Administrador muda de vida para criar “diamantes verdes” pelo Brasil

1 de abril de 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

abr 1, 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

Laércio Machado de Sousa não conhece melhor definição para RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) do que “diamante verde”. Segundo ele, assim como a pedra preciosa, a área de reserva natural é constituída de carbono e possui um valor inestimável. “E o melhor de tudo: os diamantes duram para sempre e se mantêm por gerações. As RPPNs também, elas formam um legado”, qualificou o conservacionista.

Em busca de novos espaços de preservação para oficializar esses diamantes, o ex-administrador de empresas mudou de vida há mais de 20 anos para se tornar um “caçador” de RPPNs ao redor do Brasil, sendo a mão e a cabeça por trás da consolidação de pelo menos 70 delas, principalmente no Cerrado.

Laércio é consultor especialista e apoia futuros proprietários de reservas naturais privadas a estabelecerem suas áreas como unidades de conservação e criarem seus respectivos planos de manejo. Ele também é um rppnista, alcunha atribuída às proprietárias e proprietários de uma das 1.863 RPPNs registradas no país.

 

Um caminho aberto para a preservação

Essa jornada pessoal e profissional começou em 2001 quando, à época, trabalhando na área de hotelaria em São Paulo (SP), recebeu uma herança familiar no estado do Mato Grosso do Sul. Laércio de repente se viu dono de uma propriedade de 650 hectares em uma área de transição entre os biomas Pantanal e Cerrado, um pequeno imóvel circunscrito de um lado por uma antiga linha de trem e, do outro, pelo rio Miranda.

Era uma paisagem que, assim como o comportamento sazonal do bioma pantaneiro, passava por ciclos intensos de secas e inundações que dificultavam qualquer atividade produtiva estável. Ao fincar os pés no imóvel, Laércio não teve dúvidas de que pelo menos três quartos daquele território deveriam ser totalmente preservados. “Havia mamíferos, aves, insetos. A flora e fauna eram exuberantes. Piúvas rosas, ipê amarelos e outros tipos de árvores, ao florescerem, ficaram espetaculares”, relembrou o antigo hoteleiro. Até aquele momento, ele não sabia exatamente o que era uma reserva natural privada até buscar informações sobre o assunto e se abrir ao novo mundo da preservação ambiental.  

Anos depois de experiências e conhecimento na área conduziram Laércio a diversos caminhos que o distanciou da vida de hotelaria que tinha em São Paulo. O conservacionista mudou-se para Campo Grande (MS) e passou a integrar a Repams (Rede de Reservas Privadas do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso), além de coordenar projetos para criar as reservas privadas na organização ambiental Funatura. Uma delas foi a RPPN Bacupari, localizada no município de Cavalcante (GO), nos arredores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.  

 

RPPNs pelo Brasil: os desafios

Segundo a Confederação Nacional de RPPNs, essas áreas privadas englobam pelo menos 836 mil hectares de vegetação nativa e se juntam aos esforços governamentais para a conservação dos biomas brasileiros. Artistas célebres como o ator Marcos Palmeira e o cantor Ney Matogrosso engrossam a lista de rppnistas no Brasil.

Fiscalizar e garantir que uma área de proteção ambiental se mantenha intacta ao desmatamento, no entanto, tornou-se um desafio a esses proprietários dos diamantes verdes. Esses recursos saem do próprio bolso dos rppnistas, minando a sustentabilidade do projeto. “98% das pessoas que eu já consultei e criaram as RPPNs não tinham áreas produtivas. No máximo, ganham isenção de imposto pela área rural”, pontuou Laércio.

O próximo passo do conservacionista, diante desse desafio, é apoiar políticas e mecanismos de Pagamentos de Serviços Ambientais (PSA) para proprietários dessas reservas. “O Estado precisa entender que os rppnistas são produtores também, mas de água e de verde – e merecem subsídios para isso. Em tempo de mudanças climáticas, manter áreas de proteção ambiental é vital até para a própria produção na lavoura”, conclui o consultor.   

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