A alta na temperatura, uma das consequências do desmatamento, tem alterado o funcionamento da floresta amazônica e a vida dos povos que fazem do bioma a sua morada, especialmente a dos indígenas. O assunto foi o foco do episódio de estreia do segundo ciclo do Amazoniar, transmitido na última semana.
Segundo a presidente do Comitê Regional do IMC (Instituto de Mudanças Climáticas) e GCF (Comitê Regional para Parcerias com Povos Indígenas e Outras Populações Tradicionais), Francisca Arara, uma das convidadas do evento, os povos indígenas já sentem no dia a dia os efeitos das mudanças climáticas.
“Temos visto alagações inesperadas, que levam toda a plantação, pragas que acabam com a roça, além do aumento da temperatura, que afeta a produção e faz com que os animais desapareçam”, explica Arara.
A diretora do programa de água do Woodwell Climate Research Center, Márcia Macedo, destacou a importância da floresta para o processo de mudanças climáticas e o papel dos indígenas para a sua conservação. “As árvores armazenam uma grande quantidade de carbono, além de retirá-lo da atmosfera, e esses povos são muito eficazes em manter a floresta em pé e valorizar todos os seus serviços ecossistêmicos.”
Durante a transmissão, Macedo citou um estudo publicado em 2020 pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) que comprova que onde há mais demarcação de terras na América Latina e mais respeito aos direitos indígenas, menor é o desmatamento. “Essas florestas só existem hoje, na Amazônia, por conta da ação desses povos”, complementou.
Integrante do povo Shawãdawa, no estado do Acre, Arara explicou que a relação entre os indígenas e o meio ambiente é diferente. “Temos outro jeito de pensar o uso do nosso território, das nossas florestas. Procuramos preservar a biodiversidade como um todo”. Ela afirmou que para usar a terra há um plano de gestão territorial e ambiental. “Temos também o trabalho dos agentes agroflorestais indígenas, que ajudam no reflorestamento, cuidam das nascentes das águas e das matas ciliares, além das hortas medicinais e orgânicas.”
Macedo endossou o discurso e defendeu que é necessário, ainda, combater a narrativa de que povos/terras indígenas e a manutenção da floresta são barreiras para o progresso. “Além de ser uma questão de direitos humanos e de legalidade, ao desmatar, o processo de mudanças climáticas é acelerado e o setor agrícola, que precisa de chuvas, é afetado”, alertou a pesquisadora.
Como lembrete, Arara reforçou a importância da presença indígena em debates deliberativos e que se referem aos seus direitos. “Precisamos levar nossa voz, sermos ouvidos e respeitados, pois o tema nos afeta direta e indiretamente. Não é errado desenvolver, mas precisamos pensar como fazer uso da floresta de uma forma organizada”, ponderou.
Amazoniar
O projeto surgiu como um canal de diálogo global para discutir a Amazônia, dar visibilidade aos impactos sentidos pela floresta e refletir de que modo eles afetam as relações entre o Brasil e o mundo.
A nova temporada aborda as comunidades indígenas e suas perspectivas sobre os direitos humanos, a conservação florestal, a mudança do clima e o desenvolvimento sustentável da região amazônica.
As transmissões serão ao vivo, em português (com tradução para o inglês) e acontecerão duas vezes por mês. Confira o calendário dos próximos episódios e quais temas serão debatidos:
2 de Junho – Ep 07: Clima em mudança: os efeitos sobre os direitos dos indígenas da Amazônia.
17 de Junho – Ep 08: O papel dos povos indígenas na conservação da floresta.
1º de Julho – Ep 09: O que podemos aprender com as ciências tradicionais?
15 de Julho – Ep 10: Integração Pan-amazônica: inúmeras culturas em um só bioma.
Assista aos episódios anteriores
O primeiro ciclo temático da série focou nas relações comerciais entre Brasil e Europa. Você pode conferir todos os episódios no canal do IPAM no YouTube.