Por Bibiana Alcântara Garrido*
A queda de 30,6% no desmatamento da Amazônia e 25,7% no do Cerrado foi divulgada nesta quarta-feira, 6, pelo governo federal. O anúncio é visto como uma entrega a ser comemorada com parcimônia, avaliam especialistas do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
“Trata-se de um momento ímpar, se olharmos para os últimos anos de monitoramento, com aumentos em sequência. Conseguir derrubar o desmatamento na Amazônia e no Cerrado é realmente uma importante entrega do governo federal, de governos estaduais, do setor privado e da sociedade civil, em especial num momento de piora no cenário climático global. A gente tem que comemorar, mas com os pés no chāo. Nós ainda temos uma jornada até que a curva se aproxime do zero e a perda de florestas cesse em definitivo. Governos e sociedade não podemos nos descuidar”, disse André Guimarães, diretor executivo do IPAM.
Para a Amazônia, com 6.288 km² desmatados no período, é a menor taxa de desmatamento desde 2015, quando 6.207 km² foram desmatados no bioma. No Cerrado, com incremento de 8.174 km² , é a menor área desmatada desde 2020 (7.905,16 km²) e a primeira queda da série em cinco anos.
“É uma das mais baixas taxas de desmatamento para a Amazônia desde que o monitoramento começou a ser feito. No meio de todos os desastres que têm acometido o Brasil em 2024, são ótimas notícias para o meio ambiente e a sociedade. A contínua redução do desmatamento é um compromisso muito importante para o país. Além de aumentar a confiança para investimentos relacionados ao setor do agronegócio, a redução do desmatamento gera benefícios aos serviços ecossistêmicos fundamentais para nossa vida”, acrescentou Ane Alencar, diretora de Ciência da instituição.
Os dados são produzidos pelo programa Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e são medidos conforme o “ano-Prodes”: entre agosto de 2023 e julho de 2024.
Guimarães lembra os desafios à frente da redução do desmate: “Ainda precisamos consolidar esse processo com a criação, por exemplo, de incentivos, especialmente para desestimular o desmatamento legal, e temos ainda um desafio de promover uma economia que tenha como pressuposto a manutenção da floresta em pé. Aí sim, a gente vai conseguir não só baixar o desmatamento, como mantê-lo baixo em definitivo”, avaliou.
Para a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, as taxas de desmatamento deste ano refletem o trabalho do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal).
“É um plano pensado não como política setorial, mas como política transversal. Os resultados alcançados não são apenas do governo federal, são de uma ação integrada com os governos do Estados. É uma política com base em evidência, a partir de seminários técnicos e científicos, e são planos que agora chamamos de PPs, porque são para todos os biomas brasileiros, para o Cerrado, a Caatinga, o Pampa e o Pantanal. E a queda do desmatamento no Cerrado, que para muitos parecia impossível, é fruto deste trabalho”, afirmou a ministra.
O anúncio ocorreu em evento no Palácio do Planalto e marcou a assinatura do Pacto Interfederativo para a Prevenção e o Controle do Desmatamento Ilegal e dos Incêndios Florestais no Cerrado, com os Estados do Matopiba ‒ fronteira agrícola composta por municípios de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Segundo o SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado), do IPAM, o desmatamento da savana brasileira emitiu mais de 135 milhões de toneladas de gás carbônico entre janeiro de 2023 e julho de 2024. Essa quantia é cerca de 1,5 vezes as emissões anuais do setor industrial no Brasil.
*Jornalista de ciência do IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br
Foto de capa: Desmatamento no Cerrado (Thiago Foresti/IPAM)