Durante o “Workshop para Construção Conjunta do Conhecimento em Transição Econômica”, André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), destacou a necessidade de reavaliar e modernizar o modelo econômico da Amazônia como forma de garantir sua preservação. O evento apresentou propostas para a melhora da economia sustentável na região e contou com a participação de tomadores de decisão, secretários de meio ambiente e pesquisadores da Amazônia Legal.
“A caixa de ferramentas para reduzir o desmatamento é a lei, mas para manter o desmatamento baixo precisamos substituir um modelo econômico que se mostrou insuficiente para criar um sistema sustentável na Amazônia. Trocar o garimpo por uma bioeconomia, trocar a pecuária de grande extensão por uma pecuária mais intensificada. Temos que criar um modelo que seja positivo e faça sentido para a população da Amazônia”, destacou Guimarães.
A agropecuária foi a categoria de uso do solo que mais cresceu na Amazônia, segundo dados da Rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte. Desde 1985, mais de 50 milhões de hectares de pastagens e lavouras surgiram na região, acelerando os índices de desmatamento no bioma. Além do agronegócio, aumentaram também práticas ilegais, como a grilagem de terras e o garimpo, que ameaçam terras indígenas, unidades de conservação e florestas públicas não destinadas.
“Precisamos destinar florestas públicas, garantir acesso a tecnologias sustentáveis na produção agrícola, melhorar a forma como investimos na região e pagar por aqueles que desempenham serviços ambientais essenciais para o Brasil. No IPAM temos uma conta preliminar de que, ao longo de 10 anos, isso tudo custaria U$ 250 bilhões, mas tem o potencial de trazer U$ 400 bilhões em lucros e investimentos através da economias sustentável na Amazônia, intensificação da produção e da bioeconomia”, contabiliza.
Amazônia sustentável
Por conta da dificuldade do acesso e a falta de recursos nos municípios, pesquisadores do IPAM apontam a falta de assistência técnica rural como um catalisador para os problemas de produtividade na Amazônia Legal. Segundo o diretor executivo, sem acesso a tecnologia e mercado para a comercialização de produtos da agricultura em pequena escala, o território se torna mais vulnerável aos crimes ambientais e menos preparado para as mudanças no clima.
“Em torno de 28% do desmatamento na Amazônia acontece na agricultura familiar porque a maioria dessas áreas nunca viu um técnico agrônomo, um veterinário, nunca teve nenhum tipo de assistência técnica. Isso faz com que falte tecnologia, falte escoamento da produção que causa dificuldades econômicas e torna mais comum uma produção pouco sustentável e pouco otimizada”, alerta.
Entre 2004 e 2017, o PAS (Projeto Assentamentos Sustentáveis), coordenado pelo IPAM, buscou desenvolver uma agricultura familiar sustentável no Pará. A iniciativa demonstrou que a combinação entre tecnologia e assistência técnica rural gratuita aumentou a renda das famílias envolvidas em 140%, além de reduzir em 80% o desmatamento nessas propriedades.
As mudanças no modelo econômico na região também passam por implementar alterações no padrão de investimentos públicos para a região, priorizando práticas sustentáveis, voltadas para o aumento do valor agregado da produção e que atendam aos interesses da população local.
“Vamos ter que falar com a pecuária porque ela emprega 4 milhões de pessoas na Amazônia. Essa pecuária é extremamente ineficiente, com menos de 1 cabeça por hectare. Precisamos otimizar essa produção em áreas menores. O Plano Safra, por exemplo, foi desenhado há décadas, estruturado com a agricultura de décadas atrás em mente e prezando pela expansão da área plantada subsidiada com dinheiro público. Isso precisa ser redirecionado para inovações técnicas, intensificação da produção em menos área e ajuda para a bioeconomia”, defende.