As empresas que compram commodities na Amazônia têm agora uma ferramenta que vai ajudá-las a colocar em prática seus compromissos de limpar as cadeias de suprimentos do desmatamento. A ferramenta, criada por cinco organizações socioambientais, pode ser usada para direcionar incentivos específicos para municípios melhorarem seu desempenho ambiental de acordo com uma classificação que considera taxas de desmatamento e conservação da vegetação nativa. O objetivo é que, de maneira progressiva, todos os municípios de Mato Grosso e do Pará se tornem territórios de produção sustentável.
O setor privado tem avançado nos compromissos corporativos globais para eliminar o desmatamento nas cadeias de fornecimento de commodities agrícolas em todo o mundo. Grandes compradores passaram a exigir, dentre outras coisas, mais transparência sobre a origem dos produtos, a fim de reduzir o risco de associação com áreas desmatadas. Um exemplo é a meta de desmatamento líquido zero em 2020 adotada pelo Fórum de Bens de Consumo (CGF – Consumer Goods Forum, em inglês).
Do lado do poder público, Mato Grosso e Pará vêm desenvolvendo suas próprias iniciativas de estímulo à produção agropecuária sustentável. O programa Pará 2030 tem uma meta de desmatamento líquido zero até 2020. Em Mato Grosso, a Estratégia Produzir, Conservar e Incluir (PCI) se comprometeu com o desmatamento ilegal zero até 2020. O desafio para ambos os estados é conseguir ir além das políticas de comando e controle e coordenar essas ações com incentivos econômicos. Isso se tornou ainda mais urgente e necessário com os recentes dados do Prodes publicados dia 23 de novembro, mostrando que o desmatamento na Amazônia foi o maior dos últimos 10 anos, com Pará e Mato Grosso liderando o ranking dos estados.
“É fundamental que as empresas compradoras de commodities apoiem e se beneficiem dessas estratégias desenvolvidas pelos estados, alinhando seus compromissos corporativos a essas metas estaduais e seus mecanismos de implementação” aponta Paula Bernasconi pesquisadora do Instituto Centro de Vida (ICV).
Assim, para limpar suas cadeias, as empresas podem e devem buscar novos arranjos e alinhamentos com essas iniciativas governamentais. Além disso, é fundamental fortalecer o monitoramento dos fornecedores, principalmente os indiretos. O nível municipal se apresenta como uma escala mais efetiva tanto de monitoramento e controle de indicadores quanto de promoção de ações de incentivo. A estratégia proposta pelas organizações considera, portanto, os municípios como unidades de jurisdição e monitoramento, classificando-os conforme o seu desempenho ambiental.
A ferramenta classifica os municípios em três níveis de sustentabilidade da produção. Na Classe 1 estão aqueles com alta sustentabilidade, onde há remanescentes de vegetação nativa tanto em áreas privadas quanto em áreas públicas e as taxas de desmatamento são baixas. A Classe 2 engloba municípios com média sustentabilidade jurisdicional, com taxas de desmatamento médias e com remanescentes também médios, ou ainda, onde o desempenho seja ruim em um destes critérios.
Na Classe 3 estão aqueles com altas taxas de desmatamento e pouca presença de remanescentes florestais, onde é necessário maior apoio de atores privados e públicos para melhoria da sustentabilidade. Dessa forma, incentiva-se a criação de territórios de produção sustentável, sem desmatamento.
Para cada classe, são propostas ações de incentivo. “A ideia é promover ações de melhoria contínua rumo à produção sustentável em todas as classes, adaptando o tipo de atividade de acordo com a realidade do município e a classe em que está atualmente”, ressalta Cecília Simões pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Por exemplo, apoio à restauração florestal pode ajudar municípios com baixa sustentabilidade e se tornarem Classe 2. Já para estes, o desenvolvimento de mecanismos de de-risking pode ser o empurrão que falta para se tornarem territórios com alta sustentabilidade. E para reconhecer quem já está bem, nada como acesso a financiamentos em condições mais favoráveis e a novos mercados.
A ferramenta Territórios de Produção Sustentável foi desenhada pelo Environment Defense Fund (EDF), Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto Socioambiental (ISA) e Imazon. O trabalho tem apoio da Agência de Cooperação para o Desenvolvimento da Noruega (Norad – Norwegian Agency for Development Cooperation). O grupo fará uma jornada de apresentação da ferramenta para empresas interessas e construir uma estratégia de utilização, de acordo com suas necessidades.
Acesse o documento em: https://ipam.org.br/bibliotecas/documento-de-conceitos-e-compromissos-a-acao/