Karina Custódio* e Elias Serejo*
O segundo e último dia do III Simpósio sobre Sistemas Agroflorestais com Cacaueiro (SSAF-CACAU) foi marcado por debates sobre políticas públicas para a produção cacaueira, destacando sua importância no contexto das negociações da COP30 (Conferência das Partes). O evento, realizado em Altamira (PA), foi encerrado com a abertura do Festival Internacional de Chocolate e Cacau, reforçando o papel central do cacau na economia da Amazônia.
Um dos tópicos abordados foi a nova legislação da União Europeia, que proíbe a importação de produtos de áreas desmatadas, independente da legalidade do desmatamento. Ana Gutierrez, da delegação da União Europeia, explicou que a legislação faz parte dos esforços do bloco para reduzir as emissões de gases poluentes até 2030. “Para a legislação, não há diferença entre desmatamento legal e ilegal; o objetivo é não importar produtos advindos de áreas desmatadas”, afirmou Gutierrez. Esta medida visa combater o desmatamento global e tem implicações diretas para países exportadores como o Brasil, que precisarão adaptar suas práticas para manter o acesso ao mercado europeu.
Plano Inova Cacau 2030
Outro destaque do simpósio foi a apresentação do Plano Inova Cacau 2030, uma iniciativa do governo federal detalhada por Lucimara Chiari, diretora da CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira). O plano visa mapear as necessidades e desafios da produção cacaueira no Brasil, incentivando práticas sustentáveis e apoiando os produtores rurais para tornar o país uma referência mundial na produção sustentável do fruto. “O Plano Inova Cacau 2030 busca promover a sustentabilidade e aumentar a competitividade da cacauicultura brasileira no mercado internacional”, explicou Chiari. A iniciativa promete impulsionar a produção sustentável, desde o plantio até a comercialização, com foco em inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental.
COP30: uma nova chance para o mundo
Guilherme Salata, diretor da CocoaAction Brasil, destacou as oportunidades trazidas pela COP30 para a cacauicultura brasileira. “A COP30 será uma oportunidade de discutir problemas importantes do país com o mundo. Mesmo que não possamos levar o cacau para os painéis principais, podemos criar eventos para realizar esse diálogo em paralelo”, afirmou Salata. A COP30, que será no Brasil, oferece uma plataforma global para promover práticas agrícolas sustentáveis e destacar os avanços do setor cacaueiro brasileiro.
Intercâmbio em medicilândia
Parte do evento incluiu uma visita a um sistema agroflorestal com cacau em Medicilândia (PA), maior produtor de cacau do país. Ilson Pereira, agricultor familiar do Mato Grosso, aproveitou a vinda para o evento e esteve no intercâmbio oferecido pela organização. “Nessa visita eu aprendi que dá para aproveitar da produção muito mais do que eu imaginei e trabalhar usando técnicas que resolvem muitos dos desafios que existem nas produções em SAF”.
Elisangela Trzeciak, coordenadora de projetos do IPAM em Altamira, enfatizou o papel do simpósio para a promoção da cultura cacaueira e o impacto positivo da cadeia na economia regional e nacional. “Eventos como o SSAF-CACAU são fundamentais para o intercâmbio de conhecimentos e técnicas que podem melhorar a produção sustentável de cacau. A cadeia do cacau é essencial para a economia da região, gerando empregos e fomentando o desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Festival Internacional de Chocolate e Cacau
O encerramento do simpósio coincidiu com a abertura do 3º Festival Internacional do Chocolate e Cacau, o Chocolat Xingu 2024. O evento, que vai até o próximo domingo, 16 de junho, reúne mais de 300 expositores no Centro de Eventos Vilmar Soares, em Altamira. O festival é o maior da América Latina, e nesta edição, contará com mais de 150 expositores de chocolate de Altamira e municípios vizinhos como Brasil Novo, Medicilândia, Vitória do Xingu, Placas, Anapu e Uruará. A expectativa é atrair mais de 150.000 visitantes, proporcionando uma plataforma de visibilidade global para mais de 200 marcas de chocolate.
Até domingo, os visitantes poderão explorar uma vasta gama de produtos derivados do cacau e chocolate, incluindo bombons, licores, nibs, barras de chocolate, trufas, artesanatos, bijuterias, bolo de mel e muitos outros. O festival não só celebra a riqueza do cacau amazônico, mas também promove práticas sustentáveis que alinham a produção cacaueira com a preservação ambiental.
*Analistas de Comunicação do IPAM