jovens que lideram a agenda socioambiental amazônica para entender suas ambições para a região dentro do contexto das eleições brasileiras de 2022.
*Jornalista e consultora de Comunicação no IPAM