Por Sara R. Leal¹
Esta é a segunda de uma série de reportagens que o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), no âmbito do projeto CONSERV, publica para apresentar e estimular o debate sobre boas práticas no campo.
Reduzindo a pressão pela abertura de novas áreas para a produção agropecuária, a natureza mantém os serviços ecossistêmicos essenciais à agropecuária, como produção de chuva, ao mesmo tempo em que o produtor aumenta sua rentabilidade.
Aliar a tecnologia à gestão da fazenda e ao aperfeiçoamento do rebanho é algo indispensável para o pecuarista que deseja obter bons resultados. O melhoramento genético é um dos caminhos, utilizado para aumentar a eficiência da produção e a lucratividade sobre os animais.
O processo consiste em selecionar animais com características que atendam aos critérios necessários para atingir determinado objetivo final. “Podem ser animais que se destacam no rebanho por melhor peso na desmama, ganho de peso diário, precocidade, produção de leite ou carne. Todos esses indicadores proporcionam melhores garantias de ganho na produção”, explica o diretor técnico-comercial da Apoyar Biotech, Antônio Carlos Nogueira.
Na prática, o diretor executivo e sócio-fundador da Pecsa (Pecuária Sustentável da Amazônia), Vando Telles de Oliveira, também produtor rural, esclarece os benefícios do melhoramento: “Ao invés de ter dez vacas que produzem cinco litros de leite por dia, posso ter o mesmo número de vacas, com o mesmo custo fixo e mão de obra, que produzam dez litros ao dia. Isso melhora significativamente o negócio como um todo.”
O investimento vale a pena. Segundo Teles, inseminação artificial por tempo fixo, por exemplo, tem custo de R$ 100 a R$ 200 por vaca inseminada. “Quando comparamos esse valor com o produto final – um bezerro com melhoramento genético pode custar R$ 3 mil -, podemos dizer que é um capital pequeno comparado ao que se recebe.”
Equilibrando o sistema
Ao aumentar a produtividade dos rebanhos, o aprimoramento genético otimiza o uso das áreas já abertas da propriedade. “A pecuária tradicional no Brasil costuma ter uma cabeça por hectare. Mas temos hoje fazendas com 5 cabeças por hectare”, diz o diretor da Pecsa. “Ao fazer a conta, evito a supressão de 80% da área que eu necessitaria, comparado ao sistema convencional.”
O produtor destaca ainda que, com toda a tecnologia disponível para a pecuária atualmente e com a disponibilidade de áreas em Mato Grosso, o setor possui grande potencial de crescer nas áreas já abertas. Para isso, segundo ele, é necessário fazer com que essa tecnologia chegue até o produtor rural.
“Hoje em dia, por conta do aumento dos custos, da disponibilidade de área, dentre outros fatores, o produtor que não se profissionalizar e investir em tecnologias pode estar fadado a sair do ramo”, alerta Telles. “A pecuária não pode mais ser vista como uma mera atividade, mas como um negócio que faz parte de um sistema produtivo complexo, pois envolve água, terra, gente, animal, clima. O produtor deve se atentar a todos esses elementos”, complementa.
Para Telles, o significado de sustentabilidade é “o equilíbrio dos elementos do sistema. Se tem algum elemento desequilibrado, o sistema está fadado ao fracasso.”
Primeiros passos
As ferramentas utilizadas para o aprimoramento dos rebanhos têm como base a seleção de animais de genética superior. É possível optar por diversas estratégias de melhoramento genético, a depender do resultado que se pretende, do conhecimento ou da assistência técnica disponíveis, e, claro, da capacidade de investimento.
Dentre as principais biotecnologias aplicadas ao melhoramento genético estão a estação de monta (EM), que padroniza o período dos partos e, assim, uniformiza a formação de lotes; e a inseminação artificial (IA) ou a inseminação artificial por tempo fixo (IATF), no qual o sêmen de um touro de genética superior é transferido para o útero de uma vaca ou de uma novilha previamente avaliada.
Os produtores também podem optar pela transferência de embriões (TE), na qual fêmeas de alto valor genético desenvolvem um grande número de óvulos. Em seguida, eles são fecundados com o sêmen de um touro, também com qualidade genética. Ao final, os embriões são transferidos a outras fêmeas com características que garantam uma boa gestação.
A fertilização in vitro (FIV), dentre as técnicas citadas é a que oferece maior velocidade no processo de reprodução do material genético. Ela consiste em coletar e selecionar os ovócitos de uma vaca doadora de alto valor genético para que sejam fecundados em laboratório com sêmen de touros que também possuam elevada aptidão genética.
Segundo Nogueira, para implementar um sistema de melhoramento genético, além de planejamento, é necessário que a propriedade se enquadre em critérios básicos. “A fazenda deve passar por uma avaliação de infraestrutura, localização, clima, disponibilidade de alimento e água para os animais. Deve-se estar em dia com vacinas, e ter conhecimento em manejos sanitário, nutricional e reprodutivo”, explica.
Telles ressalta que o melhoramento genético por si só, sem um sistema de pecuária tecnificada e sem adoção de boas práticas agropecuárias básicas, como por exemplo o bom manejo de pasto, não consegue expressar todo o potencial da área. Mas o esforço, segundo o produtor, traz bons resultados, conforme verificado no processo adotado pela Pecsa: “Se você possui um animal melhorado geneticamente, há um aumento de 15% a 20% de produção na mesma área com o mesmo número de cabeças, só pelo desempenho do animal.”
Leia todas as matérias da série Garantindo o futuro na prática:
Introdução: Futuro do agronegócio passa pela valorização do solo brasileiro.
Melhoramento genético do rebanho.
Regularização ambiental e benefícios para produtor que cumpre a lei.
¹Jornalista e analista de Comunicação no IPAM, sara.pereira@ipam.org.br