Queda no desmatamento da Amazônia puxa redução de emissões do Brasil em 2022

23 de novembro de 2023 | Notícias

nov 23, 2023 | Notícias

Por Bibiana Alcântara Garrido*

Novos dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa) mostram que a queda no desmatamento da Amazônia contribuiu para a redução das emissões do Brasil em 2022. Considerando todas as fontes de gases poluentes, o país emitiu 8% a menos (2,3 bilhões de toneladas de carbono equivalente) na comparação com 2021 (2,5 bilhões). No recorte das emissões por mudanças de uso da terra, a redução foi de 15%.

Divulgado nesta quinta-feira, 23, o relatório do SEEG é uma produção de instituições que integram o Observatório do Clima. O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) é responsável pela produção e análise dos dados de emissões por mudanças de uso da terra, como o desmatamento e as queimadas associadas à prática. Em 2022, esse setor concentrou 48% (1,12 bilhão de toneladas de carbono equivalente) das emissões totais do país.

Veja os destaques no lançamento do relatório no canal do Observatório do Clima.

A medida do carbono equivalente é utilizada para equiparar os efeitos de diversos gases do efeito estufa, como o metano e o óxido nitroso, aos do gás carbônico, mais presente na atmosfera.

Nem tanto assim

De todas as emissões brutas – a soma de todos os gases liberados – por mudanças de uso da terra no ano passado, 78% (831 milhões de toneladas) vieram do desmatamento da Amazônia e 12% (134 milhões) do desmatamento do Cerrado.

Cientistas explicam que a queda nas emissões em 2022 só ficou mais evidente porque é comparada ao pico de 2021, quando altos níveis de derrubada foram registrados nos biomas brasileiros. Mesmo com a desaceleração, 2022 ainda tem a terceira maior emissão do país desde 2005.

“Apesar de estarmos ainda em níveis de desmatamento preocupantes, tanto na Amazônia quanto no Cerrado, esses resultados são um bom sinal de que o combate ao desmatamento na Amazônia tem surtido efeito. É o caminho que precisamos tomar, para que o Brasil possa ter alguma chance de cumprir as metas climáticas assumidas no Acordo de Paris, com suas contribuições nacionalmente determinadas”, comenta Bárbara Zimbres, pesquisadora do IPAM.

Estados e municípios

Amazonas e Pará foram os estados que mais diminuíram suas emissões brutas, com redução de 66% e 38%, respectivamente, na comparação de 2022 com 2021. Mato Grosso foi o estado que mais aumentou suas emissões no mesmo período, com alta de 67%.

Todas as cidades com as maiores emissões brutas do país em 2022 estão localizadas no bioma Amazônia. As cinco que mais emitiram são, em ordem decrescente: Altamira e São Félix do Xingu, no Pará; Porto Velho, em Rondônia; Novo Progresso, no Pará; e Colniza, em Mato Grosso. Alguns dos municípios que mais emitiram fazem transição com o Pantanal, como Porto Esperidião, em Mato Grosso, na sexta posição; e com o Cerrado, como Pontes e Lacerda, também em Mato Grosso, na oitava posição.

Em um recorte para o Cerrado, a maioria das cidades que mais emitem estão no Matopiba, região de fronteira agrícola composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. As cinco que mais emitiram são, em ordem decrescente: São Desidério, na Bahia; Balsas, no Maranhão; Formosa do Rio Preto, na Bahia; Paranatinga, em Mato Grosso; e Uruçuí, no Piauí. A novidade para o bioma está no aparecimento de mais municípios de Goiás entre os 20 maiores emissores, como Niquelândia, na sétima posição.

Fogo além do desmate

Além do fogo associado ao desmatamento, geralmente ateado depois da derrubada para dar sequência à “limpeza” de uma área, o SEEG também calcula as emissões líquidas por fogo não ligado a um desmate específico. Incêndios descontrolados em vegetações, por exemplo, podem se encaixar nessa categoria. A emissão líquida é um saldo do que foi emitido pela queima e removido da atmosfera pela vegetação.

O fogo não associado ao desmatamento resultou na emissão de 4,3 bilhões de toneladas de carbono equivalente entre 1990 e 2022. Juntos, Amazônia e Cerrado se encontram com 96% desse montante.

A contribuição desse tipo de fogo para as emissões do setor de mudanças de uso da terra vem aumentando: no período analisado, foi em média 30%, mas subiu para 43% em 2022.

“É importante ter atenção para as emissões por fogo que não estão associadas ao desmatamento. Apesar da redução no desmatamento, o aumento do fogo se deve às condições climáticas de seca e alta inflamabilidade da vegetação. O fogo tem atingido áreas de vegetação nativa cada vez maiores, e se não for combatido com políticas específicas, pode se tornar a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa dentro do setor”, diz Camila Silva, pesquisadora do IPAM.

Remoções

O SEEG também calcula as remoções de gases do efeito estufa da atmosfera, serviço ambiental prestado pela vegetação. As áreas protegidas foram responsáveis por 61% (386 milhões de toneladas de carbono equivalente) das remoções em 2022. A vegetação secundária, ou seja, aquela que brota naturalmente depois de um desmate raso, foi responsável por 38% (241 milhões) das remoções.

Na prática, as remoções funcionam como uma retirada dos gases de efeito estufa da atmosfera. Esses gases removidos pela natureza são armazenados no solo, nas raízes, folhas, ou na própria estrutura de árvores e plantas.

“A remoção em áreas protegidas se dá principalmente na Amazônia, com sua grande extensão de unidades de conservação e terras indígenas. No entanto, para que esses territórios prestem esse serviço de combate às mudanças do clima, é preciso que eles sejam protegidos do desmatamento e da degradação que os têm ameaçado”, acrescenta a pesquisadora Bárbara Zimbres.

Outros setores

Depois do setor de mudanças de uso da terra, a agropecuária é a segunda maior fonte de emissões no Brasil: foram emitidas 617 milhões de toneladas de carbono equivalente em 2022, um aumento de 3% em relação a 2021. Esse setor concentra 27% das emissões do país.

O setor de energia fica em terceiro, com a emissão de 412 milhões de toneladas de carbono equivalente, uma queda de 5% em relação ao ano anterior – depois de um aumento recorde de 12% em 2021. Os setores de resíduos (91 mi de toneladas, oscilação de 1% para baixo) e de processos industriais (78 mi de toneladas, queda de 6%) representam, respectivamente, 4% e 3% das emissões nacionais.

*Jornalista de ciência no IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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