O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) repudia o anúncio feito ontem pela equipe de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro de fusão entre os Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura.
Como instituto científico, com 23 anos de atuação e que vem buscando conciliar o aumento da produção no campo com a conservação dos recursos naturais, consideramos que tal fusão de ministérios ameaça justamente o desejável equilíbrio entre agricultura e proteção ambiental.
Separados e independentes, ambos os ministérios poderão continuar com suas agendas específicas e estabelecer entre si e a sociedade um diálogo mais democrático, prudente e produtivo – algo fundamental, considerando-se a crise climática global e a dependência, cada vez mais clara, da produção agricultura de um ambiente saudável.
Essa dependência pode ser ilustrada por meio de nossas pesquisas recentes na Amazônia. Com o avanço do desmatamento há um sério risco de mudança no clima regional, o que afeta a produção agrícola na região. Na bacia do Rio Xingu, por exemplo, já há registros de aumentos significativos de temperatura e consequente redução de chuvas com prejuízos à produção.
Além disto, um país como Brasil, que abriga em seu território a maior floresta tropical do mundo e uma das maiores taxas de biodiversidade, não pode abrir mão de um ministério exclusivo para cuidar deste enorme e precioso patrimônio dos brasileiros. Qualquer governo, preocupado com as próximas gerações e com a posição do Brasil como maior produtor de alimentos do mundo, deverá reforçar seu Ministério do Meio Ambiente e não o empurrar para dentro de uma outra estrutura.
Esperamos que a equipe de transição do governo eleito reveja essa posição e mantenha a independência do Ministério do Meio Ambiente. O Brasil e os brasileiros merecem prosperidade econômica e justiça social, atributos que só serão alcançados com proteção e uso sustentável de seus recursos naturais.