Empresas líderes no mercado internacional lançaram nesta quarta-feira (25) uma carta com o objetivo de reconhecer a importância do Cerrado por seu papel na mitigação da mudança climática, por ser fonte de muitos dos sistemas de água doce do Brasil, e por ser uma região de produção para as commodities agrícolas. A carta apoia o Manifesto do Cerrado, um documento divulgado em setembro por organizações ambientalistas, que pede para as empresas que compram soja e carne do Cerrado defendam o bioma.
Na carta, 23 empresas, entre elas Carrefour, McDonald’s, Nestlé, Unilever e Walmart, afirmam que estão empenhadas em deter a perda de vegetação nativa associada à produção de produtos agrícolas e se comprometem em trabalhar com a indústria, produtores, governos e a sociedade civil para proteger paisagens naturais de importância mundial dentro de um cenário de boa governança e políticas de planejamento de terras.
Entre 2013 e 2015 o Brasil destruiu 18.962 km² de Cerrado. Isso significa que a cada dois meses, neste período, perdeu-se no bioma o equivalente à área da cidade de São Paulo. Este é um ritmo cinco vezes mais rápido que o medido na Amazônia, o que torna o Cerrado um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta.
Para Tiago Reis, pesquisador de políticas ambientais do IPAM, o apoio das empresas é um passo importante, já que a principal causa de desmatamento no Cerrado é a expansão do agronegócio sobre a vegetação nativa.
Retirar essa cobertura vegetal coloca em risco o equilíbrio do sistema e afeta diretamente todos os biomas interligados, como a Amazônia e a caatinga. “Além disso, esse desmatamento ameaça o equilíbrio ambiental que garante a produção agrícola no Brasil, uma vez que a perda de vegetação nativa do Cerrado compromete a formação de chuvas por evapotranspiração”, explica Reis.
O Cerrado estoca o equivalente a 13,7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, o principal gás causador do efeito estufa. Isso representa quase onze vezes o volume total do que o Brasil poderá emitir em 2030, de acordo com sua NDC. Se esta conversão acelerada do Cerrado para a agricultura continuar, o cumprimento dos compromissos internacionais do Brasil nas Convenções do Clima e de Biodiversidade será afetado.
Segundo Edegar Rosa, coordenador do programa Agricultura e Alimentos do WWF-Brasil, o Cerrado é extremamente importante sob o ponto de vista de regulação climática e hídrica, além de ser a savana com maior biodiversidade do planeta. “Partindo de referências de sucesso na Amazônia, um maior compromisso da iniciativa privada será chave para a proteção do bioma”, explica.
Para Cristiane Mazzetti, da campanha de florestas do Greenpeace, as empresas deram um importante passo ao apoiar o pleito da sociedade civil expresso no Manifesto do Cerrado. “Trata-se de uma clara sinalização que essas empresas dão aos seus fornecedores de que o mercado não aceitará mais produtos com origem no desmatamento, seja na Amazônia ou no Cerrado. Esperamos que o próximo passo seja o anúncio de políticas concretas de compra alinhadas com o critério do desmatamento zero no Cerrado.”
Para ler a carta assinada pelas empresas, acesse: https://ipam.org.br/bibliotecas/empresas-internacionais-apoiam-o-desmatamento-zero-no-cerrado/