Além das labaredas e grandes colunas de fumaça, as queimadas provocam efeitos danosos e de longo prazo que não são imediatamente visíveis.
O primeiro é o empobrecimento do solo. Especialmente em áreas em que o fogo é recorrente, ou seja, quando ele é usado como ferramenta agrícola, ele degrada e afeta a fertilidade da terra, e reduz tanto a produção agrícola quanto sua capacidade de produção.
Nutrientes essenciais às plantas, como nitrogênio, potássio e fósforo, são eliminados. Além disso, a prática reduz a umidade do solo e acarreta na sua compactação, resultando em um processo erosivo.
Na Amazônia, as queimadas se somam ao desmatamento e a secas extremas para ampliar esse processo, uma vez que cada um desses fatores alimenta o seguinte.
Com a crescente demanda por alimentos, a saúde do solo, que é um recurso finito, é uma preocupação mundial. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) cerca de 32% das terras do mundo estão degradadas.
“No Brasil 40% do PIB vem do uso do solo. Se fizermos o manejo de forma equivocada, vamos comprometer o futuro e a segurança alimentar da população. Por isso, é preciso investir na conservação, na recuperação e no bom uso do solo,” explica o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães.
Aquecimento global
Outro efeito é o impacto no clima. Além de reduzir a capacidade das florestas em armazenar o carbono, as queimas são responsáveis por liberar uma grande quantidade de CO2, o principal gás do efeito estufa, na atmosfera.
Estimativas globais indicam que 70% a 80% do CO2 que chega à troposfera pela queima de biomassa em um ano vem de regiões equatoriais e subtropicais1.
Na terceira Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças do Clima, divulgada neste ano, as emissões de gases estufa pelo fogo seguidas de desmatamento correspondem a 350 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e) em 2010, que são 63% das emissões totais de uso de solo, como explica o cientista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Raoni Rajão. “Há também as emissões de mais de 450 milhões de tCO2e que, por serem de fogo que não ocasionaram desmatamento, não são contabilizadas, já que parte disso pode voltar para a floresta em recuperação”, diz.
Quanto mais gases estufa na atmosfera, piores são as mudanças climáticas e mais intensos e frequentes serão os eventos extremos, como as secas – que, por sua vez, alimentam mais fogo, num círculo vicioso e extremamente perigoso para a Amazônia e para quem vive na região.
“Enquanto desmatamento e queimadas forem uma prática corrente na Amazônia, não haverá equilíbrio”, diz Paulo Moutinho, do IPAM.
Volte ao início: A Amazônia que arde
Reportagem: Karinna Matozinhos
Edição: Cristina Amorim
1. http://neo.sci.gsfc.nasa.gov/view.php?datasetId=MOD14A1_M_FIRE&date=2016-09-01
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