Como a mudança do uso da terra impacta em riachos de cabeceira?

20 de setembro de 2017 | Notícias

set 20, 2017 | Notícias

Coleta, peneira, tria e armazena. Estes são alguns dos processos repetidos mais de 40 vezes que vão permitir a pesquisadores traçarem a cadeia alimentar de córregos com diferentes aspectos de conservação. O objetivo deste estudo é analisar o impacto da mudança do uso da terra por meio de insetos aquáticos e peixes em córregos da Fazenda Tanguro, no Mato Grosso, polo de atividades científicas do IPAM.

“A pesquisa que estamos realizando na Tanguro é muito importante, pois vai aumentar nosso conhecimento em relação aos efeitos da conversão de florestas em áreas agrícolas sobre riachos de cabeceira, e demonstrar o quanto tais impactos podem ser reduzidos pelas matas ciliares, as quais são exigidas pelo Código Florestal”, afirma um dos pesquisadores, Paulo Ilha.

A intensa jornada de coletas durante duas semanas envolveu nove córregos, divididos em mata ciliar intacta, mata ciliar degradada e mata ciliar conservada, mas com influência de soja.

Para Ilha, o estudo também é relevante ao permitir relacionar o impacto da mudança do uso da terra com os efeitos para terras indígenas e áreas de conservação.  Na bacia do rio Xingu, onde é realizado o estudo, a maioria dos riachos de cabeceira estão em áreas utilizadas para agricultura e pecuária. Estes riachos drenam para rios maiores que estão dentro de terras indígenas e unidades de conservação, que dependem da integridade dos seus recursos hídricos.

A pesquisa segue um protocolo internacional e permitirá comparar as análises de uma floresta de transição entre Amazônia e Cerrado, como é o caso da Fazenda Tanguro, com outros biomas, explica o pesquisador em vídeo.

Nas coletas, uma equipe é responsável por descrever a caracterização do ambiente em mais de 200 categorias, o que envolve indicar a vazão do córrego, a cobertura da vegetação e o impacto humano, por exemplo. Outra parte coleta matéria orgânica em suspensão, matéria orgânica aderida em folha e sedimentos, o permite indicar os alimentos disponíveis nos córregos. E a terceira equipe coleta insetos aquáticos e peixes. Tudo para poder traçar a cadeia alimentar dos riachos.

“Vários organismos estão presentes nos córregos e a interação é constante e complexa. Se a mata ciliar for pequena, os alimentos podem vir de fora alterando o ambiente aquático”, diz uma das pesquisadoras, Nubia Marques.

Parte das amostras será processada na Universidade de Brasília (UnB) e analisada no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da  Universidade de São Paulo (CENA-USP), em Piracicaba, onde existem equipamentos que permitem quantificar o quanto de carbono e nitrogênio tem nos organismos.

Por meio desses elementos químicos será possível identificar o hábito alimentar e saber, por exemplo, se determinado inseto aquático está se alimentando de uma folha que veio do dossel ou de áreas agrícolas. A outra parte das amostras incorporará a coleção do laboratório de biologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) para futuras pesquisas.

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