Representantes de povos indígenas e comunidades tradicionais compartilharam suas experiências utilizando ferramentas tecnológicas e jurídicas para o monitoramento e proteção de suas terras. Essa troca de conhecimento aconteceu na oficina “Povos da floresta: conexões e autodeterminação” realizada nos dias 6 e 7 de agosto no auditório do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
Para Alessandra indígena Munduruku, a oficina permitiu a aprendizagem coletiva e o fortalecimento político de redes de povos indígenas e populações tradicionais. “Viemos aqui para ensinar e aprender. Estamos em várias lutas e as pessoas precisam saber as ameaças que estamos sofrendo, como invasão e desmatamento, o que já está gerando mudança do clima e violência. Precisamos levar ensinamentos, para o jovem para que a gente saiba usar a arma do conhecimento, a arma mais poderosa que tem.”
Também participaram da oficina membros da sociedade civil e universidades. Para uma das organizadoras do evento e coordenadora do núcleo indígena do IPAM, Fernanda Bortolotto, o evento se destacou por prestigiar o momento de fala para quem está na base.
“Os povos indígenas sofrem muitas ameaças ambientais e de infraestrutura, ao mesmo tempo existem instituições desenvolvendo iniciativas inovadoras para auxiliar nessas situações. A oficina foi um espaço de troca em que os povos puderam mostrar do ponto de vista deles como estão enfrentando esses embates. Muita experiência e conhecimento foi compartilhado nesse evento”, diz Bortolotto.
Histórias de luta, resistência e união não faltaram durante os dois dias. “A gente não está lutando só por uma terra, a gente está lutando por todos. A gente já perdeu muita coisa, mas a gente não quer perder mais, chega! O nosso rio está todo poluído, a nossa floresta está se acabando. A gente está ameaçado, mas a gente não pode deixar de pedir a demarcação da nossa terra, a nossa luta tem que ser conjunta”, afirma o cacique Juarez do povo Munduruku.
Foram mais de dez povos indígenas que participaram e apresentaram as ameaças que sofrem e as formas que têm de combater aliando conhecimento tradicional e tecnologia. Uma das ferramentas apresentadas foi o Alerta Clima Indígena, um aplicativo que permite monitorar o impacto de focos de calor, desmatamento e dados climáticos nas terras indígenas da Amazônia brasileira.
“É um prazer enorme ter ajudado a construir essa ferramenta, porque até 1992 quando meu avô Raoni fez a demarcação da terra indígena Capoto Jarina, a gente não tinha conhecimento da área e do que foi delimitado. Com esse aplicativo, hoje os mais velhos e mais novos estão voltando a se unir nessa questão de conhecimento e buscando entender como fazer com que ameaças que vem de fora não prejudiquem a gente. A região do Mato Grosso onde a gente mora tem alta produção de soja e o desmatamento está se aproximando das nossas terras. O Alerta Clima Indígena veio para ajudar para que essas ameaças não venham prejudicar a nossa terra”, diz Roiti indígena do povo Kayapó.
Entre as várias funcionalidades do aplicativo, é possível ter um histórico completo das ameaças climáticas das 380 terras indígenas da Amazônia, conhecer a realidade de cada uma e enviar alertas das ameaças identificadas. O aplicativo está disponível para download gratuito para usuários do sistema Android via Google Play.