Relatório do IPCC mostra que aumento de 2°C não é um limite seguro

10 de outubro de 2018 | Notícias

out 10, 2018 | Notícias

Um novo relatório apresentado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão ligado à ONU, indica que, caso o mundo queira limitar o aquecimento global médio em até 1,5ºC, são necessárias mudanças rápidas na forma como  lidamos com o solo, como geramos energia, como nos movemos, como produzimos e como moramos.

O documento, lançado na última segunda-feira (8), na Coreia do Sul, foi a resposta a um pedido feito da Convenção-Quadro de Mudanças Climáticas da ONU em 2015, logo após o Acordo de Paris ser aprovado na 21ª Conferência do Clima. O acordo estabelece que o aquecimento não pode ultrapassar os 2ºC, e que idealmente deve ser mais baixo.

De acordo com o IPCC, se a emissão de gases estufa continuar a subir na taxa atual, o mundo estará 1,5°C mais quente entre 2030 e 2052, em comparação à temperatura registrada antes da Revolução Industrial. Parece pouco, mas é o suficiente para bagunçar o sistema climático global e provocar efeitos perigosos, como tempestades mais fortes e mais frequentes, períodos mais longos e mais intensos de seca, mais derretimento do gelo nos polos, entre outros.

Segundo o copresidente de um dos grupos de trabalho do IPCC, Hans-Otto Pörtner, “cada pouquinho de aquecimento extra importa, especialmente a partir de 1,5ºC ou mais, o que aumenta o risco associado a mudanças profundas ou irreversíveis, como a perda de alguns ecossistemas”.

Para evitar isso, as emissões globais líquidas de CO2 (dióxido de carbono) causadas pelo ser humano precisariam cair cerca de 45% em relação aos níveis de 2010 até 2030, atingindo o “zero líquido” por volta de 2050. As emissões remanescentes precisariam ser equilibradas pela remoção de CO2 da atmosfera.

As opções de mitigação sobre a demanda por território incluem a intensificação sustentável de práticas de uso da terra e restauração de ecossistemas. De acordo com o documento, a implementação de opções de mitigação baseadas no uso da terra exigiria a superação das barreiras socioeconômicas, institucionais, tecnológicas, financeiras e ambientais que diferem entre diversas regiões no mundo.

Outro dado importante do documento é que a produção de alimentos será mais afetada à medida que a temperatura subir, principalmente no sul da África, na região do Mediterrâneo, na Europa Central e na Amazônia. Além disso, o aquecimento também pode impactar a pecuária, dependendo de como o pasto ou a produção de ração forem afetados, além do risco de reduzir a disponibilidade de água e crescer a propagação de doenças.

O relatório também indica que países dos trópicos e subtrópicos do Hemisfério Sul podem vivenciar os piores impactos no crescimento econômico, devido à instabilidade climática.

Florestas também importam

Antes de o relatório ser divulgado, um grupo de 40 cientistas assinou uma carta reforçando a importância de preservar as florestas quando o assunto é mudança climática. Eles listaram cinco razões pelas quais a limitação do aquecimento global requer proteção e gestão sustentável das florestas que ainda existem e a restauração das que já foram perdidas.

Há mais carbono estocado nas florestas do que nas reservas de petróleo, gás e carvão, então preservá-las é fundamental. Além disso, as florestas atualmente removem cerca de um quarto do CO2 que os humanos adicionam à atmosfera, o que impede que as mudanças climáticas piorem ainda mais.

Embora soluções de remoção de dióxido de carbono de alta tecnologia estejam em desenvolvimento, a “tecnologia natural” das florestas é atualmente o único meio de remover e armazenar CO2 atmosférico em uma escala que pode contribuir significativamente para alcançar o equilíbrio de carbono. Os cientistas finalizam o documento afirmando: “O clima futuro do nosso planeta está inseparavelmente ligado ao futuro das florestas.”

Para o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães, as florestas fornecem serviços essenciais para o bem-estar do planeta e o Brasil é um país fundamental nesse cenário. “O Brasil tem duas grandes responsabilidades hoje com o mundo: prover alimento e ajudar a mitigar mudanças climáticas, por meio da redução do desmatamento. Temos que fazer as duas juntas, de forma eficiente e integrada”, afirma Guimarães.

 

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