Proteção de mata ciliar deve ser ampliada para proteger biodiversidade

5 de abril de 2024 | Notícias

abr 5, 2024 | Notícias

Karina Custódio*

Riachos situados em áreas florestais apresentam maior diversidade e quantidade de insetos aquáticos em comparação com aqueles localizados em regiões agrícolas – mesmo os que possuem 30 metros de suas matas ciliares protegidas, como exigido pelo Código Florestal. É o que aponta pesquisa desenvolvida na estação de pesquisa Tanguro, laboratório a céu aberto do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), localizado na zona de transição entre Amazônia e Cerrado, no Mato Grosso.

Mesmo com a presença de mata ciliar protegida, os riachos em áreas agrícolas registraram metade do número de insetos em comparação com áreas florestais. Em riachos localizados em áreas agrícolas sem proteção da mata ciliar, a situação é ainda pior: nove gêneros de insetos identificados em riachos florestais não foram encontrados nas coletas, enquanto insetos adaptados às mudanças na vegetação se proliferaram – fenômeno conhecido como homogeneização biótica.

A análise foi feita por meio de coleta de dados em nove riachos: três localizados em florestas, três em áreas agrícolas com matas ciliares conservadas e três em áreas agrícolas com mata ciliar desmatada.

Nubia Marques, pesquisadora associada ao IPAM e uma das autoras do estudo, explica que a extinção de insetos aquáticos pode desencadear uma série de consequências, como a diminuição de outras espécies que se alimentam desses insetos, o aumento de grupos consumidos por insetos aquáticos e até alteração da qualidade da água.

A pesquisadora alerta que a falta de proteção à mata ciliar também pode comprometer a produção agrícola. “O desmatamento pode provocar uma alteração no ciclo hidrológico, diminuindo a quantidade e qualidade da água que poderia estar sendo usada na agricultura”. Ouça em detalhes as consequências do desmatamento de matas ciliares, explicadas por Marques:

 

A pesquisadora sugere que aumentar a zona de proteção obrigatória em matas ciliares determinada pelo Código Florestal é um caminho para evitar a perda de biodiversidade, além da conscientização sobre a importância da conservação junto a produtores agrícolas. Outra medida apontada no estudo é a preservação de áreas florestais em propriedades rurais, possibilitando que as populações de insetos aquáticos se revitalizem.

Mudanças climáticas

O estudo também verificou que, em riachos sem matas ciliares, a temperatura é maior do que aqueles cujas matas ciliares estão protegidas. Marques elucida que as mudanças climáticas podem intensificar o aumento da temperatura e a perda de biodiversidade.

“Com as mudanças climáticas, o mundo pode aquecer em média um ou dois graus. Esse aumento impacta a biodiversidade dos organismos de uma forma brutal pois existem espécies que podem desaparecer”, explica.

O estudo foi realizado pelo IPAM, por meio do PELD (Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração), em parceria com o Woodwell Climate Research Center e a UFPA (Universidade Federal do Pará) e pode ser acessado online aqui.



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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