Com o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, o Brasil ainda enfrenta desafios para alcançar este objetivo, mas abre a uma janela de oportunidades para a implementação. O painel “Os benefícios da restauração: alinhamento de estratégias públicas e privadas para a geração de emprego e renda e o cumprimento do Acordo de Paris” tratou das soluções no tema. O evento ocorreu neste sábado (16), no Pavilhão do Consórcio da Amazônia Legal, na COP29, Conferência do Clima de Baku e foi organizado Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
Karen Oliveira, diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy Brasil, pontuou três elementos que devem ser considerados para uma política pública de restauração: atratividade, agregando valor à atividade; mecanismos financeiros, porque os custos são elevados; e reestruturação da cadeia, com ações como assistência técnica. “Não existe uma fórmula mágica. A restauração florestal é, sim, uma atividade econômica, e é uma atividade econômica que contribui diretamente para o desenvolvimento social das áreas onde ela é implementada. É importante ver a restauração florestal como um instrumento econômico, e não apenas como um instrumento ambiental”, defendeu.
Roberto Waack, integrante dos conselhos do Instituto Arapyaú e da Marfrig, avalia que o setor privado “está no jogo”, disposto a fortalecer a iniciativa. “Se há retorno de investimento, vai bombar. Porque é uma forma muito interessante de lidar com a restauração. Se não tiver retorno, não. Esses players não fazem pela filantropia. Nós estamos falando de escala. São milhões de hectares”, ponderou.
Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio (Climate Policy Initiative), direcionou o olhar para o potencial do restauro. Ele apresentou a conclusão de um estudo que considera o pagamento de 25 dólares por hectares recuperado. “Os produtores, olhando para o seu fluxo de caixa, estariam mais interessados no restauro do que gado. Mais de 90% da área desmatada da Amazônia seria transformada em restauro, de maneira voluntária”, afirmou. “Estamos falando de uma captura potencial de 15 milhões de toneladas de carbono em 30 anos, ou 375 milhões de dólares”, calculou.
André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), afirmou que a restauração é estratégica, mas é preciso olhar para as florestas. “É importante ter a visão mais integrada do sistema, seja para a floresta que já existe, para a floresta a ser restaurada ou para outras atividades de uso da terra que vão precisar de estar integradas nesse processo. Olhemos o mosaico, não apenas uma atividade e, principalmente, não olhar uma em detrimento da outra”, defendeu.
Susanne Kat, gerente sênior de Políticas e Advocacy no Conselho Empresarial Mundial para Desenvolvimento Sustentável, afirmou que o financiamento vai garantir o resultado em longo prazo. “Precisamos desenvolver o que já existe. Precisamos de financiamento, de novas formas de colaboração, de novos tipos de parceiros, de novas formas de pensar que cheguem à mesa. A longo prazo, concordo com o meu colega no painel, precisamos de olhar para a terra como uma classe de ativos para permitir que o capital financeiro flua para ela e garantir que haja um retorno, porque a economia precisa de trabalhar”, avaliou.
Em outubro, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, da qual o IPAM faz parte, lançou a versão 2.0 do Observatório da Restauração e Reflorestamento. A análise mapeou 150 mil hectares, uma área equivalente a do município de São Paulo, e mostrou que as áreas em processo de restauração no Brasil cresceram 90% em relação a 2021.