Presidente do Conselho Deliberativo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Artaxo concedeu entrevista para a Newsletter Um Grau e Meio. Um dos maiores especialistas em clima do país, o Coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da USP (Universidade de São Paulo) faz um prognóstico para a área ambiental este ano e defende um novo modelo econômico como peça-chave para enfrentar a emergência climática.
Quais os maiores desafios para a área ambiental no mundo em 2025?
Acredito que são dois. Primeiro, certamente, é acabar com a exploração de combustíveis fósseis, que é o âmago da questão das mudanças climáticas globais e das alterações que estão fazendo na composição da atmosfera. O segundo desafio é basicamente mudar o atual modelo econômico baseado na superexploração de recursos naturais como um todo, que basicamente está sufocando a questão ambiental, a questão social, a questão econômica e assim por diante.
Quais as decisões o senhor considera estratégica para termos melhores resultados na área ambiental este ano?
A decisão mais estratégica para termos melhores resultados na área ambiental em 2025, certamente tem a ver com a questão de mudarmos a filosofia do nosso sistema econômico como um todo, que atualmente é baseado na superexploração dos recursos naturais, no esgotamento dos potenciais que os nossos ecossistemas podem servir como serviços ecossistêmicos e, além disso, também é uma política global e mundial para a redução das desigualdades socioeconômicas. A questão da redução das desigualdades socioeconômicas é importante porque o 1% mais rico do nosso planeta é responsável por uma parcela enorme das emissões de gás de efeito estufa. As desigualdades sociais estão, sim, ligada com a questão ambiental e com a questão climática como um todo.
De que forma o Brasil pode assumir o protagonismo com a pauta ambiental?
O Brasil, além da questão da floresta amazônica, é uma das grandes economias do planeta e também é o sexto maior emissor de gás de efeito estufa do nosso planeta. Então pode dar um exemplo ao zerar o desmatamento da Amazônia até 2030, como o país está comprometido, e acabar com a exploração de combustíveis fósseis, fazendo a transição energética da maneira mais rápida e mais eficiente possível, e com isso ganhar protagonismo internacional e aumentar o nosso protagonismo na questão. Climática em nível global. A COP30 é certamente um momento muito importante para o Brasil, onde ele pode realmente recuperar o protagonismo que acabou perdendo ao longo dos últimos anos.
O senhor acredita no avanço da exploração de petróleo na foz do Amazonas?
É importante para o Brasil aproveitar o seu gigantesco potencial de geração de energia solar e energia eólica, que hoje conseguem produzir energia com um preço mais barato do que a queima de combustíveis fósseis e com muito menores emissões de gases de efeito estufa. Então, basicamente, eu acho que é fundamental que o Brasil deixe de explorar petróleo e passe a ser uma potência mundial de geração de energia renovável, de energia com baixas emissões de carbono. E isso inclui o fim da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o fim dos planos para fazer isso, porque isso não é do interesse da sociedade brasileira, pode ser do interesse de algumas empresas. A sociedade brasileira, com certeza, não tá interessada na destruição dos ecossistemas muito sensíveis brasileiros que nós temos como o ecossistema da Foz do Rio Amazonas.
2024 foi o ano mais quente da história desde o período pré-industrial. Essa é uma tendência?
2024 foi o ano mais quente dos últimos 125 mil anos e, obviamente, com o aumento das emissões de gases de efeito estufa, em particular da queima de combustíveis fósseis que estamos observando, nós vamos continuar nesta trajetória de aquecimento global até que a gente consiga implementar políticas de acabar com a exploração e o uso de combustíveis fósseis como um tudo. Então, basicamente, nós temos que mudar a trajetória do nosso desenvolvimento para um desenvolvimento que seja muito mais sustentável e com muito menores emissões de carbono e com menores desigualdades sociais, que são os aspectos que caracterizam o atual modelo de desenvolvimento econômico.
Há uma descrença em relação aos resultados de COPs. Há uma fórmula que o Brasil pode seguir para a COP30 ter resultado concreto?
Há uma descrença em relação aos resultados das COPs, porque a indústria dos combustíveis fósseis, através de lobbies junto a governos e junto às próprias COPs, basicamente não está permitindo políticas que levem a uma eliminação dos combustíveis fósseis, como o painel intergovernamental de mudanças climáticas, deixa muito claro que é o que temos que fazer. Então esperamos que a COP30 seja uma COP da virada, no sentido de levar em conta mais os interesses da população e menos em conta os interesses de 30 ou 40 grandes indústrias de petróleo, que são responsáveis por mais de 80% das emissões de gás de efeito estufa do nosso planeta.
Qual a sua expectativa em relação aos resultados?
É muito cedo ainda para expressar as expectativas em relação aos resultados da COP30. Isso vai depender da competência do Itamaraty nas negociações e do Ministério do Meio Ambiente, do Ministério da Ciência e Tecnologia, então basicamente esperamos que ao longo dos próximos meses já tenhamos boas notícias do Brasil liderando um caminho novo para o nosso planeta, que é o caminho da sustentabilidade ambiental, climática e também social, através da redução de desigualdades sociais.