Por Sara R. Leal*
Para facilitar a atualização e a inserção de dados na plataforma SOMUC (Sistema de Observação e Monitoramento de Unidades de Conservação) pelos próprios moradores das UCs (Unidades de Conservação), o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) realizou, no dia 17 de agosto, uma oficina de treinamento para representantes de duas unidades de conservação localizadas no Acre: Resex (Reserva Extrativista) Chico Mendes e Cazumbá-Iracema.
O objetivo da plataforma é fornecer informações que apoiem ações de planejamento voltadas à proteção territorial e ambiental de unidades de conservação na Amazônia brasileira, bem como ao desenvolvimento sustentável e bem-estar das populações. A capacitação foi promovida durante o seminário de avaliação do projeto NossaBio, realizado pela SOS Amazônia, em Rio Branco, no Acre. A iniciativa faz parte do Projeto Lira (Legado Integrado da Região Amazônica), desenvolvido pelo IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas).
“Ninguém melhor do que as próprias associações para repassar esses dados. A inclusão direta na plataforma facilita o processo e possibilita que ele seja feito com maior exatidão e celeridade”, afirma a coordenadora do SOMUC e pesquisadora no IPAM, Sylvia Mitraud.
Mitraud afirma que o encontro também serviu para que os comunitários testassem e contribuíssem na elaboração do questionário de coleta de dados de produção e comercialização da sociobiodiversidade. O documento fará parte da ferramenta de atualização descentralizada que será compartilhada com as demais 210 unidades de conservação federais e estaduais da Amazônia que compõem o SOMUC.
Após essa primeira fase, serão desenvolvidos tutoriais para orientar os representantes de associações das UCs sobre o preenchimento do questionário usado na atualização da plataforma.
Informação é poder
Para a chefe da Resex Cazumbá-Iracema, Naiara Bezerra, o SOMUC surge como “uma forma de consolidar as informações, facilitando bastante a nossa gestão”. O presidente da Amopreab (Associação de Moradores e Produtores Extrativistas do município de Assis Brasil) e secretário da juventude do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Assis Brasil, Wendel Araújo, afirma que, ao alimentar o banco de dados, a comunidade terá mais clareza e respaldo para buscar benefícios.
O coordenador do programa de cadeias da sociobiodiversidade da SOS Amazônia, Adair Duarte, explica que ter acesso a essas informações possibilita fortalecer e pensar em estratégias, junto aos moradores das regiões, para o enfrentamento dos desafios vivenciados por eles. “Além disso, atualmente, não temos informações de quanto esses produtos geram de renda para as famílias das reservas. Ao reunir esses dados, a plataforma nos ajudará a ter uma noção da importância da floresta para essas pessoas”, complementa.
O presidente da Coopaeb (Cooperativa Agroextrativista de Assis Brasil, Epitaciolândia e Brasiléia), José Rodrigues de Araújo, ressalta que no PIB (Produto Interno Bruto) estadual, não consta a produção da sociobiodiversidade. “Há poucas informações relacionadas aos produtos dos extrativistas, como borracha, castanha, açaí, etc. A partir do momento que tivermos essas informações, poderemos apresentar ao poder público o ganho do Estado relacionado a essas cadeias”, reforça.
Para o coordenador da cadeia produtiva da borracha da empresa de calçados francesa Vert, Sebastião dos Santos, é preciso mostrar à sociedade que há produção dentro da floresta, que ela é viável em termos sustentáveis e que precisa ser valorizada. “Ela está atrelada ao serviço de preservação da floresta, então é essencial demonstrar isso e inspirar parceiros e empresas que queiram trabalhar com essa pegada”, diz.
Raimundo Mendes, “Raimundão” como é conhecido, não carrega o sobrenome à toa: é primo do seringueiro que hoje dá nome à Resex Chico Mendes, no município acreano de Xapuri. “Tenho grande interesse em ter todas essas informações, pois isso enriquece ainda mais o nosso conhecimento. Assim, podemos transmitir aos demais companheiros e companheiras e fortalecer ainda mais acorrente em defesa da nossa biodiversidade”, finaliza.
A plataforma SOMUC
O SOMUC disponibiliza informações por meio de dados, mapas e um sistema de indicadores, que permitem identificar como reduzir os impactos das ameaças, além de apontar elementos para que os modos de vida e as estratégias produtivas dessas populações sejam potencializadas, ampliando sua inserção socioeconômica e o reconhecimento de seu papel na conservação ambiental.
A plataforma foi desenvolvida pelo IPAM, com colaboração do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), do Woodwell Climate Research Center, das Secretarias de Meio Ambiente do Acre, Amazonas, Mato Grosso e Pará, além dos movimentos sociais extrativistas CNS (Conselho Nacional de Populações Extrativistas) e Confrem (Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas costeiras e Marinhas) e diversas ONGs nos nove estados da Amazônia.
A ferramenta contou com o apoio da Fundação Gordon and Betty Moore e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (Usaid – sigla em inglês para U.S. Agency for International Development) para a sua construção. Sua atualização é apoiada pelo Projeto Lira e Norad Puzzle.
*Jornalista no IPAM, sara.pereira@ipam.org.br.