Qual será o futuro das florestas tropicais, em particular o da Amazônia?

A figura ao lado ilustra o potencial de redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes de desmatamento na Amazônia. A previsão foi feita considerando dois cenários futuros. O primeiro cenário que podemos chamar de Cenário Pessimista, considera que as tendências atuais de desmatamento na região irão continuar no futuro. Sob este cenário, estima-se que um total de 2,7 milhões de km2 estariam desmatados até 2050, resultando na emissão de 32 bilhões de toneladas de carbono. Já o segundo cenário, ou o Cenário Otimista, o qual considera a criação e manutenção de unidades de conservação e terras indígenas e o aumento de governança na região, poderá, contudo, mudar o Cenário Pessimista, reduzindo em 40% a destruição da floresta nele prevista.(40, 41)

Entretanto, nota-se que as ações que tornam o segundo cenário mais otimista em relação ao primeiro ainda não são suficientes para evitar significantemente o desmatamento da região, uma vez que grande parte da Amazônia ainda seria desmatada e 17 bilhões de toneladas de CO2 ainda seriam lançadas na atmosfera. Para evitar que isso aconteça é preciso que haja uma busca contínua de melhores mecanismos e práticas de governança para reduzir o desmatamento na região, preservando assim o máximo possível da integridade dos seus ecossistemas e de seus habitantes.

Considerando a resposta da floresta tropical ao aquecimento do planeta (aumento da mortalidade de árvores, maior inflamabilidade, menor disponibilidade de água, etc.), se a sua derrubada e queima não forem interrompidas, grande quantidade de carbono continuará sendo liberada para a atmosfera nas próximas décadas. A combinação do desmatamento com as secas severas provocadas pelo fenômeno El Niño cada vez mais intensos e frequentes, provocará aumentos sucessivos da inflamabilidade florestal e, assim, elevação no número de incêndios florestais. Com o fogo desempenhando um papel chave na dinâmica da paisagem, o risco de ocorrer a savanização em larga escala da Amazônia será iminente.(11)

A figura mostra dois cenários previstos para a Amazônia em 2050. Se ações forem promovidas para aumentar a governança na região (cenário otimista), cerca de 1 milhão de km2 de floresta deixarão de ser derrubadas.(41)

 

Projeto Seca-Floresta: avaliação dos efeitos das mudanças climáticas sobre a floresta amazônica

Numa área de um hectare na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, Brasil, o IPAM, em colaboração com a WHRC (Woods Hole Research Center), EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e várias outras instituições brasileiras, realizou o maior experimento para avaliar os efeitos das mudanças climáticas sobre a floresta amazônica. Sabe-se que com o aquecimento global, combinado com o avanço do desmatamento, grandes áreas da Amazônia poderão sofrer reduções críticas de chuva. Especialmente em anos sob a influência do El Niño. Assim, o estudo do IPAM tentou simular este futuro de seca severa. Para isto, uma situação de seca foi produzida artificialmente por meio de painéis plásticos. O experimento simulou durante sete anos uma situação de exclusão parcial de 35-41% da precipitação das chuvas na floresta entre 2000 e 2004. A produtividade da madeira sofreu uma redução de 13% no primeiro ano e de até 62% posteriormente. No terceiro ano do experimento (2003), uma redução na produção de serrapilheira coincidiu com o aumento da mortalidade de árvores de grande porte, sinalizando que a quantidade de água disponível no solo poderia ter caído num nível abaixo do que é suportável para manter o funcionamento dos processos fisiológicos. Os resultados deste experimento demonstram que secas severas de vários anos podem reduzir substancialmente os estoques de carbono da floresta amazônica (Resultados foram publicados e estão disponíveis em: http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/363/1498/1839.full).(42)

(Foto: Paulo Moutinho)

Painéis dispostos sobre um hectare de floresta para excluir a chuva e avaliar os efeitos da seca prolongada.

 

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(11) Moutinho, P. 2006. Biodiversidade e Mudança Climática sob um Enfoque Amazônico. In: Rocha, C. et. al. Biologia da Conservação. Essências. São Carlos, RIMA

(40)Submissão a UNFCCC/SBSTA/2006/L.25 Reducing emissions from deforestation in developing countries. Submissão feita conjuntamente pelo The Woods Hole Research Center (WHRC) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

(41) Soares Filho et. al. 2006. Modelling conservation in the Amazon basin. Nature vol.440: 520-523

(42) Brando, P., D. Nepstad, E. Davidson, S. Trumbore, D. Ray, P. Camargo. Drought effects on litterfall, wood production, and belowground carbon cycling in an Amazon forests: results of a throughfall reduction experiment. Phil. Trans. Roy. Soc. B 2008 363, 1839-1848

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