Qualquer solução para a mudança climática global requer a Amazônia em pé

20 de setembro de 2021 | Notícias

set 20, 2021 | Notícias

Diante da urgência climática global, o mundo inteiro vem levantando e discutindo alternativas, mas uma coisa é certa: “qualquer solução requer que a floresta amazônica permaneça em pé”, alertou Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em sessão especial do Amazoniar para o Ecology Day, na terça-feira (14/09), com o tema Floresta amazônica: o que ela tem a ver com o seu futuro. Organizado pela Sociedade Portuguesa de Ecologia e pela Federação Europeia de Ecologia, o Ecology Day tem como objetivo aproximar a ecologia da sociedade.

“Além de fazer chover, resfriar a terra e por ser um sistema de irrigação natural, a floresta amazônica guarda uma grande quantidade de carbono. Se perdermos o território por desmatamento ou outros usos irregulares, 100 bilhões de toneladas de carbono podem ser lançadas na atmosfera, o que é equivalente a uma década de emissões globais e certamente agravaria as mudanças climáticas globais“, afirmou, explicando que a floresta absorve anualmente, com sua vegetação, 15% de todas as emissões de carbono.

De acordo com Moutinho, a Amazônia concentra entre 10% a 20% da diversidade vegetal planetária, o que corresponde a cerca de 30 mil espécies, e possui entre 30 a 300 espécies de plantas por hectare – para se ter ideia da dimensão, só a América do Norte possui entre quatro e 25 espécies por hectare. A diversidade cultural é outra grande riqueza do território: a Amazônia é lar de comunidades indígenas, quilombolas e pequenos agricultores, que atuam diretamente na preservação local.

“A Amazônia cumpre também o papel de umidificadora devido à transpiração da floresta, que gera os conhecidos rios voadores: cada árvore local emite entre 300 a 500 litros de água por dia, totalizando 20 bilhões de litros de água evaporados diariamente. Além disso, é conhecida pelos cientistas como “oceano verde” devido à capacidade de carregar a umidade da evaporação do oceano para dentro do continente, começando pela Cordilheira dos Andes até o sul da América do Norte”, ressaltou Moutinho.

Como consequência da constante ameaça do desmatamento ilegal e da grilagem de terras, os incêndios na Amazônia tornam-se mais preocupantes a cada ano: em 2020, 46% dos focos de calor aconteceram na Amazônia, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), correspondendo a 28% da área queimada entre 2000 e 2019.

Veja o encontro especial do Amazoniar para o Ecology Day na íntegra:

Todos podem e devem contribuir para a conservação da Amazônia

O cenário, segundo Moutinho, questiona o limite para conversão de florestas em outros usos. Durante o evento, Moutinho afirmou que 80% do território ainda conta com grau de cobertura florestal intacto. Com proveito das áreas abandonadas, ele conta que seria possível aumentar a produtividade agropecuária sem desmatamento. “Essa possibilidade existe no Brasil e o país precisa da contribuição de todos para que isso aconteça. Com muita cooperação, entre 2005 e 2012, a sociedade brasileira conseguiu reduzir o desmatamento em 80% e dobrou a produção agrícola e de carne sem derrubar florestas. Nos últimos anos, no entanto, começamos a acelerar o desmatamento”, alertou.

Entre as soluções apontadas estão o fortalecimento de lideranças e governança para proteger direitos dos povos indígenas e áreas protegidas; aumentar a produtividade e contribuição para conservação do agronegócio e pecuária; prover suporte técnico e oportunidade de negócios para agricultores familiares; e engajar o governo na alocação de florestas públicas não destinadas. “São 60 milhões de hectares (quase o tamanho da França) de florestas públicas que ainda precisam ser destinadas para proteção ou como terras indígenas. Uma lei aprovada no Congresso, em 2016, diz que são áreas que precisam continuar como florestas, proibindo que sejam transformadas em propriedade particular ou que sejam desmatadas”, afirmou.

Por fim, Moutinho ressaltou como a sociedade pode contribuir para a preservação da floresta amazônica. As ações citadas incluem monitorar a procedência dos produtos oriundos da região para que sejam consumidos apenas aqueles que não estejam envolvidos com desmatamento, identificando os produtores que atuam em prol da conservação da floresta e fortalecendo, assim, a produção sem desmatamento. “Talvez a Amazônia seja o último lugar do mundo capaz de produzir em larga escala o tão sonhado desenvolvimento sustentável: tem condições de produzir, aumentar a produção e, ao mesmo tempo, manter a floresta em suas funções já citadas”, concluiu.

Participe dos próximos encontros do Amazoniar

O Amazoniar é uma iniciativa do IPAM para promover um diálogo global sobre a floresta amazônica e sua influência nas relações entre o Brasil e o mundo. Inscreva-se para os próximos encontros do terceiro ciclo:

23/09 às 10h (Brasília) – Ouça essa história: a riqueza da literatura e das lendas indígenas
07/10 às 10h (Brasília) – Vozes indígenas: cantos tradicionais e atuais e como se misturam
21/10 às 10h (Brasília) – Perspectiva indígena: os povos tradicionais através da fotografia e do audiovisual

Concurso de fotografia Amazoniar

Como parte do terceiro ciclo do Amazoniar, o IPAM lançou um concurso de fotografia, com o tema “Amazônia pelo Planeta”. Ele está aberto para pessoas de qualquer idade e nacionalidade, e tem como objetivo principal incentivar o registro de realidades da Amazônia, além da produção cultural e artística na região.

Uma comissão de jurados selecionará 20 fotografias ao todo. Os vencedores terão suas fotos exibidas, em formato digital ou por meio de projeção, em Glasgow, na Escócia, durante a Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP 26), e no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ao lado de exposição com previsão de inauguração no fim do ano. Confira todas as regras e participe!

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