Por Sara Leal*
Engenheiro Florestal e coordenador de Inovação Tecnológica no IPAM, atua nas áreas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto como programador especialista para a produção de mapas relacionados à intervenção humana na cobertura do solo.
À Um Grau e Meio, fala sobre os desafios e descobertas da expedição. Inscreva-se para receber a newsletter do IPAM gratuitamente no seu e-mail.
Como começou sua história com o TransCerrado?
Minha história com o TransCerrado começou em 2021. Desde então, participei de todas as edições (2022, 2023 e 2024). A cada ano, o projeto aborda um tema central relacionado aos desafios do Cerrado.
Além do meu envolvimento com as questões socioambientais, um ponto que facilitou minha entrada no projeto foi o fato de eu já pedalar regularmente desde 2019.
A bicicleta se tornou parte importante da minha vida, e unir essa paixão com o propósito da TransCerrado fez tudo fazer ainda mais sentido. Pedalar pelo Cerrado, pesquisando, observando e conversando com as pessoas, tornou-se uma forma de compreender melhor esse território.
Durante sua participação no TransCerrado, observou algumas tendências por meio do sensoriamento remoto? Se sim, quais?
Sim, ao longo dos anos observamos tendências preocupantes que os dados de sensoriamento remoto já vinham sinalizando. Uma delas é a redução do volume de água em rios e nascentes, visível pela diminuição da cobertura vegetal nas imagens.
Também notamos a fragmentação do Cerrado, com o avanço do desmatamento e da monocultura. Esses dados orientam nossos roteiros e nossas conversas em campo, ajudando a verificar onde os impactos são mais fortes.
É possível constatar, em campo, os efeitos das mudanças climáticas identificadas por satélites?
Uma coisa é ver o gráfico ou o pixel de uma imagem indicando uma tendência; outra, bem diferente, é estar no campo e ver isso com os próprios olhos.
Ver uma nascente seca, sentir o calor extremo ou ouvir dos agricultores que tem sido cada vez mais desafiador lidar com os períodos chuvoso e seco para plantar. Alguns relatam dificuldades no controle de pragas, no manejo do gado em secas mais prolongadas e nas adaptações às épocas mais quentes.
Como a ida a campo complementa a investigação por sensoriamento remoto?
Com sensoriamento remoto temos uma visão geral. É indispensável para identificar padrões, mudanças e tendências em larga escala. Mas é no campo que a gente valida e aprofunda essas informações.
Por exemplo, um dado pode mostrar remoção da vegetação, mas é só no campo que entendemos se isso foi causado por desmatamento ilegal, fogo ou mudanças no uso do solo por parte das comunidades.
Além disso, o contato direto permite captar aspectos que não é possível com satélite, como percepções locais, impactos sociais, estratégias de adaptação etc.
Qual o diferencial em fazer o percurso de bicicleta, especificamente?
A bicicleta impõe um ritmo diferente: mais lento, porém mais atento. A gente sente o relevo, o vento, o calor, o que o carro, por exemplo, isola. Ela nos aproxima das pessoas, que ficam curiosas e querem conversar, o que cria oportunidades valiosas de conversas e conexão com o território.
Quais são os maiores desafios da expedição?
Acredito que um dos maiores desafios é lidar com o sol muito quente, calor, tempo seco, a poeira constante e as subidas íngremes que precisamos vencer pedalando com a bicicleta carregada com toda a nossa bagagem.
*Coordenadora de Comunicação do IPAM
