Alta de 37% na emissão por incêndios acende alerta para proteção da vegetação nativa

15 de dezembro de 2023 | Notícias

dez 15, 2023 | Notícias

Por Bibiana Alcântara Garrido*

As emissões por incêndios não associados ao desmatamento subiram 37% em 2022, na comparação com 2021. Foram 209 milhões de toneladas de gás carbônico em 2022 contra 152 milhões em 2021. Esse tipo de fogo afeta a vegetação nativa sem que haja, necessariamente, desmatamento depois.

Só na Amazônia, o aumento foi ainda maior: as emissões de gases por fogo não associado ao desmatamento subiram 73% no bioma. Passando de 91 milhões de toneladas de gás carbônico em 2021 para 157 milhões em 2022.

Mesmo com a redução nas emissões gerais do Brasil, a alta na emissão por fogo descontrolado preocupa pesquisadores, que alertam para a necessidade de proteção da vegetação nativa. A análise é do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa), publicado pelo Observatório do Clima. Na iniciativa, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) produz os dados de emissões por mudanças de uso da terra.

“Esses dados mostram a relevância das emissões de gases do efeito estufa decorrentes dos incêndios florestais para o Brasil. Estamos falando de uma quantidade de emissões considerável, que não está entrando na conta e que, mesmo com o desmatamento chegando a zero, as florestas afetadas por incêndios continuarão a emitir”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

Se fossem contabilizados no inventário nacional de emissões, os gases emitidos por incêndios não ligados ao desmatamento acrescentariam cerca de 134,3 milhões de toneladas de gás carbônico nas emissões anuais brasileiras de 1990 a 2022.

“Os resultados das estimativas revelaram que, além de reduzir o desmatamento, precisamos urgentemente criar estratégias para evitar a degradação florestal – sendo o fogo um de seus causadores. Além disso, a literatura científica tem apontado outros causadores de degradação tão perigosos como o fogo, que são potenciais fontes de emissão de gases de efeito estufa ainda não incluídas nos inventários nacionais”, comenta Celso Silva-Junior, pesquisador do IPAM.

No total para o período analisado, esse tipo de fogo emitiu 4,3 bilhões de toneladas de gás carbônico. A Amazônia e o Cerrado concentram 96% desse montante. Os dois biomas são os mais afetados pelo fogo no Brasil. A contribuição das emissões por incêndios dentro do setor de mudanças de uso da terra subiu de uma média de 30% ao ano para 43% no ano passado.

“Para calcular as emissões usamos mapas de biomassa e de fogo em vegetação nativa e aplicamos taxas medidas em campo para estimar os fluxos de CO2. Os resultados fornecem o balanço líquido, considerando o carbono que é perdido no momento do fogo e as emissões e remoções a partir da dinâmica da vegetação depois do fogo. Esse cálculo é importante pois traz números precisos e calibrados a partir do monitoramento contínuo de parcelas permanentes”, acrescenta Camila Silva, pesquisadora do IPAM responsável pela análise.

*Jornalista de ciência do IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br
Capa: área queimada na Amazônia ao norte de Mato Grosso (Bibiana Garrido/IPAM)



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