Promissora, economia de baixo carbono requer planejamento imediato

6 de junho de 2016 | COP 21, Notícias

jun 6, 2016 | COP 21, Notícias

A Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, da qual o IPAM faz parte, apresentou na semana passada, em um evento no Rio, três estudos que analisam vantagens competitivas para o Brasil na economia de baixa emissão de carbono, a partir de oportunidades na recuperação de florestas e na agropecuária. Os resultados apontam para a necessidade de investimentos de bilhões de dólares, com retornos econômicos e sociais também dessa ordem de grandeza. A adoção desse caminho se constitui numa saída estratégica no atual momento de reestruturação política e econômica do país, além de contribuir para o cumprimento dos compromissos firmados no Acordo de Paris.

“Os trabalhos simulam cenários de modo bastante concreto, apontando o calibre de investimentos necessários e os retornos correspondentes em termos de produção, empregos, tributos e reduções de emissão de gases do efeito estufa (GEE)”, explica Roberto Waack, conselheiro do IPAM e sócio da Amata. “Tecnologias de baixa emissão de GEE aplicadas a setores como agricultura e pecuária, ao lado do manejo sustentável das florestas e do incremento no uso de biocombustíveis compõem uma nova ordem global de negócios, na qual a lógica da baixa emissão será cada vez mais valorizada no mercado internacional.”

A Coalizão Brasil solicitou ao Instituto Escolhas o cálculo de custos para a recuperação de 12 milhões de hectares de florestas. Ao Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces), o movimento encomendou dois trabalhos: uma análise sobre multiplicar por dez a área de manejo florestal rastreada e outra que considera a recuperação de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas e a integração agricultura floresta em outros 9 milhões de hectares.

Ampliar o manejo florestal é visto pela Coalizão como uma medida essencial no combate ao desmatamento ilegal. Em sua INDC (conjunto de compromissos voluntários que o Brasil levou ao Acordo de Paris), o país se comprometeu, até 2030, a acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia, a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas para múltiplos usos, bem como recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e implantar o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta em 5 milhões de hectares.

No caso da recuperação de pastagens e da integração da agricultura com outras atividades, os números consolidam também as intenções anunciadas no Plano ABC, uma política setorial, criada em 2010, para mitigação das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) e adaptação do agronegócio às baixas emissões. O horizonte das três pesquisas se estende até 2030, ano de referência para os compromissos selados em Paris.

“O propósito da Coalizão Brasil ao apresentar os cálculos é iniciar um debate com o poder público e a sociedade, para concretizar as oportunidades da economia de baixo carbono no mercado que existe hoje”, afirma Marcelo Furtado, diretor executivo do Instituto Arapyaú. Para identificar as principais variáveis e estabelecer parâmetros, equipes multidisciplinares do Instituto Escolhas e do GVces (economistas, agrônomos, administradores, entre outros especialistas) contaram com o suporte inicial dos Grupos de Trabalho da Coalizão Brasil.

“Sabemos que há muitas prioridades na agenda governamental, mas o país precisa reunir esforços para concretizar os compromissos que assumiu perante a sociedade brasileira e a comunidade internacional, além de compreender os ganhos que podem advir do cumprimentode tais metas”, destaca Tasso Azevedo, coordenador do projeto Mapbiomas e do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa).

O Acordo de Paris foi assinado pelo Brasil em abril e é um compromisso de Estado. O próximo passo interno é sua ratificação pelo Congresso Nacional. “A premissa de baixa emissão movimentará inúmeras engrenagens de um mecanismo complexo e multissetorial. Os estudos encomendados pela Coalizão trazem perspectivas pragmáticas nessa nova frente global”, diz Celina Carpi, da Libra Holding e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos. “Os resultados dos estudos apontam um potencial de ganho, apenas nessas três frentes estudadas, superior a R$ 180 bilhões, além de centenas de milhares de empregos gerados”, destaca.

A outra face dessa moeda se concretiza com ganhos ambientais, inclusão social, geração de empregos e renda. “O Brasil tem a porta aberta para fazer uma mudança fundamental em sua aposta de futuro. A economia de baixo carbono traz também a oportunidade de promover um desenvolvimento com maior inclusão social, à medida que as mudanças nos padrões de investimento, tecnologia, produção e consumo também sejam direcionados para erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades. É possível desenvolver modelos de negócios inclusivos, tanto na agricultura quanto no setor florestal”, afirma Fátima Cardoso, gerente geral do Solidaridad Network no Brasil.

Nesse sentido, a Coalizão Brasil faz questão de destacar que os cenários apresentados são apenas um ponto de partida. “Políticas públicas favoráveis à economia de baixo carbono, crescimento do mercado mundial para produtos verdes, linhas de financiamento específicas, evolução tecnológica e gestão internacional de produtos com baixa emissão são algumas variáveis que farão oscilar positivamente a balança de oportunidades e riscos”, pontua a economista Marina Grossi, presidente do CEBDS.

Os estudos foram alvo de debates no seminário Oportunidades Econômicas no Contexto das Mudanças Climáticas, realização conjunta da Coalizão Brasil com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e o Museu do Amanhã, entre os dias 1º e 2 de junho, na cidade do Rio de Janeiro

Veja também

See also