Por Bibiana Alcântara Garrido*
Em entrevista à newsletter Um Grau e Meio, o cientista sênior do IPAM Paulo Moutinho comenta sobre as soluções de larga escala para a conservação da Amazônia, em especial, a destinação de florestas públicas não destinadas.
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O cientista sênior do IPAM, Paulo Moutinho (Foto: Rafael Coelho/IPAM)
Na entrevista, Moutinho avaliou a destinação de terras públicas como necessidade “urgente”, explicou onde estas áreas se concentram na Amazônia brasileira e qual o status de implementação desta solução climática.
Leia abaixo.
Como encaminhar as soluções para a proteção da Amazônia?
O ponto inicial é reconhecer, definitivamente, que a gente vive uma emergência climática. As mudanças do clima em larga escala estão sendo muito mais rápidas do que se calculava anteriormente. A escala dos incêndios e das estiagens, por exemplo, soa como um alerta de que algo está muito errado.
As soluções para estes problemas, portanto, deverão ser de grande escala e implementadas urgentemente. E estas respostas terão que se desenvolver tanto do ponto de vista da mitigação das mudanças climáticas, quanto de adaptação, passando por transformações, inclusive, dos padrões de consumo da sociedade.
Na Amazônia, a necessidade maior é zerar o desmatamento e manter os remanescentes de floresta funcionando de forma saudável, em especial quanto aos seus ciclos naturais que produzem as chuvas.
Qual é a medida mais imediata neste cenário?
Temos que manter as áreas já protegidas e ampliá-las. Neste sentido, a destinação das florestas públicas não destinadas é urgente. Isso solucionaria uma boa parte do problema, funcionando como um tipo de “tampão” para evitar o tal ponto de não retorno da Amazônia.
Afinal, se permitirmos que as áreas de florestas públicas não destinadas sejam continuadamente invadidas, tudo o mais que está sendo planejado em termos de agricultura, bioeconomia, vai para o brejo.
Sem estas florestas, quebra-se a trajetória dos rios voadores, abrindo um buraco na função de transporte da umidade para dentro e fora do continente.
Já avançamos em direção à destinação destas florestas?
Em alguns pontos sim. Já foram identificados 15 milhões de hectares de terras públicas, muitas delas cobertas por florestas públicas não destinadas. O IPAM contribuiu muito, juntamente com parceiros, para este feito.
Trabalhamos na qualificação ambiental, social e econômica destas florestas e, particularmente, criamos um modelo para priorizar a destinação destas para conservação ou uso sustentável de recursos naturais.
Interferências aqui e acolá são importantes para servirem de exemplo, mas esses exemplos precisam ser encaixados em políticas de larga escala, visando a manutenção do bem-estar pro povo brasileiro e do planeta.
É uma grande oportunidade aberta para o governo federal e Estados aumentarem a proteção com uso sustentável, por meio da destinação de suas florestas públicas.
Onde estão as florestas públicas não destinadas?
Quase 70% destas florestas estão no Amazonas e no Pará, mas há fragmentos em outros Estados como Mato Grosso, Roraima, Rondônia, Amapá e Acre. A maior concentração é no Amazonas, por isso, o Estado é chave neste processo.
*Jornalista de ciência do IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br