Por Bibiana Alcântara Garrido*
A fumaça de queimadas criminosas na Amazônia chamou a atenção do país ao chegar ao sudeste brasileiro e a outros países da América Latina como Bolívia e Peru. Na semana da Independência no Brasil, as queimadas no bioma superaram todas as ocorrências de fogo registradas no mesmo mês em 2021. No ano passado, o bioma teve 16.742 focos de incêndio no mês inteiro. Em oito dias de setembro de 2022, já são 20.261. Os dados são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que consolidou, nesta sexta-feira (9), também outro recorde: o acumulado da área desmatada em agosto na Amazônia foi o segundo pior da série histórica, com 1.661 km² de alertas.
“A Amazônia nunca queimou tanto em uma Semana da Pátria quanto agora, com exceção de 2007, que foi um ano muito seco. Os últimos quatro anos foram destruidores para o meio ambiente no Brasil, danos que devem ser urgentemente reparados para que não tenhamos nossa sociobiodiversidade ainda mais destruída, para que a gente consiga evitar, ou ao menos mitigar, eventos climáticos extremos no campo e na cidade, e para que consigamos cumprir com as metas globais para controlar o aquecimento global”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Os episódios remontam ao “Dia do Fogo”, quando, em 10 e 11 de agosto de 2019, teria se articulado um movimento conjunto para atear fogo na maior floresta tropical do mundo. Somente nesses dois dias, o Inpe detectou 1.457 focos de calor na Amazônia, que fechou aquele mês de agosto com 30.900 focos. Em 2022, agosto se encerrou com 33.116 focos ativos no bioma.
“Nós já estávamos prevendo um aumento do desmatamento e das queimadas por ser um ano de eleição. A política institucional, infelizmente, nesse período, tende a desviar as atenções e até mesmo a esmorecer a fiscalização, abrindo a porta para esses tipos de crimes. É preciso que o meio ambiente esteja no centro de debates, propostas e pautas eleitorais. Afinal de contas, a questão ambiental se conecta a muitas outras que são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida e para um futuro com justiça social”, conclui Alencar.
*Jornalista no IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br.