TransCerrado 2025 ouve relatos de seca e perda de florestas

12 de agosto de 2025 | Notícias, TransCerrado

ago 12, 2025 | Notícias, TransCerrado

Anna Júlia Lopes*

A edição de 2025 do TransCerrado chegou ao fim no último domingo (10). A iniciativa que une ciclismo e pesquisa para investigar os impactos socioambientais no bioma percorreu cerca de 500 km neste ano. Segundo Paulo Moutinho, pesquisador sênior e cofundador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho, a paisagem estava – em sua maior parte – desmatada, enquanto as pessoas ouvidas ao longo do caminho demonstravam preocupação quanto ao futuro da região.

“A edição deste ano do TransCerrado percorreu uma ampla paisagem desmatada para a criação de gado, cerca de 1 milhão de hectares desmatados. Neste cenário de poucas árvores e rios secos, escutamos das pessoas um relato de um passado abundante em chuva e de temperaturas amenas. Muitos se mostram preocupados com o futuro do bioma e do clima”, afirmou Moutinho.

Na 6ª edição do TransCerrado, os pesquisadores viajaram, de bicicleta, pela região da Chapada dos Veadeiros, saindo de Alto Paraíso até Teresina de Goiás. Para os participantes, o diálogo com a população local era uma dos principais objetivos da expedição. Alguns dos temas abordados foram as mudanças do clima no Cerrado e a redução da água na região, por conta do desmatamento do bioma.

Além da falta de chuvas na região, a redução de disponibilidade de água também ocorre como consequência do desmatamento, já que quase metade do bioma foi desmatada e o que resta sofre com incêndios, como o que atingiu a Floresta Nacional de Brasília em 2024.

Valderli Piontekowski, um dos ciclistas participantes e coordenador de Inovação Tecnológica do instituto, afirmou que a expedição já vinha observando a redução do volume de água em rios e nascentes. Outro ponto notado por Piontekowski é a fragmentação do Cerrado, com um avanço do desmatamento e da monocultura.

“Alguns [moradores] relatam dificuldades no controle de pragas, no manejo do gado em secas mais prolongadas e nas adaptações às épocas mais quentes”, disse o coordenador, que acrescenta que a bicicleta impõe à expedição um ritmo mais lento, porém, mais atento. Para ele, o formato da expedição aproxima as pessoas, gerando oportunidades de conversas e de conexão com o território. A entrevista completa com Piontekowski será publicada na edição de 25 de agosto da Um Grau e Meio, a newsletter do IPAM sobre as mudanças climáticas.

Criado em 2019, o TransCerrado nasceu com o propósito de incentivar o esporte ao ar livre e o cicloturismo. Às vésperas da COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), a edição de 2025 ressaltou a importância de proteger o Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro e da América do Sul, em um contexto de retroalimentação entre o clima extremo e o uso da terra.

*jornalista do IPAM, anna.rodrigues@ipam.org.br

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