Por Maria Garcia*
O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), a BMTE (Belo Monte Transmissora de Energia), a FBDS (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável) e parceiros locais entregaram entre os dias 16 e 20 de outubro nove agroindústrias de farinha e polpa de frutas em oito municípios do Pará. Essa é a segunda fase do projeto Apoio a Produção Sustentável em 12 municípios do Pará, com recursos captados junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que visa fortalecer as cadeias produtivas sustentáveis de fruticultura e mandiocultura do estado.
Com os equipamentos e estrutura das agroindústrias, agricultores(as) organizados em grupos familiares e/ou organizações socioprodutivas têm a oportunidade de produzir alimentos de qualidade conforme as exigências fitossanitárias, verticalizar a produção de forma sustentável, estabelecer parcerias para escoamento da produção e comercializar dos produtos em escala local e estadual.
Do rústico para a agroindústria
O agricultor familiar Luiz Gonzaga, mais conhecido como seu Luiz, herdou da sua mãe o ofício de fazer farinha na zona rural do município de Floresta do Araguaia (PA). Ele mantém essa tradição familiar e produz no mínimo três sacas de farinha por semana com mais 12 membros da família a partir de equipamentos que ele próprio fabricou.
A prensa de mandioca e o cocho foram construídos com a madeira que dispunha em sua propriedade. Apesar de úteis, o produtor já sentia que era preciso melhorar. “É necessário muito trabalho braçal para produzir farinha e agora já estou nos meus 60 anos, quero descansar”, apontou Gonzaga.
A nova estrutura recebida, feita de alvenaria, possui cinco espaços de produção: área de recepção, área de pubagem, área molhada, área seca e área de armazenamento. Ela foi equipada com um ralador industrial, prensa de metal, cocho para resfriagem da farinha e forno manual para a torra, etapa final de produção.
Outra produtora familiar também beneficiada por outra casa de farinha foi Eldir Maciel, moradora de uma comunidade rural no município de Novo Repartimento (PA). Ela acompanha as atividades do marido na mandiocultura, desde o cultivo e plantio da mandioca brava até o produto da farinha estar em mãos. “Manoel [de Souza, produtor e marido de Eldir] sempre tinha aquela dúvida se um dia ia ter uma casa de farinha porque sempre foi o sonho dele. Eu dizia para ele não desistir. Por isso, eu só tenho a agradecer”, comentou a produtora.
Antônio Ribeiro da Silva, que produz há três anos ao menos 200 kg de polpa de acerola por mês no município de Sapucaia (PA), quer aproveitar o freezer e a despolpadeira industrial recentemente entregues com a agroindústrias de polpa de frutas para aumentar a sua produção e ampliar os pontos de comércio. Sapucaia não será mais o limite da distribuição. “Essa casa pode ser a fonte para uma geração que ainda não nasceu, que vai se alimentar e se saborear com os produtos que vêm dela”, disse o produtor.
Além de Floresta do Araguaia, Sapucaia e Novo Repartimento, as comunidades beneficiadas também fazem parte dos municípios de Pacajá, Itupiranga, Curionópolis, Xinguara e Conceição do Araguaia. Em dezembro, serão entregues mais oito agroindústrias em outros quatro municípios.
Sobre o projeto
A iniciativa Apoio à Produção Sustentável em 12 municípios do Pará contou com fundo captado do BNDES pela BMTE, a partir de uma iniciativa de projetos sociais da empresa. O IPAM e a FBDS são executores da iniciativa que, desde o início das atividades, teve foco em agricultores familiares.
Na primeira fase, o IPAM elaborou em cada um dos doze municípios beneficiados um documento chamado Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável a partir de diversas reuniões de consulta com as próprias comunidades. Mais duas atividades foram apoiadas: a Casa Familiar Rural do município de Pacajá contou com a perfuração de um poço artesiano com estrutura de abastecimento, reformas hidráulicas, estruturais e elétricas do prédio de alojamento dos estudantes, e uma agroindústria de beneficiamento de polpas de frutas neste mesmo período.
Nas Casas Familiares Rurais de Anapu e Pacajá, o projeto construiu unidades de produção de pequenos animais (aves e suínos) e implementou Sistemas Agroflorestais (SAFs).
*Jornalista do IPAM