Fogo na Amazônia e no Cerrado: tempo é crucial para entender risco de incêndios

1 de março de 2024 | Notícias

mar 1, 2024 | Notícias

Por Camila Santana*

 

Uma das fronteiras agrícolas mais ativas do mundo, a zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia, tem sido caracterizada pela intensificação das pastagens, e, cada vez mais, pela substituição destas pela produção mecanizada de culturas como soja, algodão e milho.

Algumas práticas de manejo, como atear fogo intencionalmente para limpar áreas de cultivo, mostram a relação do fogo com o desmatamento. Nos últimos 36 anos, o desmatamento relacionado a esse tipo de incêndios representou 4% da área queimada no Cerrado e 13% na Amazônia.

Em artigo publicado na revista científica Nature, pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e demais instituições analisaram dados da rede MapBiomas e MapBiomas Fogo que revelam a influência do tempo na atividade de incêndios após a mudança no uso da terra.

A pesquisa demonstra que, após a limpeza de uma área com fogo, o risco de incêndios leva anos para diminuir gradualmente, com sua completa eliminação ocorrendo em até oito anos na Amazônia e sete anos no Cerrado. Onde o desmatamento é mais recente, revela o estudo, é justamente onde há maior risco de incêndio florestal.

“Os resultados são importantes para compreendermos os impactos das mudanças no uso da terra sobre os regimes de fogo nos dois biomas”, afirma Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM e do Centro de Pesquisa em Clima Woodwell e uma das autoras do estudo. “Os dados podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias mais eficazes para o manejo do fogo e para proteção da vegetação nativa”, ressalta.

A pesquisa constatou, ainda, que a conversão de pastagens em lavouras industriais como soja, milho e algodão resulta em uma supressão mais rápida do fogo, com baixas taxas de atividade já nos primeiros anos após a transição. Isso sugere que a agricultura mecanizada pode contribuir para a redução dos incêndios na região.

Impacto ao longo dos anos
As descobertas ajudam a entender melhor como as atividades humanas afetam os incêndios. Antes do estudo, o consenso era de que a expansão da agricultura e a mudança de florestas para pastagens eram as principais causas de incêndios na Amazônia e no Cerrado. Os dados mostram que quando a floresta é transformada em pasto, ocorrem mais incêndios – especialmente em períodos quentes e secos. Além disso, quanto mais antiga é a área agrícola, menos incêndios acontecem.

Daí a necessidade de incorporar o fator tempo em combinação com fatores climáticos ao analisar os riscos de incêndios. “Mais importante ainda: defendemos que a prevenção de novos desmatamentos e a proteção da vegetação nativa são fundamentais para garantir a preservação das florestas que regulam o clima regional e global”, afirmam os pesquisadores no estudo.

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Analista de Comunicação do IPAM, camila.santana@ipam.org.br*

Foto da capa:Victor Moriyama/ Amazônia em Chamas



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