O projeto MapBiomas lança nesta sexta-feira um conjunto de dados de mapeamento que permite investigar a ocupação territorial de qualquer parte do Brasil, ano a ano, desde 1985. A ferramenta, que possibilita descobrir o que ocorreu no país desde então com uma resolução de 30 metros, é pública, inédita, gratuita e de acesso livre.
“Essa é a mais longa série de dados sobre cobertura e uso da terra já levantada para o Brasil, algo jamais feito em qualquer outro país”, diz Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, coordenador do projeto, que envolve parceiros de 34 instituições diferentes. “O que estamos colocando à disposição de todos é a possibilidade de fazer uma viagem no tempo e enxergar a história do Brasil nas últimas três décadas, mostrando o que aconteceu em pixels de 30 por 30 metros.”
Os dados estão disponíveis no site www.mapbiomas.org. As ferramentas de navegação do site permitem explorar o mapa do Brasil e criar visualizações temporais de dados para estados, municípios, unidades de conservação, terras indígenas e outros recortes territoriais.
“Agora, pela primeira vez, permitimos o cruzamento de dados com o Cadastro Ambiental Rural, possibilitando visualizar mudanças de uso da terra em propriedades rurais”, afirma Azevedo. “Também é possível ver dados por bacia hidrográfica e enxergar a infraestrutura de energia e transportes para entender como ela impacta o uso do solo.”
O projeto permitiu constatar com alta precisão diversas mudanças no período 1985-2017:
- O Brasil teve perda líquida de 71 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a SP, PR, RJ e ES somados (a perda líquida é a perda total com a recuperação subtraída);
- A área de agricultura quase triplicou neste período (cresceu 2,9 vezes), e a área de pecuária cresceu 43%;
- A Mata Atlântica, bioma com 56% da área urbana do país, teve perda líquida de 5 milhões de hectares de floresta; nos últimos 10 anos a regeneração superou o desmate;
- O bioma que viu a maior proporção de sua área de vegetação nativa sumir foi o Cerrado, com 18% de perda líquida;
- A Amazônia perdeu a maior área (líquida) de floresta no período: 36 milhões de hectares;
- Outros biomas tiveram também perda líquida: Pampa (-15%), Caatinga (-8%) e Pantanal (-7%);
O MapBiomas nasceu em 2015, a partir de um seminário que reuniu pesquisadores convidados pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) para discutir um problema. Como o país só tinha dados confiáveis para monitorar emissões por desmatamento e outras mudanças de uso da terra na Amazônia, os parceiros da iniciativa concordaram em unir esforços para conseguir abarcar os outros cinco biomas do país: Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa.
O projeto já lançou ferramentas para explorar duas coleções de dados desde então. A segunda, publicada em 2017, já permitia investigar a mudança de uso da terra no país de 2000 a 2016. Com a terceira coleção, lançada agora, o MapBiomas dobra a extensão do período que pode ser investigado, cobrindo todos os anos de 1985 a 2017.
“Isso só foi possível porque nós conseguimos reunir instituições com cientistas estudando cada um dos biomas brasileiros a especialistas em sensoriamento remoto, em uso da terra, em sistemas de informações geográficas e em ciência da computação”, diz Carlos Souza Jr., do Imazon, coordenador técnico-científico do MapBiomas. “A parceria com o Google Earth Engine, uma plataforma de processamento em larga escala de dados geo espaciais, permite ao MapBiomas tratar um volume monstruoso de dados.”
As imagens usadas pelo projeto são séries históricas produzidas pelos satélites Landsat, dos EUA. Para cada área de 30m por 30m do Brasil, o projeto atribui uma classificação de uso da terra (floresta, campo, pastagem, plantação, água, cidade etc.). Para cobrir o país inteiro, é preciso analisar mais de 9 bilhões de pixels, montados a partir de milhares de imagens de satélite para a série histórica.
“Só foi possível atingir nosso objetivo usando um alto grau de automação do processo, usando o conhecimento de nossos especialistas nos biomas para alimentar um sistema de aprendizado de máquina”, diz Tasso Azevedo. “E hoje, apesar de o projeto ter sido criado para a estimativa de emissões de gases-estufa, ele pode ser usado para inúmeras outras aplicações.”
Por exemplo, municípios utilizam essas informações para montar seus Planos de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica e a expansão da infraestrutura urbana; estados podem aplicar os dados para o zoneamento ecológico-econômico; gestores de unidades de conservação (UCs) podem usar os dados como base para desenhar novas UCs e seus planos de manejo. A Fiocruz estuda a relação das mudanças de uso do solo com a dispersão de doenças como febre amarela e malária usando o MapBiomas.
EQUIPE MAPBIOMAS
COORDENAÇÃO GERAL:
Tasso Azevedo (Observatório do Clima)
COORDENAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA:
Carlos Souza Jr. (Imazon)
COORDENAÇÃO DOS BIOMAS:
Amazônia – Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Caatinga – Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e Associação Plantas do Nordeste
Cerrado – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
Mata Atlântica – Fundação SOS Mata Atlântica e ArcPlan
Pampa – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Pantanal – Instituto SOS Pantanal e ArcPlan
COORDENAÇÃO DOS TEMAS TRANSVERSAIS:
Pastagem – Universidade Federal de Goiás (LAPIG/UFG)
Agricultura – Agrosatélite
Zona costeira e mineração – Instituto Tecnológico
PARCEIROS DE TECNOLOGIA:
Google
EcoStage
Terras
FINANCIAMENTO:
Iniciativa Internacional de Clima e Florestas da Noruega (NICFI)
Gordon & Betty Moore Foundation
Instituto Arapyaú
Climate and Land Use Alliance (CLUA)
Good Energies Foundation
Instituto Clima e Sociedade (ICS)
APOIO INSTITUCIONAL:
WRI Brasil
Fundação AVINA
The Nature Conservancy (TNC)
Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)
Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura
WWF Brasil
PARCERIA TÉCNICA:
Instituto e Energia e Meio Ambiente (IEMA)
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)