Por Camila Santana*
Foi no cooperativismo que Maria Daiana Figueiredo da Silva enxergou a oportunidade de mudar a realidade de quilombolas, povos indígenas e assentados de Oriximiná e Alenquer, no Pará, e de Nhamundá, no Amazonas. A história de Daiana é uma jornada de transformação pessoal e comunitária, enraizada na conexão com a floresta amazônica e no extrativismo sustentável.
Nascida na comunidade quilombola de Cachoeira da Pancada, em Oriximiná, no Pará, Daiana foi criada observando seus pais extraírem da floresta o sustento da família. Por isso, entendeu, desde cedo, a importância do extrativismo sustentável e a relação íntima entre a floresta e o bem-estar de seu povo.
“Meus pais trabalhavam com a castanha, uma cultura que veio dos meus avós e que continua”, conta. Aos oito anos, Daiana precisou mudar-se para a cidade de Oriximiná em busca de educação, mas manteve suas raízes. Ali, formou-se em geografia pela UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará).
Após um ano de formada, Daiana começou a lecionar na comunidade Último Quilombo, na região do rio Trombetas, conhecida como o Palmares Amazônico. Ensinou crianças do primeiro ao quinto ano, mas rapidamente percebeu a vocação para além das salas de aula. O contato diário com as necessidades e os desafios de sua comunidade reacendeu o interesse pelo extrativismo sustentável.
União
Em 2019, junto com outros líderes locais, Daiana fundou a Coopaflora (Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte). Atualmente, é presidente da cooperativa mista que reúne membros quilombolas, indígenas e assentados no Pará e no Amazonas. “A gente viu que os nossos produtos do extrativismo eram vendidos para atravessadores por um preço muito baixo. Por esse motivo nós nos unimos para criar cooperativa”, relembra.
Desde então, Daiana e sua equipe trabalham para garantir boas práticas e a conservação da floresta, essencial para a saúde, alimentação e cultura de suas comunidades. A Coopaflora se dedica à comercialização de produtos não madeireiros da floresta, como cumaru, castanha, copaíba, andiroba e pimenta em pó.
A pimenta em pó, por exemplo, é feita por mulheres indígenas que passaram por cursos de capacitação sobre boas práticas e rastreabilidade do produto. Esse empoderamento feminino é uma das bandeiras de Daiana, que acredita na força e no potencial das mulheres de sua comunidade.
Mostrar a cultura por trás dos produtos também é uma bandeira da Coopaflora. “É importante para nós contar a história dos produtos aos consumidores, pois a floresta é muito importante para os povos indígenas e quilombolas”, relata ao explicar sobre o selo Origem Brasil, que os produtos da Coopaflora carregam consigo.
Em 2022, a cooperativa comercializou 98,5 toneladas de castanhas ao longo do período da safra, entre fevereiro e junho. As vendas totalizaram R$ 645,7 mil, um crescimento de 191% em relação à safra anterior, quando o total foi de R$ 221,7 mil.
Frutos do trabalho
O resultado alcançado é atrelado à proteção da floresta. Iniciativas como a da Coopaflora servem de modelos para uma bioeconomia justa, equitativa e sustentável. Estudo recém-lançado com a participação do IPAM traz o dado de que a manufatura de produtos da floresta amazônica tem sido considerada atraente para negócios de potencial econômico internacional. Até 2040, espera-se que somente o Estado do Pará possa gerar até 35 bilhões de dólares em receitas associadas à bioeconomia.
“Precisamos cuidar e proteger a floresta, pois ela é tudo para nós,” declara Daiana, reafirmando seu compromisso com a conservação e o bem-estar de seu povo. Sua trajetória inspira muitos e demonstra que proteger a floresta e melhorar a vida das comunidades que dela dependem é possível.
*Analista de Comunicação do IPAM
Foto: Rafael Coelho/ IPAM