Todo ano são registrados casos de fogo na Amazônia e no Cerrado com queimadas, incêndios florestais e liberação de fumaça e emissão de gases do efeito estufa.
O que pouca gente sabe é que o fogo natural é um fenômeno raríssimo no bioma Amazônia. Já no Cerrado, por mais que possa ocorrer naturalmente no período entre a troca da estação seca para chuvosa devido a raios, a ação humana tem modificado esse regime por mais de 100 mil anos.
Por isso, o IPAM responde as perguntas mais comuns sobre o tema. Aprenda e dissemine informações baseadas na ciência!
Acompanhe mais sobre o tema no nosso Instagram, Facebook e Linkedin
DINÂMICAS DO FOGO
Todo ano tem fogo na Amazônia por causa da estação seca?
Sim, mas por um único motivo: alguém acende um fósforo.
A floresta amazônica é um ambiente úmido, e o fogo natural acontece raríssimas vezes no bioma – a cada 500 anos ou mais. Mesmo na estação seca, quando há condições ambientais e material combustível mais favoráveis, a umidade presente na região não permitiria tantos focos de calor se não houvesse a ação humana como fonte de ignição constante.
O fogo na Amazônia é resultado de três fatores, chamado de “triângulo do fogo”:
- Condições ambientais: no “verão amazônico”, entre maio e outubro, quando as chuvas são escassas e o clima fica mais seco, o ambiente se torna mais suscetível ao fogo;
- Material combustível: vegetação seca em abundância, que podem ser folhas e galhos caídos da copa das árvores e até árvores derrubadas;
- Ignição: a fonte do fogo, principalmente provocada por atividades humanas, seja intencionalmente (para desmatamento ou manejo) ou acidentalmente.
ATENÇÃO!
Com as mudanças climáticas, as florestas estão mais inflamáveis devido ao “efeito de borda”, margem da floresta encostada em áreas desmatadas ou muito degradadas. Isso significa que, na presença de uma fagulha, o material combustível ali presente (como as folhas secas no chão) é mais suscetível ao fogo, o que pode levar a um incêndio.
NO ENTANTO…
Mesmo com uma floresta mais inflamável, o incêndio só acontece quando há uma fonte de ignição, que continua sendo o ser humano.
Afinal, é incêndio, queimada de pasto ou fogos de artifício?
Bem, existem três tipos de fogo na Amazônia e no Cerrado:
- Fogo de manejo: empregado por produtores rurais de grande, médio e pequeno porte, inclusive por populações tradicionais, para “limpar” o terreno de pragas e renovar o pasto, seja nativo ou plantado. Acontece principalmente em áreas de pastagem e é sempre intencional;
- Fogo de desmatamento recente: após a derrubada da vegetação, queimar os resíduos orgânicos é uma alternativa mais barata e eficiente do que o uso de tratores para triturar a matéria vegetal. Além disso, as cinzas ajudam a nutrir o solo amazônico para o plantio de pasto, por exemplo. É sempre intencional.
- Incêndios florestais: é o fogo que atinge a floresta viva, espalhando-se rapidamente pelas folhas secas e material orgânico no solo. Pode ser acidental, quando escapa de uma queimada próxima, ou intencional, quando colocado propositalmente com a intenção de degradar a floresta.Esse tipo de incêndio causa grande destruição e ameaça a biodiversidade.
Confira como está o mais recente panorama do fogo no Brasil
O que o fogo tem a ver com o desmatamento?
O fogo está intimamente ligado ao desmatamento, pois é a forma mais barata e rápida de “limpar” áreas recém-desmatadas. Por muitos anos, a relação entre as duas ações era direta: quanto mais alta era a taxa de desmatamento, maior o uso do fogo na região, e vice-versa.
Em 2023, no entanto, essa realidade mudou. Apesar do desmatamento da Amazônia ter diminuído 50%, o bioma aumentou o fogo depois de passar pela pior seca em 125 anos. Hoje, as condições climáticas e a abundância de material combustível induzem a mais escape de fogo.
A vegetação se recupera depois da queimada?
Sim, mas não como era antes. A composição vai mudar: as espécies pioneiras, que crescem melhor em ambientes abertos, dominam o ambiente. Se a vegetação em pé for queimada várias vezes consecutivas, haverá uma presença maior de espécies com maior resistência às temperaturas e ao fogo, seja na Amazônia ou no Cerrado.
COMPARAÇÕES ÀS OUTRAS REGIÕES DO PLANETA COM O FOGO
Por que tanto alarde sobre os incêndios na Amazônia, se na Califórnia e na Austrália as florestas queimam todo ano?
Porque, ao contrário das florestas da Califórnia e da Austrália, onde o fogo é parte daquele sistema, queimadas e incêndios florestais não são naturais da floresta amazônica. Aqui, a origem é a transformação forçada da paisagem pelo ser humano. Aqui, a origem é a transformação forçada da paisagem pelo ser humano. Além disso, a Amazônia abriga uma biodiversidade incomparável, e sua destruição não só ameaça espécies únicas, mas também agrava as mudanças climáticas globais ao liberar grandes quantidades de carbono.
E os outros países da Panamazônia? Queimam tanto quanto o Brasil?
Sim. E o fogo na Amazônia espalhado pelos demais países da América do Sul também está relacionado à ação humana.
SOLUÇÕES
Como agir para evitar grandes incêndios nos biomas?
O IPAM aponta quatros grandes frentes de atuação visando mitigar os efeitos das queimadas e proteger a floresta:
1 – Prevenção
A primeira frente é prevenir queimadas. Isto envolve desenvolver e expandir programas de educação e conscientização para proprietários rurais e comunidades locais sobre os riscos do uso do fogo, apresentando alternativas sustentáveis.
Recentemente, o Brasil aprovou a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (Lei 14.944/24). A nova norma estabelece diretrizes para o uso do fogo em áreas rurais, com foco na sustentabilidade e na proteção da biodiversidade.
2 – Fiscalização
A segunda frente é o combate ao crime. Isso inclui intensificar e fiscalizar a aplicação de penalidades mais rigorosas para o uso ilegal do fogo, especialmente em áreas florestais.
3 – Combate
Reforçar as operações de combate ao uso ilegal do fogo, especialmente em áreas florestais. E para isso, é necessário uma alocação mais eficaz e eficiente dos recursos disponíveis.
4 – Destinação
A destinação das FPNDs (Florestas Públicas Não Destinadas) a povos indígenas e comunidades tradicionais e demais usos florestais. Dados da rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte, indicam que, nas terras indígenas, menos de 1% da vegetação nativa foi perdida de 1985 a 2023. Esses territórios, que ocupam 13% do país, protegem 112 milhões de hectares de floresta. Saiba mais na plataforma do Observatório das Florestas Públicas.
Confira as ações mais específicas de redução de fogo no Cerrado.
MONITORAMENTO
Como o satélite vê o fogo nos biomas?
Os satélites detectam o fogo nos biomas brasileiros principalmente por meio de sensores que capturam o calor emitido pelas chamas, utilizando o infravermelho térmico.
Além disso, satélites como o Landsat e o Sentinel monitoram as queimadas detectando mudanças na vegetação. Eles utilizam imagens de luz visível e infravermelho próximo para registrar a redução da cobertura vegetal e a degradação da área após o fogo.
Essas alterações na vegetação são detectadas comparando imagens antes e depois dos incêndios, o que permite mapear áreas queimadas e entender os impactos ambientais ao longo do tempo.
Foco de calor e queimada é a mesma coisa?
Não. Um foco de calor é uma medida captada por satélites que detectam um ponto de alta temperatura no solo, identificando-o como fogo, mas sem determinar qual é o tipo. Esse ponto identificado pode ser uma queimada de pastagem, fogo de desmatamento recente ou incêndio florestal. Já a área queimada refere-se ao evento específico em que ocorre a combustão de vegetação ou material orgânico em uma área delimitada.
A gente sabe qual é a área queimada?
Existem algumas medições de área queimada, ou cicatriz de fogo, feitas por cientistas do Brasil e de outros países, com diferentes metodologias. Elas são bastante diferentes entre si, cada qual com suas limitações. Um exemplo é o Mapbiomas Fogo.
Quais são os principais dados para interpretar a situação? Onde encontrar dados para fazer a análise correta?
Usamos o monitoramento oficial, fornecido pelo INPE.
Para o fogo, a principal fonte é o Programa Queimadas.
Aqui é possível filtrar por Estado, bioma e região, inclusive baixando os dados em csv.
Além do INPE, outras instituições, como a Nasa, monitoram o fogo diariamente. O MapBiomas Fogo, por sua vez, traça o perfil do fogo pela cicatriz que deixa em todo o Brasil.
—
Você chegou até aqui! Que bom que buscou se informar sobre o fenômeno que está acontecendo ao seu redor.
Continue sua jornada pelo jornalismo ambiental e assine a Um Grau e Meio, newsletter quinzenal exclusiva e gratuita do IPAM.
Conteúdo atualizado em setembro 2024 para a Campanha “Foco no Fogo”