Taily Terena, uma voz indígena dentro das Nações Unidas

21 de agosto de 2023 | Notícias

ago 21, 2023 | Notícias

Taily Terena descobriu a vocação de vida olhando ao redor da aldeia da etnia Xané, do Mato Grosso do Sul, onde nasceu há 30 anos. Tem o pai, Marco Terena, importante líder indígena, como um exemplo. Mas traça caminhos próprios em defesa das comunidades tradicionais para fazer com que os “parentes” – forma como os indígenas se referem entre si – possam ter a voz escutada internacionalmente. A jovem cientista social e antropóloga faz parte do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas e compõe o Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas das Nações Unidas. Trata o futuro do planeta como prioridade e nas discussões sobre mudanças climáticas afirma que é onde mais pode contribuir.

“O próprio IPCC, núcleo de estudos científicos da ONU, já provou uma coisa que nossos antepassados falavam há muito tempo: preservando a Terra, a gente preserva a vida do planeta. E qual foi o dado que eles chegaram? Que nós, povos indígenas do mundo, representamos apenas 5% da população mundial, mas preservamos 80% da biodiversidade do planeta”, enfatiza.

No entanto, dar voz aos indígenas não é ainda algo confortável. “A gente acaba virando um objeto. Tem ali o indígena por causa do meio ambiente, para tirar uma foto, para sair na notícia da imprensa. Mas quando é para a gente ter voz, não pode falar. É uma situação a falta de espaço que a gente tem”, pondera.

COP-30 no Brasil

Fluente em inglês e espanhol, Taily vive a expectativa pela COP-30, em Belém, em 2025, mas espera que as organizações tenham um olhar cuidadoso para os indígenas. “Precisamos garantir que o português seja uma língua oficial, para que a gente tenha voz nesses espaços e possamos ouvir o que eles estão falando. E não só isso: que o governo brasileiro dê espaço na delegação do governo aos indígenas para que a gente entre nas reuniões e possa ter voz. Não é só para entrarmos lá e ficar ouvindo. A gente está tendo uma oportunidade para construir estratégias concretas de incidência política forte para daqui dois anos termos peso na COP”, defende.

O futuro indígena

Embora jovem, Taily acompanha as mudanças entre os parentes como algo a ser observado. A manutenção da cultura é uma preocupação que permeia as discussões desde os caciques até as lideranças femininas que surgem. “Temos uma oportunidade única que os nossos mais velhos, os nossos pais, os nossos avós, não tiveram, que é a oportunidade. Hoje em dia a gente tem acesso à internet. Hoje em dia a temos tecnologias que estão ao nosso favor. A gente tem oportunidade de estudar, né? São ferramentas que podem engrandecer, e fortalecer a nossa luta nos movimentos, se soubermos utilizar bem”, afirma.

Para a indígena Terena, a voz das aldeias só será escutada se a juventude seguir os passos dos ancestrais e lutarem pela terra e pela preservação da natureza, não deixando a história ficar no passado. “Os nossos antepassados passaram por aqui também. A gente está caminhando pro nosso futuro, lutando pelo nosso povo, mas não podemos esquecer a nossa raiz”, defende.

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