Karina Custódio*
A implementação de plano para fim dos combustíveis fósseis pode ser decisiva na proteção da Amazônia, para a produção agropecuária e segurança alimentar, apontam pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Defendida pelo governo brasileiro na COP30 (30ª Conferência das Partes, em inglês) o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis ganhou o apoio de 82 países apesar de não estar na pauta das negociações oficiais da Conferência.
“O Brasil tem feito articulações para o mapa do caminho sair das conversas informais e ir para negociações oficiais. Essas movimentações e o apoio internacional são muito bem-vindos. A implementação de uma transição para o fim dos combustíveis fósseis é essencial para impedir que a temperatura continue aumentando e para garantirmos que as florestas, a produção agropecuária e a segurança alimentar deixem de ser ameaçadas pelas mudanças climáticas”, avalia André Guimarães, diretor-executivo do IPAM e enviado especial da presidência da COP30 para asociedade civil.

André Guimarães no Fórum Internacional de Agricultura Familiar e das Comunidades Tradicionais, ocorrido na Agrizone. Foto: Lucas Guaraldo/IPAM
Produção agropecuária
Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM, estuda a relação entre floresta, agropecuária e mudanças climáticas. Ela explica por que a transição para longe dos combustíveis fósseis é importante para o Brasil e o mundo.

Ludmilla Rattis no evento: Agricultura Tropical Regenerativa: Uma Resposta Brasileira à Crise Climática e à Segurança Alimentar Global, na COP30. Foto: Suellen Nunes/IPAM
“O mapa do caminho para o fim do uso dos combustíveis fósseis é essencial para a gente continuar produzindo comida no futuro, porque há limites da adaptação da agricultura às novas condições climáticas e na mitigação também, pois se a temperatura continuar aumentando não sobrarão alternativas para o sistema agrícola”, aponta.
“Mesmo que a gente faça o uso de toda a tecnologia que temos hoje disponível para poder adaptar a agricultura as condições impostas pelas mudanças climáticas, não vamos conseguir solucionar tudo se não houver uma transição para o fim dos combustíveis fósseis. No Centro-Oeste, 35% das fazendas já estão fora do ideal climático e em 2060 serão 70%. Esses resultados fazem parte de uma pesquisa que considera a mudança climática global, causada principalmente pela emissão de combustíveis fósseis. Então, não tem solução para agricultura se não tiver phase out dos fossil fuels”.
Alternativa ao petróleo

Paulo Moutinho em evento paralelo à COP30: “TransCerrado: uma expedição científica de bicicleta pela preservação do Cerrado”, realizado na Casa Balaio. Foto: Carol Rosignoli/IPAM
O IPAM também alerta que o prosseguimento da exploração da Foz do Amazonas, após licença concedida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), requer mais diálogo com sociedade civil e povos da floresta, além de maior transparência. O Instituto demonstrou em publicação científica que os royalties do petróleo não geram o desenvolvimento humano esperado e propôs royalties verdes como uma alternativa segura para o desenvolvimento econômico, para as populações e o meio ambiente.
“Avançar com a exploração de petróleo, em especial na Amazônia, é um tremendo contrassenso. Precisamos lembrar que o petróleo é carbono fóssil. Não está, até que seja explorado, na biosfera. Aumentar a emissão de combustíveis fósseis será o meio de acabar mais rapidamente com a vida no planeta e com as florestas que nos restam. Simples assim. E, mais ainda, achar que a proteção das florestas ou a redução das emissões de desmatamento podem compensar as emissões do petróleo, como vem sendo proposto, é o mesmo que tratar o alcoolismo com whisky. É preciso preservar florestas em um mundo livre de combustíveis fósseis”, indica Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM.
Jornalista do IPAM, karina.sousa@ipam.org.br*


